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terça-feira, 7 de maio de 2019

Quo vadis, Sporting?


Quando tudo o que havia para conquistar nesta época já está ganho ou, não estando, o Sporting não está na luta - caso da Taça de Portugal, a questão impõe-se.

Interrompeu-se o ciclo vitorioso de cinco troféus nacionais consecutivos, conquista essa que o Futebol Benfica já tinha logrado alcançar. 

O equilíbrio será cada vez maior entre as equipas nacionais e os ciclos vitoriosos terão tendência a ser cada vez mais curtos, para bem da divulgação e promoção da modalidade. Perdeu, portanto, o Sporting uma ocasião de estabelecer um novo record.

Mas o que terá perdido mais?

Numa primeira análise percebe-se que foi perdendo gás, ao longo destes três anos. A equipa alegre da primeira época foi dando lugar a uma mais lenta, com um futebol cada vez menos atractivo. Apesar disso, foi na segunda época que teve uma maior facilidade em ser campeã. Muito por força dos seus talentos individuais, porque o Braga não conseguiu impor-se e as outras equipas não conseguem, ainda, fazer grande mossa a estas equipas profissionais.

Esta época foi o canto do cisne. A incerteza directiva do início de época trouxe alguma insegurança. E em duas penadas perdem dois objectivos: tentar passar a fase de grupos da Champions, por uma unha negra, sejamos justos, e a Supertaça. 

Tem de haver uma análise muito minuciosa quanto à composição do plantel e estrutura técnica, quando se ganha tudo em duas épocas. A saturação é uma coisa frequente nas equipas femininas, porque as mulheres precisam de projectos que as motivem. 

Houve claramente ao longo deste tempo uma falta de liderança consolidada, uma simbiose entre departamento e equipa técnica, e quando assim é não há projecto que resista. 

O Sporting precisa de gente nova, que areje o status quo da equipa sénior, sob pena de ficar a marcar passo mais uma época. Sendo que com a entrada mais do que certa do Benfica na Liga BPI, as dificuldades irão aumentar. 

Há matéria prima para o projecto do futebol feminino do Sporting continuar vivo e bem vivo, tanto nas seniores como na formação. E certamente não deixará de haver quem queira assumir a responsabilidade dos seus destinos.
 
Para bem do futebol feminino desejo que assim seja! 
 

segunda-feira, 25 de março de 2019

SL Benfica – SC Braga: a primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal BPI

(Foto: Anabela Brito Mendes/Sports and Girls)

Quem me conhece e acompanha o que vou escrevendo sabe que não abordo questões técnico-táticas de jogos de futebol. Isso fica para os entendidos, que não é de todo o meu caso. Mas, como adepta de futebol, creio que consigo diferenciar um bom jogo, daqueles de encher o olho de um jogo monótono e pouco atrativo.
Ora, o jogo que opôs o SL Benfica ao SC Braga, disputado no Estádio da Tapadinha, não sendo um jogo de encher o olho teve todos os ingredientes que o tornaram de nervos, emoções fortes, de enorme entrega das jogadoras de ambas as equipas e de incerteza no resultado até soar o apito final. Os milhares de adeptos que se deslocaram ao estádio (seguramente mais de 2500) e os que assistiram através da transmissão televisiva não saíram defraudados e assistiram a um espetáculo disputado no limite.
Foi o primeiro jogo para o SL Benfica contra uma equipa da Liga BPI também profissional e era aguardado com grande expetativa para se perceber, de forma definitiva, a real qualidade da equipa lisboeta. E, quem esperava ver a equipa encarnada com prudência para perceber como o jogo ia decorrer, enganou-se. Foi a equipa que entrou mais forte, a cometer menos erros, a ter mais posse de bola e à procura do golo, que surgiu com naturalidade à passagem do minuto 25, por Darlene. Um golo de belo efeito num remate de primeira após mau alívio da defesa bracarense. A mesma jogadora podia ter aumentado a contagem quase de seguida mas a bola saiu rente ao poste. O Braga, até ao golo do Benfica, mostrou-se uma equipa muito diferente do que já vimos esta época. Não conseguia ter bola, as suas jogadoras, aparentemente, acusaram mais a responsabilidade do jogo que as suas adversárias, os passes raramente tinham o destino certo e não conseguia assentar o seu jogo. O golo da igualdade surge de um lance de bola parada, onde a GR do Benfica não fica isenta de culpa, numa saída em falso, aos 37 minutos.
A etapa complementar revelou um Braga mais próximo do que é habitual, a conseguir manter a bola em seu poder (todavia sem nunca criar lances de perigo eminente para a baliza encarnada) e a obrigar as jogadoras do Benfica a um desgaste físico adicional na procura da mesma. O Braga trouxe ao de cima a sua maior experiência mas sem nunca amedrontar a equipa encarnada. O melhor da tarde estava guardado para o minuto 68 com o monumental golo do Braga, na marcação de um canto direto pela Ágata Pimenta. O Benfica não desistiu e voltou à carga à procura do golo do empate, mas deparou-se com uma barreira chamada Rute Costa (com a segurança que lhe é reconhecida manteve a sua baliza trancada) ou com a pontaria desafinada das suas jogadoras. Mesmo sobre o apito final, num livre ainda se gritou golo pelos adeptos benfiquistas mas foi ilusão ótica, já que a bola saiu ao lado, num cabeceamento quase perfeito de Tayla.
A diferença neste jogo, em jeito de resumo, foi o aproveitamento por parte do Braga das bolas paradas e a sua maior experiência e ritmo competitivo. Não se iluda quem pense que isso não ficou demonstrado. O Benfica não tinha tido, até ao jogo de ontem, necessidade de correr atrás resultado, nunca tinha estado na posição de desvantagem e não era obrigado a mexer na sua equipa ou mudar estratégia para recuperar. Ou seja, todas estas variáveis nunca tinham sido abordadas, em contexto de jogo, quer pela equipa técnica quer pelas jogadoras. Foi toda uma realidade nunca vivenciada e isso só se treina e aprende quando acontece.
(Foto: Anabela Brito Mendes/Sports and Girls)
A eliminatória está longe de estar decidida. O Benfica vai a Braga discutir a passagem à final da Taça de Portugal BPI de igual para igual. O resultado de ontem de nada lhe serve para que consiga alcançar um dos seus objetivos na época de lançamento. Dia 20 de abril espera-se outro jogo de emoções e nervos à flor da pele.
Uma coisa é certa, o futebol feminino nacional precisa de muitos mais jogos deste calibre, dimensão e competitividade para continuar a evoluir.
Que ninguém duvide disso!

sexta-feira, 22 de março de 2019

Taça de Portugal - meias finais com confrontos inéditos



Clube de Albergaria/Durit, Sporting Braga, SL Benfica e Valadares Gaia são os dignos representantes do futebol feminino nas meias-finais da Taça de Portugal, que se joga a duas mãos, a primeira das quais já este fim de semana.
 
