quarta-feira, 30 de maio de 2018

Sporting CP venceu a Taça de Portugal Feminina num jogo emotivo

Triunfo por 1-0 após prolongamento, dá a Taça ao Sporting

Os 11.714 espetadores que se deslocaram ao Estádio Nacional para assistir ao jogo não deram o seu tempo por mal empregue.

Não se pode dizer que tenha sido um jogo de encher o olho, mas foi sem qualquer dúvida emotivo, disputado em toda a dimensão do campo, com ambas as equipas a quererem ganhar. E como antecipei numa outra ocasião, o jogo acabou por se decidir nos detalhes, a exemplo do observado em outros encontros entre estas duas equipas.

Entrou melhor o SC Braga, a impor o seu jogo e desde logo começou a brilhar aquela que será a grande responsável pelo clube minhoto ter saído derrotado: Patrícia Morais, que negou todas as hipóteses criadas pelo SC Braga para marcar (e foram umas quantas flagrantes), especialmente em lances de bola parada. Só não conseguiu chegar à bola cabeceada por uma jogadora do SC Braga (Francisca Cardoso), que resultou num golo efusivamente celebrado pelas atletas e comitiva bracarense, mas que o VAR viria a anular por fora de jogo.

O tempo passava e percebia-se que ambas as equipas não queriam arriscar e iríamos ter prolongamento. O cansaço começava a dar sinais (a época já vai longa e ainda não terminou para um conjunto de jogadoras) e sairia vencedora quem fosse mais eficaz nas oportunidades que criasse. O golo de Diana Silva é de levantar qualquer estádio em qualquer parte do mundo, com um pontapé fenomenal a mais de 30 metros da baliza adversária, apanhando todos de surpresa, inclusive a guarda-redes do SC Braga (Rute Costa), que bem se esticou.

O SC Braga não baixou os braços em momento algum e na etapa complementar do prolongamento viu Patrícia Morais negar, em duas situações consecutivas, remates que levavam o selo de golo.

Até ao final, o Sporting CP limitou-se a gerir o tempo de jogo que faltava, mas ainda teve força para, num remate bem colocado, enviar a bola ao poste.

No fim, é o que se sabe, festa das verde e brancas contrastando com a enorme tristeza das jogadoras do SC Braga, que estavam inconsoláveis por ver fugir a conquista da Taça de Portugal.

Parabéns ao Sporting CP por mais uma conquista para o seu historial. Parabéns, também, ao SC Braga por ter sido um adversário que vendeu muito cara a vitória da equipa leonina.

Estas equipas voltam a encontrar-se para a disputa da Supertaça no arranque da próxima época. Agora, tempo para recarregar baterias, preparar a nova época e renovar objetivos.

Até setembro!

[Texto de Maria João Xavier, originalmente publicado no sítio do Sindicato dos Jogadores]

domingo, 27 de maio de 2018

A Festa do Futebol volta ao Jamor – Final da Taça de Portugal Feminina

Tenho assistido com enorme perplexidade aos acontecimentos que têm envolvido a instituição Sporting CP.

O ambiente tenso que se vive em Alvalade não permite serenidade para nenhuma das modalidades que ainda se encontram em competição e com títulos para conquistar. Mas, mais preocupante (na minha perspetiva) é como vão preparar a próxima época com tamanha instabilidade. Porque não haja ilusões, o Sporting CP tem 55 modalidades, todas elas com provas dadas e títulos conquistados, mas a força motriz dos clubes é o futebol profissional, que gera receitas e convence patrocinadores.

Mas o título deste texto diz respeito à segunda competição em Portugal relativamente ao futebol feminino e que garantidamente o Sporting CP vai querer ganhar e proporcionar mais uma alegria aos seus adeptos e associados. Do outro lado estará o SC Braga, uma equipa serena e que tem preparado a grande final sem o reboliço de emoções (que também é disso que se trata) e que, claramente, irá aproveitar (se a oportunidade surgir) as mazelas que estas últimas semanas têm deixado em qualquer atleta que represente o clube verde e branco.

Acredito que a equipa técnica do Sporting CP esteja a fazer os possíveis para proteger o grupo de trabalho, a desenvolver o seu trabalho e a preparar o jogo do próximo domingo com enorme cuidado. Ao contrário do ocorrido na mesma competição na versão masculina, no passado dia 20 de maio, não estamos perante dois adversários com qualquer tipo de desnível... Nem o Sporting CP é o Golias e muito menos o SC Braga será em momento algum o David. A época assim mostrou que a reconquista da Liga Allianz pelo Sporting CP se decidiu em detalhes, especialmente no jogo em Braga. Espero que a final do próximo dia 27 não se resolva em detalhes, mas sim que seja mais um excelente espetáculo de futebol.

O empate não será resultado possível e subir à escadaria enquanto vencedor é algo inexplicável para qualquer jogadora e elemento da equipa técnica. O Sporting CP já viveu esses momentos a época passada enquanto equipa e tem no seu plantel atletas repetentes por outros clubes. O SC Braga vai garantidamente desenvolver todos os esforços para impedir o clube de Alvalade de repetir a façanha e, naturalmente, vai colocar em campo a estratégia que melhor se adequará para conquistar o primeiro troféu do seu historial após o regresso da modalidade ao clube.

É minha perceção que o Sporting CP irá sentir mais a responsabilidade do jogo e o peso que ele acarreta para os adeptos e associados leoninos, que necessitam urgentemente de uma vitória e outro troféu para poderem serenar os ânimos que tão exaltados têm andado.

