quinta-feira, 19 de outubro de 2017

A (de)igualdade entre os jogadores e as jogadoras - rules of market!

Nos últimos tempos, assim quase sem dar por isso, temos ouvido falar de futebol feminino com diferentes abordagens. 

No Brasil, uma das suas maiores lendas (Cristiane) renunciou à seleção por entender que a Confederação Brasileira de Futebol não protege nem apoia o futebol feminino como deve ser, não disponibilizando condições de trabalho que permitam o seu desenvolvimento e progressão. Outras seguiram o seu exemplo.

Nos países nórdicos (Noruega e Dinamarca) mas já antes nos Estados Unidos da América, o foco está centrada na igualdade de pagamento entre as seleções masculinas e femininas. As primeiras conseguiram algo inédito a nível mundial onde a disponibilidade (generosidade também, mas isso é cultural) deles permitiu que elas alcançassem a igualdade na percentagem dos pagamentos) e as terceiras viram as suas reivindicações ouvidas pela respetiva federação e obtiveram uma melhoria substancial nos valores a receber. As segundas, por não conseguirem um acordo com vista à melhoria dos abonos, já teve consequências graves com o cancelamento de um jogo particular (contra a Holanda) e, o seu auge agora, em que as jogadoras não irão disputar o jogo de qualificação para o Campeonato do Mundo 2019 agendado contra a Suécia. É expectável que a FIFA tenha mão pesada nesta tomada de posição extrema nunca antes observada.

Após este resumo das noticias... percebo perfeitamente as posições assumidas pelas jogadoras das seleções acima descritas. Considero uma imoralidade o que se paga aos jogadores em comparação com as jogadoras. Em alguns caso, as equipas masculinas não têm qualquer palmarés digno de registo comparativamente com as seleções femininas (veja-se os exemplos das seleções masculinas do EUA e da Noruega...).

É uma imoralidade, é verdade mas quem "manda" é o mercado. A começar pelos organismos que regem o futebol europeu (UEFA) e mundial (FIFA), em que os prémios que atribuem às competições masculinas e femininas em nada se assemelham. A desigualdade começa logo por estes com enormes responsabilidades. Há perspetiva de mudança? Dificilmente se assistirá a essa mudança nos anos mais próximos (por mais que sejam as tentativas de aproximação, ainda que remotas).

Tomemos por exemplo os prémios atribuídos para o vencedor e finalista da Champions League masculina e feminina, na edição de 2016/2017: 15 milhões para o vencedor e 10 milhões para o finalista vencido; 250 mil euros para o vencedor e 200 mil euros para o finalista vencido, respetivamente (esta informação pode ser consultada no sítio da UEFA nos relatórios financeiros). Podemos colocar a questão na perspetiva das receitas que cada competição gera e, nesse caso, encontramos a justificação para tamanha diferença na distribuição de prémios. As receitas televisivas, de publicidade e de venda de bilhetes (para falar nas mais óbvias) não são comparáveis.

E este deve ser o raciocínio que as várias federações nacionais fazem quando são confrontados com as reivindicações das jogadoras. Qual é o retorno (financeiro, o único que interessa no final) que as seleções femininas têm nas federações? Talvez nenhum ou muito pouco. Peguemos nas mesmas rúbricas de receitas e encontramos mais respostas. Não é comparável a dimensão entre uma realidade (masculina) e outra (feminina). Ora, se não são geradoras de valor, então não poderão aspirar a receber o mesmo que as seleções masculinas, certo? Errado!

Se for receber o mesmo em valor absoluto dificilmente isso algum dia acontecerá. Mas podem sempre receber o mesmo em valor percentual. A questão da igualdade ficará assegurada. O "bolo" em que é aplicada a percentagem será, obviamente, diferente e provém das rubricas assinaladas e outras que se enquadrem nas receitas previstas. Como se determina o "bolo" para cada uma das seleções é o grande desafio colocado aos responsáveis federativos. No caso norueguês, os próprios jogadores abdicaram de receber determinado valor pelos direitos de imagem e foram canalizados para as seleções femininas.

Toda e quaisquer reivindicações das jogadoras terá sempre o meu apoio incondicional e é uma longa batalha. Mas a procura de melhores e mais condições para poderem desenvolver as suas capacidades em prol do seu pais e/ou clube é sempre de aplaudir e reforçar.

Mas o mercado não se compadece com estas coisas de igualdade entre os géneros!

terça-feira, 10 de outubro de 2017

A radiografia às equipas da Liga Allianz - em fase de preparação

No dia em que, juntamente com a Anabela Mendes, decidimos criar um espaço de partilha onde se pudesse abordar o futebol feminino nacional nas suas várias vertentes não nos ocorreu (pelo menos não a mim), que existissem tantos obstáculos quando se solicita informação para que o que se escreve tenha sentido e reproduza o mais fielmente possível a realidade.

Vem isto a propósito de nos termos proposto (tentar) traçar uma radiografia das equipas que competem na Liga Allianz e perceber as suas disparidades e extremos. uma vez que sabemos, por experiência própria, que a realidade não é igual para nenhuma equipa. Cada qual tem as suas características, enquadramentos completamente diferentes nos clubes que representam e que são mais as dificuldades encontradas que as facilidades oferecidas.

Mas isto é o nosso conhecimento, empírico e sem a validação das equipas. Não é neste contexto que desejamos traçar a tal radiografia.