Analisando somente a última década, o Valadares Gaia vai disputar a sua quinta meia-final, o Clube de Albergaria a quarta, o Braga a terceira e somente para o Benfica será a primeira, já que iniciou actividade esta época.
 
Curiosamente, e apesar da vasta participação de alguns, estes confrontos serão inéditos. O Albergaria já esteve nas meias-finais com o Valadares, mas ambos com outros adversários.
Uma coisa têm em comum estes quatro emblemas: nenhum deles jamais subiu a escadaria do Jamor em último lugar, ou seja, o de vencedor da prova. Imagine-se, portanto, o quão apetitosos serão estes quatro jogos!
 
De imediato iremos ter:
- amanhã dia 23, o Valadares Gaia x Clube de Albergaria/Durit
- domingo dia 24, o SL Benfica x Sporting Braga
ambos às 15 horas e com transmissão em A Bola TV. Mas com esta qualidade, só mesmo quem estiver longe ou não se puder deslocar é que não irá ver ao vivo.
 
Começando pelo Valadares x Albergaria, encontro já largas vezes disputado na prova máxima das competições femininas. Tendo como grande atractivo serem orientadas por treinadoras (Mara Vieira e Paula Pinho), o que garante que na final esteja uma mulher a comandar uma das equipas. A não ser que, em caso de vitória da eliminatória pelo Valadares, a Mara Vieira já esteja em licença de parto, visto estar grávida - outro facto inédito. Quanto ao jogo, será intenso e vibrante, sendo os adeptos do  Valadares sempre muito interventivos e dentro de campo ambas equipas gostam de jogar a disputar sempre a bola. De qualquer modo, a eliminatória estará longe de ficar resolvida, dado o equilíbrio de qualidade apresentado até agora.
 
No outro encontro teremos "o jogo" que despertará todas as atenções. Nada a fazer contra a grandeza do impacto dos chamados grandes. Aproveitar a embalagem e procurar estar o mais perto possível, seguir as boas práticas em termos de trabalho e divulgação, é o que de mais sensato os clubes mais pequenos deverão fazer.
 
Benfica x Braga, duas equipas profissionais, que trabalham diariamente nas melhores condições possíveis em Portugal, será o tal "jogo". Espera-se uma Tapadinha cheia, de adeptos das duas equipas e também de jogadoras de futebol, que têm este fim de semana de folga e não querem perder pitada de um grande jogo em perspectiva.  
 
O que se pode esperar para este jogo?
 
Um Benfica super motivado para atingir um dos objectivos traçados para esta época inicial: chegar à final da Taça de vencê-la. Com jogadoras muito talentosas e experientes, ainda não soube verdadeiramente o que são dificuldades. Ficam no ar duas interrogações: como se irá comportar perante um adversário mais forte, à sua medida, já que até agora as duas únicas vezes em que sentiu um pouco mais de dificuldade foi com o Sporting 'B'; conseguirá o treinador João Marques quebrar o enguiço contra equipas grandes como a sua? Domingo teremos a resposta.
 
O Braga tem tanta sede de ganhar como o Benfica, já que poderá estar muito próximo de ganhar os três troféus em disputa na época, sendo que já venceu o primeiro: a Supertaça. Do que se tem observado recentemente parece estar a acusar algum cansaço, mas isso poderá ser aparente. A equipa de Miguel Santos tem muita personalidade, sendo liderada em campo pela capitã, Vanessa Marques (a fazer uma época brilhante). O seu ataque é fortíssimo, tanto técnica como fisicamente. Esse será, talvez, o maior trunfo do Braga, já que a defesa do Benfica ainda não apanhou nenhum ataque assim.
 
Os ingredientes para um grande jogo estão todos lá. Uma casa, certamente, cheia ou perto disso. Tempo ameno. O que mais se poderá desejar?
- Uma equipa de arbitragem à altura das intérpretes e um público que se manifeste de forma vibrante, apaixonada, mas correcta. Insultos não fazem parte do desporto.
 
 

segunda-feira, 11 de março de 2019

A emoção dos quartos-de-final da Taça de Portugal BPI

(Foto: Sports and Girls - Anabela Brito Mendes; Arnaldo Amador; Maria Garcia)

Já se sabe que os jogos da Taça de Portugal são sempre uma festa e qualquer clube deseja chegar o mais longe possível e, quem sabe, chegar à final no mítico estádio do Jamor.



Os jogos do passado domingo não fugiram a essa regra e viveram-se momentos de grande festa por parte dos clubes que avançaram para as meias-finais, que serão disputadas a duas mãos. Nestes quatros jogos, há que salientar os jogos que opuseram o CF Benfica ao Valadares e o Estoril Praia ao SC Braga, sem qualquer desprimor para os outros dois, que também merecem toda atenção e destaque.



Excluindo a vitória esmagadora e por números expressivos do SL Benfica (marcou tantos golos como os registados nos outros 3 jogos - 16), houve emoção e nervos até ao final nos dois jogos entre equipas da Liga BPI.



O jogo no Futebol Benfica foi eletrizante e a incerteza no vencedor durou atá ao final dos 90 minutos. A vitória sorriu ao Valadares, mas podia ter caído para o lado das visitadas. Foi um excelente jogo para promoção da modalidade, com muitos golos de elevada qualidade técnica. 



Na Amoreira, o Estoril Praia, a única equipa a "roubar" pontos na Liga BPI ao líder isolado SC Braga, recuperou sempre da desvantagem e levou o jogo para prolongamento, obrigando o clube visitante a mostrar as credencias que o levou a eliminar o atual detentor da Taça de Portugal, o Sporting CP.



