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terça-feira, 2 de abril de 2019

#TodosMoçambique: um Benfica x Sporting solidário.

(Foto: Anabela Brito Mendes)



Já se sabe que o desporto em geral e o futebol em particular é um veiculo de excelência (a exemplo dos concertos musicais) para chamar a atenção da população mundial para causas de diversos âmbitos, que necessitam de ajuda urgente para que os danos não atinjam proporções (ainda mais) assustadoras quando há vidas humanas envolvidas.

Mais do que o resultado do jogo em questão (vitória do Sporting CP pela margem mínima), o que se assistiu na bancada é de realçar e deixa-nos a esperança que há vida para além de clubismos fanáticos.

Ao apelo da Federação Portuguesa de Futebol (um exemplo sempre que se fala de solidariedade, quem não se lembra das ações relacionadas com os incêndios de Pedrogão Grande?), em conjunto com o Sindicato dos Jogadores, Associação de Futebol de Lisboa, a disponibilidade do Clube Futebol “Os Belenenses” para ceder o estádio e os clubes envolvidos, os portugueses responderam “presente”. Foram mais de 15 000 adeptos presentes do Estádio do Restelo (que bela moldura humana com uma fantástica paisagem de fundo), dos dois clubes, misturados entre si (embora tenha existido a preocupação da separação física de adeptos) e que fizeram a festa. Os cânticos de cada clube não se deixaram de ouvir, cada qual puxou pela sua equipa mas num ambiente descontraído, saudável e de consciência pelo motivo que se tinham deslocado ao Restelo.

Vi, como há muito não via, famílias inteiras nas bancadas. Cada qual envergando as cores do seu clube. À minha frente estava uma família declaradamente sportinguista mas imediatamente atrás estava uma família em que cada um tinha a sua preferência e não foi por isso que deixaram de estar e festejar em conjunto.

As jogadoras foram as maiores promotoras do evento. A sua entrega ao jogo e o respeito mútuo foram notas dominantes e a fotografia final na cerimónia de entrega do troféu “Vicente Lucas” é uma imagem a reter e a promover.

O jogo, esse, deu a primeira amostra do que podemos esperar na próxima época na Liga BPI e demais competições, caso se encontrem. Foi um jogo bem disputado, com inúmeras oportunidades de golo de ambas as equipas e não existindo a pressão de pontos ou eliminatórias, facilitou os intervenientes a proporcionar um bom espetáculo a todos no estádio e aos que assistiram via televisão.

Bem sei, infelizmente, que em situação de competição, outros valores se levantam, o clubismo sobrepõem-se muitas vezes ao bom senso e acabamos por assistir a cenas que em nada dignificam os clubes e o futebol em geral. Felizmente, que no jogo de sábado nada disto ocorreu e o salutar convivo pré, durante e após o jogo foi a nota dominante. Não tenho utopia de pensar que este ambiente se possa repetir nas futuras competições mas que seria bom, lá isso seria.

Que não seja necessária outra catástrofe para assistirmos (e vivermos de perto) a outro dia para recordar na história do futebol feminino nacional, onde foi alcançado um novo máximo de assistência num jogo de futebol feminino em Portugal.

Deixo-vos uma questão… se o jogo contasse para uma competição interna, com entradas pagas (cujo valor podia ser o mesmo, 2,5€), teríamos ido todos ao Restelo?

Eu, seguramente, iria! Só assim se cresce e evolui.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

O fim de um ciclo?


A derrota do Sporting CP na 10 jornada da Liga BPI representou a primeira do clube de Alvalade a nível interno, no tempo regulamentar, e caminha-se para o fim de um ciclo de domínio inequívoco da equipa verde e branca, desde que reativou a equipa feminina, na época 2016-2017.

Mas não é sobre o jogo grande da jornada 10 nem tão pouco sobre os clubes intervenientes que escrevo umas linhas. O tema é mesmo o encurtar dos ciclos de domínio de uma equipa sobre as restantes.

