terça-feira, 11 de dezembro de 2018

O fim de um ciclo?


A derrota do Sporting CP na 10 jornada da Liga BPI representou a primeira do clube de Alvalade a nível interno, no tempo regulamentar, e caminha-se para o fim de um ciclo de domínio inequívoco da equipa verde e branca, desde que reativou a equipa feminina, na época 2016-2017.

Mas não é sobre o jogo grande da jornada 10 nem tão pouco sobre os clubes intervenientes que escrevo umas linhas. O tema é mesmo o encurtar dos ciclos de domínio de uma equipa sobre as restantes.

Logo à cabeça surge o nome de duas equipas com inegável palmarés: Boavista FC e SU 1º Dezembro. Foram, sem qualquer margem de duvidas, as grandes dominadoras do futebol feminino nacional durante décadas. Convém não esquecer que o clube do Porto é o único cuja equipa se mantém em atividade desde os primórdios do futebol feminino nacional (há mais de 30 anos). Quando apareceu a primeira competição da responsabilidade da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), em 1988, designada de Taça Nacional, o Boavista conquistou todas as cinco edições desta prova. 

O registo continuou com o aparecimento do Campeonato Nacional, cujas três primeiras edições foram para o clube da cidade invicta. Este ciclo do Boavista terminou na edição de 1995-1996, quando o Lobão "roubou" pela 1ª vez um troféu às axadrezadas. Mas, como seria de esperar, o Boavista volta a conquistar o Campeonato Nacional logo na época seguinte, que marca também o último que conquistou (1996-1997).

Nas épocas seguintes, entre 1997-1998 e 2000-2001, o Gatões (Matosinhos), conquistou três Campeonatos Nacionais, sendo que o último (2000-2001) permitiu que fosse o primeiro representante nacional na primeira competição de clubes da UEFA.

O troféu da época de 1999-2000 representou o primeiro dos 12 campeonatos nacionais que a SU 1º Dezembro conquistou, sendo 11 consecutivos (2001-2002 a 2011-2012), marca impressionante e que, dificilmente, nos próximos anos será repetida ou ultrapassada.
Com o evoluir das exigências, em 2004, surge a primeira edição da Taça de Portugal feminina, cujo primeiro vencedor foi a SU 1º Dezembro (que voltaria a repetir o feito por mais sete ocasiões). À SU 1º Dezembro apenas faltou a conquista de uma Supertaça Feminina, mas quando a competição foi lançada já a SU 1º Dezembro tinha encerrado a sua equipa sénior, de longe a mais representativa do clube. Decisões, no mínimo, estranhas.
Quem aproveitou a queda livre da SU 1º Dezembro foi a Ouriense, que dominou nas duas épocas seguintes (2012-2013 e 2012-2014), conquistando também a Taça de Portugal em 2013-2014. Conseguiu, ainda, o feito histórico de ser até à data a única equipa portuguesa a ultrapassar a fase de mini-torneio da Liga dos Campeões feminina, passando à fase a eliminar.
Sucede ao Ouriense, o Clube Futebol Benfica, que conquistou dois campeonatos nacionais, duas Taças de Portugal e foi o primeiro clube a conquistar uma Supertaça, em 2014-2015.
Na época de 2016-2017, assiste-se às entradas do Sporting e do Braga e com eles a mudança completa do que eram as competições femininas até então. São formadas as primeiras equipas com jogadoras profissionais e a disputa fica resumida a estas duas. É que excluindo o domínio da SU 1º Dezembro, todas as épocas seguintes a incerteza do vencedor pairou até quase ao final.
Assiste-se, agora, ao final do domínio do Sporting. Poderá ser precipitada esta afirmação. É verdade, admito que sim, mas os cinco pontos de desvantagem que tem antes da final da primeira volta, deixa o clube leonino apenas com um troféu para conquistar, a Taça de Portugal, que depende única e exclusivamente de si.
Estaremos a assistir ao inicio do ciclo do Braga? Para já, está bem lançado para conquistar a sua primeira Liga.
É que para a Taça de Portugal há outro concorrente de peso e que nunca escondeu que o objetivo da época de lançamento era a conquista desse troféu: o SL Benfica.
Preparem-se que a próxima época vai ser, de longe, a mais emocionante de todas até agora. Três grandes clubes à procura de conquistar os troféus em disputa.
E os ciclos vão ser, seguramente, cada vez mais curtos.
(Texto publicado originalmente no Sindicato dos Jogadores).