O Albergaria venceu sem grandes dificuldades o vizinho Cadima, num jogo em que a experiência e outro nível competitivo fez a diferença, seguindo justamente para as meias-finais. Se tiver oportunidade não a vai deixar fugir de estar novamente no Jamor.
O jogo SL Benfica - CA Ouriense não tem história. O resultado final diz tudo e poucas considerações podem ser efetuadas a não ser reforçar que a equipa lisboeta está preparada para qualquer desafio até chegar ao Jamor e será um sério candidato à vitória.



Mas, estes 4 jogos não são apenas motivo deste post pela sua qualidade, emoção e incerteza quanto ao resultado final. É também motivo para escrever estas linhas o empenho e destaque com que a FPF tratou estes quartos-de-final. Só não viveu as emoções destes jogos quem não quis assistir à transmissão via streaming que a FPF proporcionou a todos os adeptos de futebol. O SL Benfica foi o único que ficou de fora, mas ainda assim transmitido pelo seu canal próprio.



Só se quisermos ser pouco agradecidos é que não conseguimos reconhecer quanto o futebol feminino em Portugal tem vindo a crescer e a mudar, com a chancela da FPF. Há poucos anos andávamos a "discutir" se a final da Taça tinha ou não transmissão...agora tivemos a possibilidade de, pelo menos, ver três jogos em direto. Podem argumentar que este tipo de ações em pouco desenvolve o futebol feminino nacional. Mas, não podem argumentar é que este tipo de ações é fundamental para captar mais adeptos e espetadores, potenciar o aparecimento de parceiros/patrocinadores e, no limite, permitir às miúdas sonharem que o seu dia chegará. 



A logística para transmitir os jogos via streaming pode não ser uma grande dificuldade mas implica recursos humanos e materiais que poucos clubes dispõe.



Eu cá quero é que estas ações continuem e que me permitam viver as emoções da Taça de Portugal se não puder deslocar-me a nenhum dos campos.



Ainda mais agora que o sorteio ditou uma final antecipada entre o SC Braga e o SL Benfica. E se o jogo em Lisboa é expectável que o vá ver ao vivo, o que se vai disputar em Braga dificilmente, até porque fica no meio do fim-de-semana de Páscoa.

sexta-feira, 8 de março de 2019

Madalena Gala e Mara Vieira nos quartos da Taça


Joga-se este fim de semana os quartos de final da Taça de Portugal. Das, somente, quatro treinadoras que treinam na Liga BPI, três delas estarão em acção. Paula Pinho verá o seu Clube de Albergaria receber o União Cadima. As outras duas, Madalena Gala e Mara Vieira, irão defrontar-se num jogo já muitas vezes repetido em todas as provas: Futebol Benfica - Valadares Gaia.
No seu ano de estreia como treinadora principal, Madalena Gala tem conseguido trazer o Fofó nos lugares cimeiros. Com uma equipa onde habitam alguns pesos pesados do futebol feminino, Sílvia Brunheira, Edite Fernandes e Andreia Silva, a jovem treinadora de 26 anos não hesita em dar oportunidade a jogadoras mais jovens, como é o caso de Inês Salvador, Catarina Pereira e até de Patrícia Balão. Essa mistura faz do Fofó uma equipa que gosta de ter a bola e apresenta um bom futebol e que luta até ao fim pelos seus objectivos.
Mara Vieira regressou ao Valadares no início deste ano, depois de por lá ter estado de 2012 a 2014, tendo iniciado o projecto para o futebol feminino que ainda hoje vigora na clube de Gaia. Esse projecto foi premiado pela UEFA, com o "Best Grassroots Club 2014 - UEFA Grassroots Programme Silver Award". Isso diz bastante sobre a Mara como treinadora, com um currículo que fala por si, e  que tem como grande característica ser uma acérrima da periodização táctica do Professor Vitor Frade. Consigo ao comando o Valadares ainda não estabilizou por completo, mas espera-se que o consiga assim que as jogadoras se tornem mais identificadas com os seus métodos. E, seguramente, veremos um Valadares forte e competitivo.
Mais do que aquilo que serão as diferenças nas características de cada uma, está o facto de ambas mostrarem no seu percurso que o futebol é o seu desporto de eleição. E que não se inibem de trilhar diversos caminhos, uns mais bem sucedidos do que outros, naturalmente, para evoluírem nas suas carreiras. Portanto, tudo aquilo que o futebol feminino precisa:
- mulheres que gostam do jogo, sabem do jogo e querem estar dentro do jogo.
Cada vez há mais mulheres assim e urge que os clubes apostem nelas e que as instituições oficiais, tais como associações e a própria Federação criem um programa de apoio e suporte às mulheres no futebol. Falamos de treinadoras, mas o mesmo se deve passar para dirigentes.
Por fim, e é por isso que falamos de Madalena e Mara, o jogo.
Futebol Benfica e Valadares Gaia andam a defrontar-se desde 2013. Quase seis anos, em que já houve de tudo no campeonato nacional e duas finais ganhas para cada uma das equipas: Taça de Portugal para as de Benfica e Supertaça para as de Gaia.
O jogo de domingo será mais um jogo bem disputado, com domínio repartido e em que o Futebol Benfica terá um ligeiro favoritismo, não só por jogar em casa, mas por ter jogadoras com bastante experiência neste duelo particular, experiência essa com grande percentagem de sucesso. Mas esse favoritismo não servirá de nada, se não trabalhar muito e bem o jogo todo. A equipa do norte não vai querer deixar passar a oportunidade de chegar às meias finais.
Domingo, 14 horas, Estádio Francisco Lázaro, Madalena Gala e Mara Vieira no confronto que ninguém pode perder. 

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

O fim de um ciclo?


A derrota do Sporting CP na 10 jornada da Liga BPI representou a primeira do clube de Alvalade a nível interno, no tempo regulamentar, e caminha-se para o fim de um ciclo de domínio inequívoco da equipa verde e branca, desde que reativou a equipa feminina, na época 2016-2017.

Mas não é sobre o jogo grande da jornada 10 nem tão pouco sobre os clubes intervenientes que escrevo umas linhas. O tema é mesmo o encurtar dos ciclos de domínio de uma equipa sobre as restantes.

