quinta-feira, 14 de junho de 2018

Conseguirá o futebol feminino mover multidões?



Nas últimas semanas decorreram vários jogos de relevo pelo mundo fora e que foram noticia não só pela importância das respetivas competições mas sim pelo número de espectadores que se deslocaram ao estádio para assistir ao vivo e a cores aos vários jogos.

Quem é que não se lembra da final do Campeonato do Mundo de 1999, entre os Estados Unidos da América (EUA) e a China, realizado nos EUA e que teve uma assistência de 90 185 espetadores?

Mas se a nível de selecções já havia registos bastante animadores sobre o número de espectadores (basta recordar os jogos da Holanda no seu país para o EURO 2017 e mais recentemente num dos jogos de qualificação para o Mundial 2019), a nível de clubes não é frequente ter-se informação tão detalhada. De forma que quando é divulgado que o jogo que iria atribuir o título de campeão da Liga MX Femenil (México) teve uma assistência de 51 211 espetadores no estádio, a surpresa é enorme (pelo menos para mim foi). Mas não se ficou por aqui dado que a Final da Taça de Inglaterra entre o Chelsea e o Manchester City levou ao Estádio de Wembley 45 423 adeptos. É obra, há que reconhecer.

Internamente, não andamos longe do que se vai vendo pela Europa fora. O aparecimento de equipas como o Sporting CP e o SC Braga veio dar à modalidade um impulso (e destaque) nunca antes observado bem como fez regressar a Portugal um conjunto de jogadoras que evoluíam em equipas estrangeiras e, com elas uma melhoria significativa na qualidade dos jogos. Aliás, os jogos do Sporting CP realizados em Alvalade representam as maiores assistências registadas na Liga Allianz e ambas as finais da Taça de Portugal, entre o Sporting CP e o SC Braga, as maiores assistências no nosso futebol feminino (mais de 12 000 e 11 714 espetadores em 2016/2017 e 2017/2018, respetivamente). Pode parecer uma tremenda injustiça para as equipas que andam há décadas a lutar pelo futebol feminino nacional, mas a mercado funciona assim mesmo. Espero que consigam crescer também com este destaque que agora se observa. Seria de elementar justiça.

A juntar a esta assistência no estádio, não podemos negligenciar os números fantásticos da assistência através da RTP 1, com mais de meio milhão de espetadores. Para a próxima época teremos mais uma equipa a contribuir para esta dinâmica, o SL Benfica, que mesmo entrando pelo Campeonato de Promoção vai apostar bem forte para chegar à final da Taça de Portugal no ano de estreia.

Mas, como surgem estas assistências pouco usuais no futebol feminino? Bom, isso pode ser explicado de várias perspectivas mas a partir do momento em que a FIFA reconhece que o futebol feminino é o futuro cria-se uma nova marca que, para ter sucesso, tem que ser apetecível comercialmente. Tomando por exemplo Ligas tão competitivas como a alemã, inglesa e francesa, regra geral, são equipas destas ligas que discutem o apuramento para a Final da UEFA Women's Champions League (UWCL) até às últimas eliminatórias (este ano estiveram nas meias-finais 2 equipas inglesas, Chelsea e Mancherter City). A final deste ano, em Kiev, disputada entre o Lyon e o Wolsburgo teve uma assistência acima dos 11 000 espetadores. 

Quem se recorda da Final disputada, em 2014, em Lisboa? Foram 11 217 os espetadores que se deslocaram ao Estádio do Restelo para assistir a três espectáculos num só... A vista fenomenal que o estádio proporciona sobre Lisboa, a final entre o Wolsburgo e o Tyresö FF e no final foram brindados com um concerto do Anselmo Ralph.

Mais recentemente, o presidente da UEFA, Aleksander Čeferin, afirmou que a final da UEFA Women's Champions League irá tornar-se num dos pontos altos do calendário por direito próprio. Tanto é que a edição de 2017/2018 foi a última em que ambas as finais desta competição se disputaram na mesma cidade.

Se num dado momento a fórmula foi importante para dar impulso à final feminina, atraindo mais comunicação social e espetadores (uma vez que se disputavam com um dia de intervalo, feminina à quinta-feira e a masculina ao sábado), atualmente torna-se cada vez mais complicado conseguir logisticamente acomodar os milhares de adeptos que se deslocam massivamente para as cidades onde se disputam as finais. Mas esta separação permite, especialmente, promover cada vez mais a final feminina e negociar direitos (televisivos, por exemplo) individualmente sem estar incluída no pacote negociado para a final masculina.

É, sem dúvida, um avanço tremendo e uma mudança na forma de pensar (e mesmo negociar). A cidade de Budapeste será o palco para a final feminina de 2018/2019 enquanto a masculina será realizada em Madrid.

Não só em Portugal se assiste à entrada dos chamados clubes grandes no futebol feminino. Na vizinha Espanha apenas o Real Madrid continua resistente mas os seus maiores rivais (Barcelona e Atlético de Madrid) têm equipas que dão cartas pela Europa fora. Também de Inglaterra chegam boas noticias, com a criação de equipa feminina no Manchester United de forma a dar continuidade ao projeto de formação que tão boas jogadoras têm formado para depois serem contratadas por outras equipas, que agora serão adversárias. Mais recentemente, boas novas de Itália com o Milan a comunicar a intenção de criar uma equipa feminina (através da aquisição dos direitos desportivos do Brescia) e, com toda a certeza, discutir taco a taco as várias competições com a Juventus.

Sejamos honestos, são os clubes grandes que movem multidões, que chamam espetadores aos estádios e "exigem" mais atenção por parte das Instituições que regem o futebol feminino. A FIFA e a UEFA viram e perceberam rapidamente que há um novo filão a explorar (e bem) mas isso só ocorre porque o que se traduz dentro do terreno de jogo são espetáculos de enorme qualidade técnico-táctica, através de jogadoras com capacidades desportivas elevadas, capazes de fazer maravilhas com a bola e assim captar e cativar os adeptos de futebol. Se assim não fosse, o futebol feminino não se tornaria numa marca apetecível.

Sim, o futebol feminino vai ter destaque por si só e vai mover multidões!

Porque fez por merecer esse destaque!

Porque a qualidade dos jogos e as suas jogadoras assim o exigem!