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sexta-feira, 21 de junho de 2019

O grande desafio de Jéssica Silva

Créditos fotográficos: Olympique Lyonnais

Portugal, este pequeno país com uma média de 5000 jogadoras federadas, vai ter na época 2019/2020 quatro jogadoras em quatro clubes de topo mundial. Um feito incrível, atendendo ao número de praticantes e ao facto de se trabalhar com o intuito do seu aumento há menos de uma década.
Mais incrível é, quando se passa de duas para quatro em menos de um fechar de olhos. Cláudia Neto e Dolores Silva, no Wolfsburg e Atlético de Madrid, já eram emigrantes de luxo. Seguiu-se a Matilde Fidalgo neste final de época para o Manchester City e a grande novidade muito recentemente, questão de dias, da ida da Jéssica Silva para o Olympique Lyonnnais, mais conhecido entre nós só por Lyon.
Lyon, a equipa a que todas as jogadoras gostariam de pertencer. De dimensão galáctica, recheada de internacionais de todos os lados. O onze da selecção francesa tem habitualmente entre sete a oito jogadoras do Lyon, onde impera também uma das estrelas da selecção alemã, outra da selecção holandesa... enfim, uma equipa que é uma verdadeira constelação de estrelas.
E é aí, nesse quase Olimpo do futebol feminino, que vai entrar uma jogadora portuguesa. 
Alta, magra, de velocidade estonteante e um drible tão irreverente quanto imprevisível, capaz de “partir os rins” à experiente Wendie Renard logo na primeira jogada do primeiro treino, eis a Jéssica . Eis o seu cartão de visita. Eis as características pelas quais é tão conhecida e aplaudida. 
Mas... será isso suficiente para conquistar um lugar na equipa do Lyon? Claramente, não! Até porque a linha avançada do Lyon é fortíssima. 
O grande desafio que se impõe à Jessica, e que naturalmente ela estará bem alertada  para ele, ou não tivesse um empresário alemão, conhecido pela sua eficácia tanto quanto pelo seu pragmatismo, será mudar o paradigma do seu futebol. 
Mudança essa que não implica abdicar daquilo em que é mais forte, mas que, só por si, não chega. Não chega, sequer, para a titularidade na selecção portuguesa. 
Às suas características naturais, a Jéssica terá de acrescentar um maior compromisso com os objectivos da equipa, melhorar a capacidade de decisão sempre que tem a posse de bola, e que nem sempre é dar um nó à adversária, aceitar o estrelato das colegas, viver com a pressão de estar no melhor do mundo, entre muitos outros desafios.
Aos 24 anos tudo pode mudar, para muito melhor, na sua carreira. O salto é gigante, o desafio imenso, mas a recompensa será directamente proporcional.
E o melhor de tudo é que não será só a Jéssica a ganhar. Será a imagem do futebol feminino português e a selecção nacional. 
Les jeux sont faits! 
Bonne chance, Jéssica! 


segunda-feira, 19 de março de 2018

O patinho feio entre os cisnes


Tem hoje lugar a Gala da FPF, Quinas de Ouro. 
Neste evento de organização hollywoodesca, onde tudo é feito com pormenor e glamour, atribui-se prémios de melhores do 2017 a todas as vertentes sob a égide da FPF.
No futebol feminino na categoria de melhores jogadoras estão nomeadas Ana Borges (Sporting Clube de Portugal - Internacional A, campeã nacional e vencedora da Taça de Portugal e Supertaça em 2017), Cláudia Neto (VFL Wolfsburg - Internacional A e campeã nacional da Suécia em 2017) e... Joana Vieira (Clube Futebol Benfica - melhor marcadora da Liga Allianz em 2017).
Muitos se questionarão, num ano em que tantas jogadoras se destacaram entre as competições nacionais e de selecções, o que faz uma jogadora que nem sequer é internacional no meio de dois monstros como a Ana Borges e a Cláudia Neto.
A questão será pertinente para os mais desatentos do futebol feminino. Ou aqueles que só começaram recentemente a acompanhar. Ou ainda aqueles que só conhecem as jogadoras internacionais.
Sem desprimor para um leque de grandes jogadoras que ficaram de fora destas escolhas, a nomeação da Joana Vieira só parecerá estranha porque no seu currículo não existe a palavra internacional.
Ser melhor marcadora da Liga Allianz, ou de qualquer competição é um título a todos os níveis muito cobiçado. Sê-lo num clube que não o Sporting ou o Braga, não é tarefa fácil. Alcançá-lo nos minutos finais do último jogo da Liga é a cereja no topo do bolo.
Estamos a falar de uma jogadora que chega ao futebol em 2013/2014, já com 23 anos, trazendo consigo grandes credenciais, em termos de títulos e internacionalizações, no... rugby.
O que me parece de realçar, nesta nomeação da Joana, é que vale a pena sonhar. Que no desporto, como na vida, a perseguição de objectivos e a luta permanente para alcançá-los, deve ser o que nos norteia.
Não sei, objectivamente, quais os critérios para as nomeações. Mas esta dá à estampa aquela jogadora que se faz por si própria, que mesmo tendo poucas hipóteses vai à luta, que leva os jogos até aos segundos finais, que respeita e é comprometida com o futebol feminino, predicados essenciais para que a modalidade continue a crescer.
E a provar que o motivo da nomeação não foi fortuito, com 18 jornadas feitas, a Joana está no top 3 das marcadoras com 17 golos (menos 4 que Diana Silva do Sporting e menos 3 de Laura Luís do Braga).
Em resumo, parece-me relevante que existam jogadoras nestes eventos que não são mainstream, de momento que o justifiquem, obviamente, porque o futebol feminino não sobrevive só com jogadoras internacionais. E todas as outras que não o são, porque o lote é naturalmente reduzido, não podem sentir que têm um papel menos importante nesta caminhada.
O futebol feminino precisa de todas as jogadoras, independentemente das suas qualidades, desde que gostem de trabalhar e procurem a superação em cada momento.

Parabéns, à Ana Borges e Cláudia Neto pelo seu gigante talento e por nos fazerem delirar sempre que desencantam uma jogada que ninguém espera, e parabéns à Joana Vieira por esse enorme talento que é a entrega ao jogo sem limites.
Parabéns à FPF pela dignidade dos prémios.