Logo à cabeça surge o nome de duas equipas com inegável palmarés: Boavista FC e SU 1º Dezembro. Foram, sem qualquer margem de duvidas, as grandes dominadoras do futebol feminino nacional durante décadas. Convém não esquecer que o clube do Porto é o único cuja equipa se mantém em atividade desde os primórdios do futebol feminino nacional (há mais de 30 anos). Quando apareceu a primeira competição da responsabilidade da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), em 1988, designada de Taça Nacional, o Boavista conquistou todas as cinco edições desta prova. 

O registo continuou com o aparecimento do Campeonato Nacional, cujas três primeiras edições foram para o clube da cidade invicta. Este ciclo do Boavista terminou na edição de 1995-1996, quando o Lobão "roubou" pela 1ª vez um troféu às axadrezadas. Mas, como seria de esperar, o Boavista volta a conquistar o Campeonato Nacional logo na época seguinte, que marca também o último que conquistou (1996-1997).

Nas épocas seguintes, entre 1997-1998 e 2000-2001, o Gatões (Matosinhos), conquistou três Campeonatos Nacionais, sendo que o último (2000-2001) permitiu que fosse o primeiro representante nacional na primeira competição de clubes da UEFA.

O troféu da época de 1999-2000 representou o primeiro dos 12 campeonatos nacionais que a SU 1º Dezembro conquistou, sendo 11 consecutivos (2001-2002 a 2011-2012), marca impressionante e que, dificilmente, nos próximos anos será repetida ou ultrapassada.
Com o evoluir das exigências, em 2004, surge a primeira edição da Taça de Portugal feminina, cujo primeiro vencedor foi a SU 1º Dezembro (que voltaria a repetir o feito por mais sete ocasiões). À SU 1º Dezembro apenas faltou a conquista de uma Supertaça Feminina, mas quando a competição foi lançada já a SU 1º Dezembro tinha encerrado a sua equipa sénior, de longe a mais representativa do clube. Decisões, no mínimo, estranhas.
Quem aproveitou a queda livre da SU 1º Dezembro foi a Ouriense, que dominou nas duas épocas seguintes (2012-2013 e 2012-2014), conquistando também a Taça de Portugal em 2013-2014. Conseguiu, ainda, o feito histórico de ser até à data a única equipa portuguesa a ultrapassar a fase de mini-torneio da Liga dos Campeões feminina, passando à fase a eliminar.
Sucede ao Ouriense, o Clube Futebol Benfica, que conquistou dois campeonatos nacionais, duas Taças de Portugal e foi o primeiro clube a conquistar uma Supertaça, em 2014-2015.
Na época de 2016-2017, assiste-se às entradas do Sporting e do Braga e com eles a mudança completa do que eram as competições femininas até então. São formadas as primeiras equipas com jogadoras profissionais e a disputa fica resumida a estas duas. É que excluindo o domínio da SU 1º Dezembro, todas as épocas seguintes a incerteza do vencedor pairou até quase ao final.
Assiste-se, agora, ao final do domínio do Sporting. Poderá ser precipitada esta afirmação. É verdade, admito que sim, mas os cinco pontos de desvantagem que tem antes da final da primeira volta, deixa o clube leonino apenas com um troféu para conquistar, a Taça de Portugal, que depende única e exclusivamente de si.
Estaremos a assistir ao inicio do ciclo do Braga? Para já, está bem lançado para conquistar a sua primeira Liga.
É que para a Taça de Portugal há outro concorrente de peso e que nunca escondeu que o objetivo da época de lançamento era a conquista desse troféu: o SL Benfica.
Preparem-se que a próxima época vai ser, de longe, a mais emocionante de todas até agora. Três grandes clubes à procura de conquistar os troféus em disputa.
E os ciclos vão ser, seguramente, cada vez mais curtos.
(Texto publicado originalmente no Sindicato dos Jogadores).

terça-feira, 19 de junho de 2018

2017/2018 - A época em revista


A época que agora terminou confirmou todo o potencial da equipa do Sporting CP que revalidou o título nacional da Liga Allianz, reconquistou a Taça de Portugal e adicionou a estes troféus a conquista da Supertaça, tendo sempre como adversário direto o SC Braga.

A época começou bem cedo para o Sporting CP com a participação no mini torneio de qualificação para a UEFA Women's Champions League (UWCL), realizado em Budapeste, Hungria. Nesta primeira participação a equipa verde e branca não conseguiu passar à fase seguinte, após ter perdido o jogo inaugural.

Internamente, a época começou a 3 de setembro com a realização da Supertaça tendo como equipas os suspeitos de sempre, Sporting CP e SC Braga. O jogo, analisado na altura, valeu pela emoção e incerteza do resultado, especialmente quando o SCP empata já em período de compensação e leva a decisão para prolongamento. Nestes 30 minutos, o SCP revelou-se melhor a todos os níveis o que não é de estranhar dado que nesta altura já tinha realizado jogos altamente competitivos como os que são os do MT da UWCL. Este foi talvez em toda a época o jogo em que o SC Braga esteve mais perto de derrotar o Sporting CP e conquistar o seu primeiro troféu, desde que regressou à modalidade.

A Liga Allianz muito cedo ficou decidida contrariamente ao que os treinadores sempre deram a entender (o que se percebe, há que motivar as jogadoras e manter os adeptos em redor das equipas). Ao triunfar em Braga, na 3ª jornada (30 de setembro 2017), a equipa leonina deu um passo de gigante rumo ao bi campeonato, como viria a acontecer. O empate verificado em Vila Verde pelo SC Braga na 6ª jornada aumentou a diferença pontual para 5 pontos, sendo que a 5 de novembro a Liga Allianz estava entregue. Para poder aspirar a mudar este cenário o SC Braga teria que ter feito muito mais no jogo em Alvalade, mas o jogo foi muito pouco emotivo.

Uma palavra de reconhecimento a todas as outras equipas que participaram na Liga Allianz, que lutam com "armas" desiguais quando comparado com estas duas grandes equipas. Nem o Estoril Praia, que se reforçou e bem para os lados de Benfica conseguiu fazer mossa pese embora o empate alcançado quando recebeu o Sporting CP. A diferença de argumentos é abissal e assim irá manter-se (ou até mesmo aumentar).

Admito que este texto peca por não ter uma abordagem ao Campeonato de Promoção. Não porque seja uma competição menor mas por manifesta falta de disponibilidade para acompanhar estes jogos. Sei, todavia, que há muitas jogadoras com enormes potencialidades e que aguardam a sua oportunidade para dar o salto para uma equipa de nível superior.  Deixo o desafio a quem segue esta competição para relatar as incidências da mesma. Até porque a conquista do título por parte da Ovarense está envolta em grande polémica e seria importante que tudo ficasse devidamente esclarecido em nome da verdade desportiva.

