Ontem fui a Alvalade ver o jogo.
Claro que a expetativa era uma e a realidade, infelizmente, foi outra. De tática e estratégia futebolística percebo pouco mas consigo destinguir um bom espetáculo de futebol (independente do género, o futebol é universal) de um que fica muito longe disso. O jogo de ontem, em Alvalade, na minha humilde perspetiva insere-se na segunda categoria.
Os ingredientes estavam lá (quase) todos: jogo entre as duas melhores equipas a atuar em Portugal, recheadas das mais evoluídas jogadoras portuguesas, disputado num grande palco e transmissão televisiva.
Faltou só um que esteve presente na época passada: o Sporting CP precisava de ganhar para ultrapassar o SC Braga na tabela classificativa. Este ano, o cenário era inverso mas mesmo a vitória do SC Braga não provocaria alterações na classificação pelo que era expectável um jogo morno, a não ser que o SC Braga tivesse arriscado do inicio ao fim. Não começou mal (aos 2 minutos a Edite podia ter dado o mote na emoção que faltava a este jogo) mas ficou-se por aí (a Inês Pereira não fez uma defesa digna desse nome. O mesmo já não se pode dizer da Rute Costa, que fechou e bem a baliza do SC Braga evitando males maiores).
Talvez a falta deste ingrediente e o facto do Sporting CP jogar algumas horas depois na Amoreira, como líder da Liga NOS, tenha afastado o público de Alvalade. Ainda assim, os mais de 4500 espetadores mereciam melhor espetáculo. É verdade que não se pagou bilhete porque senão seria caso para dizer: devolvam o dinheiro.
Fui lendo aqui e acolá que foi um bom jogo de futebol, excelente para a promoção do futebol feminino nacional... lamento, discordo em absoluto. E não, não sou pessimista nem do contra. Sou é exigente por conhecer bem a realidade do futebol feminino nacional e o potencial de ambas as equipas.
Lamento, quer o Sporting CP quer o SC Braga deviam ter feito muito mais no jogo de ontem, nada estava em jogo (iluda-se quem pense que o SC Braga ganhando - fez pouco, muito pouco - ia fazer mossa para os lados de Alvalade ou "incendiar" a Liga. Acabou foi por sair "chamuscado").
O Sporting CP tinha obrigação de puxar dos galões e mostrar inequivocamente que está em primeiro lugar na tabela classificativa por mérito e direito próprio. Limitou-se a esperar e jogar o suficiente para manter a concorrência à distância. O que é, manifestamente, pouco, mas e daí talvez fosse o possível dado que há jogadoras claramente fora de forma, com cansaço acumulado (levam mais jogos nas pernas que as adversárias de ontem) e algumas até se percebeu que a jogar com evidentes limitações físicas (por exemplo, a Ana Borges).
A "culpa" de considerar que o jogo de ontem foi um jogo sem grande interesse é de ambas as equipas pois já nos presentearam com espetáculos emotivos do principio ao fim. Nem sempre bem jogados é certo mas com incerteza no resultado, frenesim constante (Final da Taça de Portugal, no Jamor, época passada? Esta época, em Coimbra, Final da Supertaça?). São competições diferentes mas racionalmente qual é a diferença? O SC Braga só tinha a ganhar se tivesse sido mais ambicioso. O Sporting CP teria que fazer pela vida.
Ambas as equipas mais não fizeram que anular-se uma à outra, tornando o jogo monótono e enfadonho por largos períodos. Num jogo entre as melhores equipas fazem-se apenas 5 remates dignos desse nome, repartidos pelas duas?!?
O futebol feminino nacional para crescer e consolidar a sua posição no panorama desportivo nacional precisa de jogos dinâmicos, emocionantes e disputadas até ao fim.
Iguais aos de ontem, seguramente, não farão regressar mais de 12000 espetadores a um estádio e, desta forma, ter todo um espetáculo dentro de outro.