O SC Braga "não tem nada a perder", sentindo igualmente a responsabilidade do jogo, mas sem ter a carga emocional adicional que as jogadoras do Sporting CP vão ter de lidar do início ao fim do jogo.

Desejo sinceramente que os adeptos de ambos os clubes se desloquem massivamente ao Jamor e celebrem a Taça com a festa que a caracteriza e que consigam colorir o Estádio Nacional com as cores dos dois clubes.

A moldura humana (nada desprezível) da época passada com mais de 12 mil espetadores (tomara grande parte dos clubes da Liga NOS terem essas assistências em todos os seus jogos) será sempre uma das imagens que guardo com maior carinho e orgulho de um jogo de mulheres e raparigas.

Que seja mais um dia memorável desta modalidade que nos apaixona.

Bom jogo e boa sorte para todos os intervenientes!

(texto publicado originalmente no sítio do Sindicato dos Jogadores).

"Minas de futebol" - o convite do Offside Lisboa

Offside Lisboa, um Festival de Cinema e Bola, convidou-nos para fazermos a apresentação do filme "Minas de Futebol". Para um público maioritariamente desconhecedor da realidade do nosso futebol feminino, procurámos com o relato da nossa experiência pessoal preparar o terreno para a projecção do filme. Fica aqui um pequeno vídeo para quem não esteve lá e para memória futura. 



quinta-feira, 3 de maio de 2018

Carla Couto, dá-me um autógrafo!

 

Dela, Carla Couto, já toda a gente minimamente ligada ao futebol feminino, e não só, ouviu falar.
O seu talento acima da média fê-la projectar-se ao nível do Olimpo português: a mais internacional, numa altura em que os jogos de selecções não eram tão frequentes, marcadora de golos acima da média, aliados a uma grande elegância dentro de campo.
Partilhámos o balneário, em 1992/93, no Sporting Clube de Portugal. Ela uma jovem cheia de irreverência, alguma indisciplina que não ofensiva, de sorriso no rosto a roçar alguma timidez. A acompanhá-la, indefectivelmente, o pai. O senhor Couto, homem afável e sempre com uma palavra de apoio para todas as jogadoras. (Saudades de pessoas como ele, no futebol).
Aí começava aquela que seria uma carreira brilhante e que todos já conhecem.
O que seria expectável, quando deixasse de jogar e à semelhança de quase todas as ex-jogadoras, é que ela se remeteria a ocupar a sua vida com qualquer outra coisa e, hoje, já só vagamente se falaria dela - apesar do título de jogadora do século.
Mas a Carla, fazendo jus aquela imprevisibilidade que fazia dela uma jogadora muito difícil de travar, surpreendeu-nos a todos. E, à boleia de um Sindicato de Jogadores presidido por alguém que sabe que só com os melhores os frutos aparecem, iniciou um novo percurso no futebol: o de embaixadora do futebol feminino. E quando se ouve a palavra "embaixador/a" fica-se sempre com a sensação de que é um cargo decorativo. Para outros talvez seja, mas não para a Carla. Não para a Carla Couto.
A Carla, aquela que brilhava lá na frente, após o trabalho esforçado de toda a equipa, aquela que durante anos não defendia, desta feita arregaçou as mangas, pegou nas ferramentas que o Sindicato lhe deu e transformou-se no maior veículo vivo de promoção do futebol feminino. Através de visitas às equipas, falando com as jogadoras, apelando ao seu sentido associativo, alertando para os perigos do deslumbramento, mas defendendo as suas condições com veemência junto do próprio Sindicato, percorrendo o país sempre solícita a quem por ela chama, a sua dedicação à modalidade é a todos os níveis ímpar e inatacável.
No passado dia 1 de maio, em Penacova, foi-lhe feita uma homenagem. Daquelas que perduram no tempo. Fizeram um torneio com o seu nome e atribuíram o seu nome a uma academia que pretende dedicar-se ao futebol feminino. Não poderiam escolher melhor figura e o que se deseja é que aquela placa ali se mantenha por muitos e bons anos dando frutos. E quem sabe, dali não saia uma sucessora.
Mas, de todo o evento, aquilo que mais me tocou foi a sessão de autógrafos.
Jovens jogadoras, levadas pelo entusiasmo do que ouviram contar e do que viram, à espera de uma recordação. Mas, e aqui surge o mais importante, esperando pela sua assinatura, pequenos jogadores atentos. E não estavam à espera da assinatura de uma jogadora do seu clube - isso seria demasiado fácil de acontecer.
Não. Estavam ali à espera do autógrafo daquela que eles ouviram falar que tinha sido uma grande jogadora. Sem preconceitos, sem vergonha, assumidamente - realmente, teremos sempre a aprender com as crianças. E este jovens jogadores, serão adolescentes, adultos e pais. E, certamente, olharão para o futebol feminino com respeito, com igualdade.
E esse mérito está, não só por causa do seu talento, mas porque a Carla é uma pessoa cheia de carisma. Simples, com uma alegria infantil, contagiante, que faz eco junto dos mais novos. E eles sentem-se bem recebidos e em pé de igualdade.
 
E, por tudo isto, pela gratidão que tenho por quem tão bem cuida de um futebol feminino tão caro para mim...
 
... Carla Couto, dás-me um autógrafo?
 
 
 
[créditos fotográficos Sports and Girls]