A Final da Taça de Portugal, disputada no final de maio foi outro espetáculo fantástico. Mais uma vez, a vitória sorriu ao Sporting CP, já no prolongamento, depois de um jogo em que o SC Braga viu um golo ser anulado (e bem) pelo VAR e dispôs de várias oportunidades flagrantes para se adiantar no marcador. O disparo a mais de 30 metros da Diana Silva só parou no fundo das redes da Rute Costa.

Umas notas finais para a seleção feminina. A eliminação da fase final do Campeonato do Mundo de 2019, em França ficou consumada no passado dia 8 de junho, com a derrota em Florença, contra a Itália. Portugal iniciou esta caminhada com a moral em alta depois da participação história no EURO 2017, na Holanda. O grupo não se antevia fácil mas permitia efetivamente sonhar com a qualificação. A derrota no jogo inaugural, contra a Bélgica, foi um enorme balde de água fria mas nada estava perdido. Portugal retomou a senda vitoriosa impondo uma goleada à Moldávia e ganhava alento para o jogo contra a Itália, realizado no Estoril. Se há jogo que em que a sorte não protegeu Portugal e nada quis connosco foi este. O pragmatismo italiano voltou a fazer das suas.

Pelo meio, Portugal realizou um brilhante percurso na Algarve Cup, garantindo um 3º lugar nunca antes alcançado e mostrou toda a sua evolução a países que normalmente não se cruzam no nosso caminho. As opiniões foram unânimes mas esta foi a que eu melhor retive.

Agora é tempo de recuperar e recarregar baterias. As exigências da próxima época estão aí à porta. O Sporting CP é o primeiro a entrar em ação com a participação, novamente, no mini torneio de qualificação para a UWCL, logo no inicio de agosto (a época será longa).

Para a próxima época teremos outros motivos de interesse e que vão aumentar seguramente a visibilidade do futebol feminino nacional. Refiro-me, especialmente, ao arrancar da equipa do SL Benfica e das suas legitimas aspirações a chegar à final da Taça de Portugal.

Mas sobre isto, falaremos noutra oportunidade.

Agora é tempo de apoiar a nossa seleção maior no Mundial da Rússia.

Boas férias.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

Conseguirá o futebol feminino mover multidões?



Nas últimas semanas decorreram vários jogos de relevo pelo mundo fora e que foram noticia não só pela importância das respetivas competições mas sim pelo número de espectadores que se deslocaram ao estádio para assistir ao vivo e a cores aos vários jogos.

Quem é que não se lembra da final do Campeonato do Mundo de 1999, entre os Estados Unidos da América (EUA) e a China, realizado nos EUA e que teve uma assistência de 90 185 espetadores?

Mas se a nível de selecções já havia registos bastante animadores sobre o número de espectadores (basta recordar os jogos da Holanda no seu país para o EURO 2017 e mais recentemente num dos jogos de qualificação para o Mundial 2019), a nível de clubes não é frequente ter-se informação tão detalhada. De forma que quando é divulgado que o jogo que iria atribuir o título de campeão da Liga MX Femenil (México) teve uma assistência de 51 211 espetadores no estádio, a surpresa é enorme (pelo menos para mim foi). Mas não se ficou por aqui dado que a Final da Taça de Inglaterra entre o Chelsea e o Manchester City levou ao Estádio de Wembley 45 423 adeptos. É obra, há que reconhecer.

Internamente, não andamos longe do que se vai vendo pela Europa fora. O aparecimento de equipas como o Sporting CP e o SC Braga veio dar à modalidade um impulso (e destaque) nunca antes observado bem como fez regressar a Portugal um conjunto de jogadoras que evoluíam em equipas estrangeiras e, com elas uma melhoria significativa na qualidade dos jogos. Aliás, os jogos do Sporting CP realizados em Alvalade representam as maiores assistências registadas na Liga Allianz e ambas as finais da Taça de Portugal, entre o Sporting CP e o SC Braga, as maiores assistências no nosso futebol feminino (mais de 12 000 e 11 714 espetadores em 2016/2017 e 2017/2018, respetivamente). Pode parecer uma tremenda injustiça para as equipas que andam há décadas a lutar pelo futebol feminino nacional, mas a mercado funciona assim mesmo. Espero que consigam crescer também com este destaque que agora se observa. Seria de elementar justiça.

A juntar a esta assistência no estádio, não podemos negligenciar os números fantásticos da assistência através da RTP 1, com mais de meio milhão de espetadores. Para a próxima época teremos mais uma equipa a contribuir para esta dinâmica, o SL Benfica, que mesmo entrando pelo Campeonato de Promoção vai apostar bem forte para chegar à final da Taça de Portugal no ano de estreia.

Mas, como surgem estas assistências pouco usuais no futebol feminino? Bom, isso pode ser explicado de várias perspectivas mas a partir do momento em que a FIFA reconhece que o futebol feminino é o futuro cria-se uma nova marca que, para ter sucesso, tem que ser apetecível comercialmente. Tomando por exemplo Ligas tão competitivas como a alemã, inglesa e francesa, regra geral, são equipas destas ligas que discutem o apuramento para a Final da UEFA Women's Champions League (UWCL) até às últimas eliminatórias (este ano estiveram nas meias-finais 2 equipas inglesas, Chelsea e Mancherter City). A final deste ano, em Kiev, disputada entre o Lyon e o Wolsburgo teve uma assistência acima dos 11 000 espetadores. 

Quem se recorda da Final disputada, em 2014, em Lisboa? Foram 11 217 os espetadores que se deslocaram ao Estádio do Restelo para assistir a três espectáculos num só... A vista fenomenal que o estádio proporciona sobre Lisboa, a final entre o Wolsburgo e o Tyresö FF e no final foram brindados com um concerto do Anselmo Ralph.

Mais recentemente, o presidente da UEFA, Aleksander Čeferin, afirmou que a final da UEFA Women's Champions League irá tornar-se num dos pontos altos do calendário por direito próprio. Tanto é que a edição de 2017/2018 foi a última em que ambas as finais desta competição se disputaram na mesma cidade.