Começamos a 20/09/2017 a solicitar um conjunto de informação que nos parece que não tem nada de confidencial (se a quiséssemos saber, acreditem que a saberíamos por várias vias, mas entendemos que não é esse o caminho).  A 21/09/2017 pedimos a colaboração ao Portal do Futebol Feminino no envio do nosso pedido para todas as equipas da Liga Allianz, dado que não possuíamos os contactos de todas. Entre 25 e 29 de setembro, voltamos a solicitar a informação. Pelo caminho, através das paginas das equipas no Facebook fomos pedindo os contactos e a remeter o pedido, novamente. Finalmente, a 09/10/2017, voltámos a importunar quem nos pode ajudar.

O que conseguimos até agora: metade das equipas da Liga Allianz já nos disponibilizou a informação solicitada. Agradeço desde já a estas seis equipas as suas respostas. Não o farei, neste texto, individualmente pois quero acreditar que ainda teremos oportunidade de receber a informação de mais clubes e, nessa altura, farei o agradecimento devido e personalizado.

Se podia traçar a tal radiografia com estas seis equipas? Podia, a informação que já dispomos é tão rica que já seria uma aproximação à realidade. Estatisticamente falando seria uma realidade significativa dado que já dispomos de 50% da amostra total. Melhor que nas últimas eleições autárquicas.

Mas, vamos aguardar mais um tempo, aproveitando que a Liga Allainz vai ter uma paragem de duas semanas acreditando que os responsáveis, dirigentes e/ou treinadores terão mais disponibilidade para nos auxiliarem.

Se, porventura alguma das individualidades acima citadas ler este texto e considere que não teve conhecimento no nosso pedido agradeço-lhes de imediato que possam remeter-nos a informação para o endereço eletrónico passesemprofundidade@gmail.com.
Deixo-vos o texto que foi remetido.

"Caríssimos,

Em conjunto com a Anabela Mendes, decidimos escrever/pensar sobre o futebol feminino nacional e partilhar com todos que nos queiram acompanhar neste desafio. Também esperamos que se tiverem alguma ideia de algum tema que considerem pertinente nos façam chegar  (https://passesemprofundidade.blogspot.pt/). Acima de tudo queremos que o que escrevemos, quando não forem opiniões pessoais, tenha rigor e seja o mais próximo da realidade que atualmente se assiste. 


Assim, com a finalidade de escrever um texto que trace uma radiografia sobre as diferenças existentes nas condições proporcionadas às atletas (e treinadores) entre as várias equipas da Liga Allianz gostava que me facultassem alguma informação.

Não pretendo identificar individualmente as equipas (não é essa a ideia) mas sim poder escrever sobre os extremos e sobre as diferenças atuais, bem como reportar a períodos anteriores.

Qualquer informação que me possam dar disponibilizar será tratada com todo o cuidado e não será divulgada.


Agradeço a V/ atenção na expetativa de que me possam facultar informação relativa a:

- horários de treinos e periodicidade;
- apoio clínico;
- apoio logístico do clube (disponibilização de campo de treino, material desportivo...)
- transportes (de atletas para treino e dias de jogo);
- viagem de véspera para jogos (quando aplicável);
- refeições em dias de jogos;
- patrocinador oficial.

Reforço, mais uma vez, a finalidade deste pedido e de ser efetuado a titulo pessoal e com um objetivo definido.

A vossa colaboração é fundamental pois sem ela, nada feito.

Obrigada,
Maria João Xavier"

Espero, sinceramente, que seja possível concluir com a totalidade das equipas o que pretendemos. Até porque é algo que não está feito e que poderá dar outra dimensão das diferenças entre as várias equipas que disputa a Liga Allianz.

terça-feira, 3 de outubro de 2017

InStat - uma plataforma ao seu dispôr

A época 2017/2018, segunda da Liga Allianz, começou com a habitual Supertaça e no dia a seguir com um workshop ministrado pela FPF com todos os clubes inscritos na prova. Refira-se que a FPF convidou os clubes a estarem presentes no jogo e, inclusive, promoveu a sua estadia num hotel em Coimbra, para não terem de se deslocar de longe no próprio dia do workshop - uma prova inequívoca da importância que a FPF dá ao estreitamento de relações com os participantes da Liga Allianz.
 
De todos os pontos discutidos, sobressaiu a decisão de gravar todos os jogos e posterior colocação numa plataforma acessível a todos os Clubes. Só esta inovação já faria sorrir muitos clubes. Mas a FPF foi mais longe. Juntou-lhe o programa InStat, que faz uma análise individual das jogadoras e uma análise comparativa da prestação das equipas em confronto no jogo. Uma pérola!
 
Imagino que com esta inovação, a FPF procure dotar os clubes de uma ferramenta que ajude os treinadores a melhorar a performance das suas equipas e, consequentemente, da Liga no geral. Uma ajuda que é transversal e não interfere directamente com a política desportiva de cada clube.
 
Na verdade, mais do que uma ajuda, esta oferta da FPF constitui um desafio. Uma ferramenta que permite crescimento na forma como se vê a própria equipa e os adversários - ajuda; mas que tão mais eficaz se torna, quanto melhor ela for entendida por parte dos treinadores - desafio.
Mas o desafio não se fica por aqui. Talvez a parte maior caiba às jogadoras.
Sim, de nada adianta um grande trabalho de observação, se as jogadoras não estiverem disponíveis mentalmente para aceitar as indicações e colocarem em prática o que os treinadores pedirem.
 
Em resumo, trata-se de uma grande ferramenta de apoio, que estou certa virá acrescentar qualidade ao treino e aos jogos.
 
Com menos meios, mas com um trabalho apurado na instrução da sua equipa sobre as características das adversárias, já na longínqua época 2008/09 a Helena Costa foi com o Odivelas (2ª divisão) ganhar uma eliminatória da Taça de Portugal ao todo poderoso 1º de Dezembro.