Logo à cabeça surge o nome de duas equipas com inegável palmarés: Boavista FC e SU 1º Dezembro. Foram, sem qualquer margem de duvidas, as grandes dominadoras do futebol feminino nacional durante décadas. Convém não esquecer que o clube do Porto é o único cuja equipa se mantém em atividade desde os primórdios do futebol feminino nacional (há mais de 30 anos). Quando apareceu a primeira competição da responsabilidade da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), em 1988, designada de Taça Nacional, o Boavista conquistou todas as cinco edições desta prova. 

O registo continuou com o aparecimento do Campeonato Nacional, cujas três primeiras edições foram para o clube da cidade invicta. Este ciclo do Boavista terminou na edição de 1995-1996, quando o Lobão "roubou" pela 1ª vez um troféu às axadrezadas. Mas, como seria de esperar, o Boavista volta a conquistar o Campeonato Nacional logo na época seguinte, que marca também o último que conquistou (1996-1997).

Nas épocas seguintes, entre 1997-1998 e 2000-2001, o Gatões (Matosinhos), conquistou três Campeonatos Nacionais, sendo que o último (2000-2001) permitiu que fosse o primeiro representante nacional na primeira competição de clubes da UEFA.

O troféu da época de 1999-2000 representou o primeiro dos 12 campeonatos nacionais que a SU 1º Dezembro conquistou, sendo 11 consecutivos (2001-2002 a 2011-2012), marca impressionante e que, dificilmente, nos próximos anos será repetida ou ultrapassada.
Com o evoluir das exigências, em 2004, surge a primeira edição da Taça de Portugal feminina, cujo primeiro vencedor foi a SU 1º Dezembro (que voltaria a repetir o feito por mais sete ocasiões). À SU 1º Dezembro apenas faltou a conquista de uma Supertaça Feminina, mas quando a competição foi lançada já a SU 1º Dezembro tinha encerrado a sua equipa sénior, de longe a mais representativa do clube. Decisões, no mínimo, estranhas.
Quem aproveitou a queda livre da SU 1º Dezembro foi a Ouriense, que dominou nas duas épocas seguintes (2012-2013 e 2012-2014), conquistando também a Taça de Portugal em 2013-2014. Conseguiu, ainda, o feito histórico de ser até à data a única equipa portuguesa a ultrapassar a fase de mini-torneio da Liga dos Campeões feminina, passando à fase a eliminar.
Sucede ao Ouriense, o Clube Futebol Benfica, que conquistou dois campeonatos nacionais, duas Taças de Portugal e foi o primeiro clube a conquistar uma Supertaça, em 2014-2015.
Na época de 2016-2017, assiste-se às entradas do Sporting e do Braga e com eles a mudança completa do que eram as competições femininas até então. São formadas as primeiras equipas com jogadoras profissionais e a disputa fica resumida a estas duas. É que excluindo o domínio da SU 1º Dezembro, todas as épocas seguintes a incerteza do vencedor pairou até quase ao final.
Assiste-se, agora, ao final do domínio do Sporting. Poderá ser precipitada esta afirmação. É verdade, admito que sim, mas os cinco pontos de desvantagem que tem antes da final da primeira volta, deixa o clube leonino apenas com um troféu para conquistar, a Taça de Portugal, que depende única e exclusivamente de si.
Estaremos a assistir ao inicio do ciclo do Braga? Para já, está bem lançado para conquistar a sua primeira Liga.
É que para a Taça de Portugal há outro concorrente de peso e que nunca escondeu que o objetivo da época de lançamento era a conquista desse troféu: o SL Benfica.
Preparem-se que a próxima época vai ser, de longe, a mais emocionante de todas até agora. Três grandes clubes à procura de conquistar os troféus em disputa.
E os ciclos vão ser, seguramente, cada vez mais curtos.
(Texto publicado originalmente no Sindicato dos Jogadores).