Se num dado momento a fórmula foi importante para dar impulso à final feminina, atraindo mais comunicação social e espetadores (uma vez que se disputavam com um dia de intervalo, feminina à quinta-feira e a masculina ao sábado), atualmente torna-se cada vez mais complicado conseguir logisticamente acomodar os milhares de adeptos que se deslocam massivamente para as cidades onde se disputam as finais. Mas esta separação permite, especialmente, promover cada vez mais a final feminina e negociar direitos (televisivos, por exemplo) individualmente sem estar incluída no pacote negociado para a final masculina.

É, sem dúvida, um avanço tremendo e uma mudança na forma de pensar (e mesmo negociar). A cidade de Budapeste será o palco para a final feminina de 2018/2019 enquanto a masculina será realizada em Madrid.

Não só em Portugal se assiste à entrada dos chamados clubes grandes no futebol feminino. Na vizinha Espanha apenas o Real Madrid continua resistente mas os seus maiores rivais (Barcelona e Atlético de Madrid) têm equipas que dão cartas pela Europa fora. Também de Inglaterra chegam boas noticias, com a criação de equipa feminina no Manchester United de forma a dar continuidade ao projeto de formação que tão boas jogadoras têm formado para depois serem contratadas por outras equipas, que agora serão adversárias. Mais recentemente, boas novas de Itália com o Milan a comunicar a intenção de criar uma equipa feminina (através da aquisição dos direitos desportivos do Brescia) e, com toda a certeza, discutir taco a taco as várias competições com a Juventus.

Sejamos honestos, são os clubes grandes que movem multidões, que chamam espetadores aos estádios e "exigem" mais atenção por parte das Instituições que regem o futebol feminino. A FIFA e a UEFA viram e perceberam rapidamente que há um novo filão a explorar (e bem) mas isso só ocorre porque o que se traduz dentro do terreno de jogo são espetáculos de enorme qualidade técnico-táctica, através de jogadoras com capacidades desportivas elevadas, capazes de fazer maravilhas com a bola e assim captar e cativar os adeptos de futebol. Se assim não fosse, o futebol feminino não se tornaria numa marca apetecível.

Sim, o futebol feminino vai ter destaque por si só e vai mover multidões!

Porque fez por merecer esse destaque!

Porque a qualidade dos jogos e as suas jogadoras assim o exigem!

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Taça de Portugal - a prova mais dolorosa de se perder



A Taça de Portugal é, muito provavelmente, a prova que toda a gente quer ganhar.

Não só porque é mais fácil de sonhar com a final, mesmo estando-se numa equipa mais modesta, mas porque acontece num espaço que é mítico. É mítico por todas as gerações que já subiram aquela escadaria e foram consagradas na tribuna de honra, mas também pela sua própria construção, que faz com que a nossa cultura visual nos remeta para o Olimpo.
 
Em boa hora a FPF trouxe a organização da final no feminino para o Estádio Nacional. Subir aquelas escadas é uma sensação única, seja como vencido ou como vencedor. Em ambas as circunstâncias vislumbramos caras conhecidas que nos sorriem, mãos amigas que nos tocam, palavras que nos incentivam e consolam. Até, mesmo, os desconhecidos nos são confortáveis. Pode-se dizer que é um lugar de emoções muito fortes, que nos deixam à beira das lágrimas seja de alegria ou de tristeza.

Qualquer pessoa facilmente imagina, mesmo que nunca tenha ido ver um jogo no Estádio, o que se sente quando se sobe as escadas em último lugar e se recebe a Taça na tribuna de honra, aos olhos de todos os que estão cá em baixo. Sim, é essa a sensação que se tem quando se está lá em cima, vitoriosa: os outros, estão lá em baixo. Não por sobranceria, mas porque a emoção e a alegria são contagiantes e só pensamos em nós e em festejar com os nossos.

Mas, lá em baixo, depois da bancada central, no relvado onde ainda há momentos se disputava arduamente cada lance, está a outra equipa. Refém do fair-play, resiste estoicamente aos festejos das vitoriosas, aguardando que elas desçam, para depois ir procurar conforto junto dos seus.

E, na grande maioria das vezes, no relvado a assistir à coroação das vencedoras, estão jogadoras tão  ou mais talentosas do que estas. Que num golpe de sorte poderiam ter ganho o jogo e estarem, naquele momento, de papéis invertidos.

Vem tudo isto a propósito da final de domingo, que opôs Sporting e Braga e no qual o primeiro saiu vencedor.

É reconhecido o valor do Braga enquanto equipa e as suas jogadoras são das mais talentosas em Portugal, sendo algumas internacionais portuguesas da mais fina estampa.

E quer o destino, há mais de uma época seguida, que essas mesmas jogadoras não consigam ganhar a Taça de Portugal. Algumas há, que nunca tendo conquistado sequer uma Taça, a perdem há três épocas consecutivas. Para a qualidade que evidenciam, é um castigo muito severo. E deixa em aberto uma ideia, que nem sempre é percebida por quem não está 'dentro' do futebol: os títulos dão currículo, mas quando se procura talentos tem de se ver mais além do que isso.

Imagino que, para essas jogadoras, o acordar na segunda-feira não tenha sido simpático. E que todas as frases feitas que se dizem nessas circunstâncias, não tenham sido recebidas da melhor maneira.

Mas, a verdade é que a vida prossegue. E a vida de uma futebolista prossegue também, tenha lá o desgosto o tamanho que tiver!

Agora é tempo de férias para algumas, para outras compromissos da selecção. E todos esperamos que a nova época traga uma energia revigorada e uma vontade enorme de mudar o rumo da história por parte de todas elas. A bem da competitividade do nosso futebol feminino.

[Texto de Anabela Mendes, originalmente publicado no site do Sindicato dos Jogadores]

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Sporting CP venceu a Taça de Portugal Feminina num jogo emotivo

Triunfo por 1-0 após prolongamento, dá a Taça ao Sporting

Os 11.714 espetadores que se deslocaram ao Estádio Nacional para assistir ao jogo não deram o seu tempo por mal empregue.

Não se pode dizer que tenha sido um jogo de encher o olho, mas foi sem qualquer dúvida emotivo, disputado em toda a dimensão do campo, com ambas as equipas a quererem ganhar. E como antecipei numa outra ocasião, o jogo acabou por se decidir nos detalhes, a exemplo do observado em outros encontros entre estas duas equipas.

Entrou melhor o SC Braga, a impor o seu jogo e desde logo começou a brilhar aquela que será a grande responsável pelo clube minhoto ter saído derrotado: Patrícia Morais, que negou todas as hipóteses criadas pelo SC Braga para marcar (e foram umas quantas flagrantes), especialmente em lances de bola parada. Só não conseguiu chegar à bola cabeceada por uma jogadora do SC Braga (Francisca Cardoso), que resultou num golo efusivamente celebrado pelas atletas e comitiva bracarense, mas que o VAR viria a anular por fora de jogo.

O tempo passava e percebia-se que ambas as equipas não queriam arriscar e iríamos ter prolongamento. O cansaço começava a dar sinais (a época já vai longa e ainda não terminou para um conjunto de jogadoras) e sairia vencedora quem fosse mais eficaz nas oportunidades que criasse. O golo de Diana Silva é de levantar qualquer estádio em qualquer parte do mundo, com um pontapé fenomenal a mais de 30 metros da baliza adversária, apanhando todos de surpresa, inclusive a guarda-redes do SC Braga (Rute Costa), que bem se esticou.

O SC Braga não baixou os braços em momento algum e na etapa complementar do prolongamento viu Patrícia Morais negar, em duas situações consecutivas, remates que levavam o selo de golo.

Até ao final, o Sporting CP limitou-se a gerir o tempo de jogo que faltava, mas ainda teve força para, num remate bem colocado, enviar a bola ao poste.

No fim, é o que se sabe, festa das verde e brancas contrastando com a enorme tristeza das jogadoras do SC Braga, que estavam inconsoláveis por ver fugir a conquista da Taça de Portugal.

Parabéns ao Sporting CP por mais uma conquista para o seu historial. Parabéns, também, ao SC Braga por ter sido um adversário que vendeu muito cara a vitória da equipa leonina.

Estas equipas voltam a encontrar-se para a disputa da Supertaça no arranque da próxima época. Agora, tempo para recarregar baterias, preparar a nova época e renovar objetivos.

Até setembro!

[Texto de Maria João Xavier, originalmente publicado no sítio do Sindicato dos Jogadores]

domingo, 27 de maio de 2018

A Festa do Futebol volta ao Jamor – Final da Taça de Portugal Feminina

Tenho assistido com enorme perplexidade aos acontecimentos que têm envolvido a instituição Sporting CP.

O ambiente tenso que se vive em Alvalade não permite serenidade para nenhuma das modalidades que ainda se encontram em competição e com títulos para conquistar. Mas, mais preocupante (na minha perspetiva) é como vão preparar a próxima época com tamanha instabilidade. Porque não haja ilusões, o Sporting CP tem 55 modalidades, todas elas com provas dadas e títulos conquistados, mas a força motriz dos clubes é o futebol profissional, que gera receitas e convence patrocinadores.

Mas o título deste texto diz respeito à segunda competição em Portugal relativamente ao futebol feminino e que garantidamente o Sporting CP vai querer ganhar e proporcionar mais uma alegria aos seus adeptos e associados. Do outro lado estará o SC Braga, uma equipa serena e que tem preparado a grande final sem o reboliço de emoções (que também é disso que se trata) e que, claramente, irá aproveitar (se a oportunidade surgir) as mazelas que estas últimas semanas têm deixado em qualquer atleta que represente o clube verde e branco.

Acredito que a equipa técnica do Sporting CP esteja a fazer os possíveis para proteger o grupo de trabalho, a desenvolver o seu trabalho e a preparar o jogo do próximo domingo com enorme cuidado. Ao contrário do ocorrido na mesma competição na versão masculina, no passado dia 20 de maio, não estamos perante dois adversários com qualquer tipo de desnível... Nem o Sporting CP é o Golias e muito menos o SC Braga será em momento algum o David. A época assim mostrou que a reconquista da Liga Allianz pelo Sporting CP se decidiu em detalhes, especialmente no jogo em Braga. Espero que a final do próximo dia 27 não se resolva em detalhes, mas sim que seja mais um excelente espetáculo de futebol.

O empate não será resultado possível e subir à escadaria enquanto vencedor é algo inexplicável para qualquer jogadora e elemento da equipa técnica. O Sporting CP já viveu esses momentos a época passada enquanto equipa e tem no seu plantel atletas repetentes por outros clubes. O SC Braga vai garantidamente desenvolver todos os esforços para impedir o clube de Alvalade de repetir a façanha e, naturalmente, vai colocar em campo a estratégia que melhor se adequará para conquistar o primeiro troféu do seu historial após o regresso da modalidade ao clube.

É minha perceção que o Sporting CP irá sentir mais a responsabilidade do jogo e o peso que ele acarreta para os adeptos e associados leoninos, que necessitam urgentemente de uma vitória e outro troféu para poderem serenar os ânimos que tão exaltados têm andado.

O SC Braga "não tem nada a perder", sentindo igualmente a responsabilidade do jogo, mas sem ter a carga emocional adicional que as jogadoras do Sporting CP vão ter de lidar do início ao fim do jogo.

Desejo sinceramente que os adeptos de ambos os clubes se desloquem massivamente ao Jamor e celebrem a Taça com a festa que a caracteriza e que consigam colorir o Estádio Nacional com as cores dos dois clubes.

A moldura humana (nada desprezível) da época passada com mais de 12 mil espetadores (tomara grande parte dos clubes da Liga NOS terem essas assistências em todos os seus jogos) será sempre uma das imagens que guardo com maior carinho e orgulho de um jogo de mulheres e raparigas.

Que seja mais um dia memorável desta modalidade que nos apaixona.

Bom jogo e boa sorte para todos os intervenientes!

(texto publicado originalmente no sítio do Sindicato dos Jogadores).

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Sport Lisboa e Benfica - o projeto em execução

Depois do anúncio que o SL Benfica iria mesmo aventurar-se no futebol feminino, conforme tinha prometido, começam agora a surgir as primeiras noticias (uma confirmada e outras a aguardar seguramente melhor data).

Ora o primeiro anúncio oficial surgiu dia 16/01/2018, pouco mais de um mês do chamado pontapé de saída do futebol feminino no SL Benfica, com a contratação da guarda-redes Dani Neuhaus. A 17/01/2018, surge a noticia de que teriam também contratada  a avançada Darlene Reguera, mas ainda sem confirmação oficial (ou eu não encontrei). No entanto, podemos agradecer desde já a esta atleta a informação que partilhou com todos os adeptos do futebol feminino nacional nesta entrevista ao divulgar alguns detalhes do projeto que está a ser preparado. Nesse mesmo dia desfaz-se o mistério de quem será o futuro treinador da equipa em formação mas, a acreditar na notícia, só será apresentado em fevereiro (quem sabe no dia 4 de fevereiro... a ocorrer nesse dia será cirurgicamente pensada). Não seria suposto apresentar o treinador em primeiro lugar e depois começar a divulgar as atletas entretanto contratadas? Teria mais lógica pois será pouco plausível que o SL Benfica proceda à contratação de atletas sem o aval do futuro treinador. Uma coisa percebe-se de imediato: não estão para brincadeiras.

Nenhuma equipa atualmente está a salvo de ter atletas a serem contactadas para representar o SL Benfica, incluindo o SC Braga e o Sporting CP, sendo que nestes a dificuldade será seguramente acrescida. O que se antecipa é que todas as atletas (profissionais e não profissionais) a atuar em Portugal podem procurar negociar e melhorar as suas condições contratuais uma vez que há um outro clube com possibilidade de oferecer mais e melhores condições. Talvez o anúncio de atletas a jogar em Portugal só seja realidade após 30 de junho do corrente ano, o que a ocorrer revelará respeito pelas restantes equipas nacionais. Seja como for, a fazer fé no que diz a notícia, o facto de já existirem contactos com atletas não vai ajudar a que o resto da época se desenrole com a necessária concentração para que os objectivos traçados sejam alcançados. Uma coisa é certa, todo e qualquer anúncio oficial por parte do SL Benfica irá ter repercussões (mesmo que inconscientemente) na prestação de todas as equipas até ao final da época em curso (alguém acredita que não existem contactos e que o SL Benfica - ou a quem transferiu a responsabilidade da criação da equipa - vai aguarda pelo final da época para abordar as atletas que lhe interessem? Eu não acredito). 

Também as atletas portuguesas que evoluem em equipas estrangeiras poderão negociar o seu regresso com outras vantagens. E falo destas porque podem ser possíveis contratações do SL Benfica, especialmente as que são internacionais, com provas dadas e enorme experiência competitiva (por exemplo, a Carolina Mendes, a Mónica Mendes, a Jéssica Silva ou a Raquel Infante. Não refiro propositadamente a Cláudia Neto dado que dificilmente conseguirá melhores condições do que as que dispõe atualmente ao serviço do Wolfsburg. É outro patamar). Qual é a equipa que não gostaria de ter algumas das melhores atletas portuguesas nas suas fileiras? O SL Benfica não será, certamente, exceção. Prevê-se que vá ser um defeso animado no que diz respeito ao futebol feminino.

Mas, a ver pelo exemplo da atleta confirmada e da outra possibilidade, o SL Benfica vai apostar numa equipa forte para entrar no Campeonato de Promoção (será apenas o cumprir da formalidade de iniciar na competição devida) pois acredito verdadeiramente que o objetivo imediato é poder competir na Taça de Portugal e defrontar, já na próxima época, o seu eterno rival, o Sporting CP. E se for na final, então teremos logo no inicio da época seguinte a Supertaça (isto considerando que o Sporting CP conquista a Liga Allianz de 2018/2019 e o SL Benfica alcança - e conquista ou perde contra o Sporting CP - a final da prova rainha na mesma época)... os primeiros confrontos serão antecipados ainda antes do SL Benfica alcançar a Liga Allianz e prometem muita emoção.

Só ainda não consegui foi encontrar qualquer informação sobre esta afirmação "será mantida a ligação às escolinhas e à formação, onde já existe no Clube a presença de jovens jogadoras, que no passado não tiveram uma solução de continuidade e que agora poderão apontar para um percurso que vise a alta competição"

Aguardemos por futuras movimentações (que serão estrategicamente anunciadas) mas que promete... promete!

terça-feira, 3 de outubro de 2017

InStat - uma plataforma ao seu dispôr

A época 2017/2018, segunda da Liga Allianz, começou com a habitual Supertaça e no dia a seguir com um workshop ministrado pela FPF com todos os clubes inscritos na prova. Refira-se que a FPF convidou os clubes a estarem presentes no jogo e, inclusive, promoveu a sua estadia num hotel em Coimbra, para não terem de se deslocar de longe no próprio dia do workshop - uma prova inequívoca da importância que a FPF dá ao estreitamento de relações com os participantes da Liga Allianz.
 
De todos os pontos discutidos, sobressaiu a decisão de gravar todos os jogos e posterior colocação numa plataforma acessível a todos os Clubes. Só esta inovação já faria sorrir muitos clubes. Mas a FPF foi mais longe. Juntou-lhe o programa InStat, que faz uma análise individual das jogadoras e uma análise comparativa da prestação das equipas em confronto no jogo. Uma pérola!
 
Imagino que com esta inovação, a FPF procure dotar os clubes de uma ferramenta que ajude os treinadores a melhorar a performance das suas equipas e, consequentemente, da Liga no geral. Uma ajuda que é transversal e não interfere directamente com a política desportiva de cada clube.
 
Na verdade, mais do que uma ajuda, esta oferta da FPF constitui um desafio. Uma ferramenta que permite crescimento na forma como se vê a própria equipa e os adversários - ajuda; mas que tão mais eficaz se torna, quanto melhor ela for entendida por parte dos treinadores - desafio.
Mas o desafio não se fica por aqui. Talvez a parte maior caiba às jogadoras.
Sim, de nada adianta um grande trabalho de observação, se as jogadoras não estiverem disponíveis mentalmente para aceitar as indicações e colocarem em prática o que os treinadores pedirem.
 
Em resumo, trata-se de uma grande ferramenta de apoio, que estou certa virá acrescentar qualidade ao treino e aos jogos.
 
Com menos meios, mas com um trabalho apurado na instrução da sua equipa sobre as características das adversárias, já na longínqua época 2008/09 a Helena Costa foi com o Odivelas (2ª divisão) ganhar uma eliminatória da Taça de Portugal ao todo poderoso 1º de Dezembro.