(Foto FPF) |
Até ao aparecimento dos designados clubes grandes com equipas de futebol feminino (Sporting CP, SC Braga e SL Benfica), a contratação de jogadoras estrangeiras era quase inexistente. Existiam jogadoras oriundas de outros países a evoluir em equipas nacionais, mas sem a dimensão que se observa atualmente. Por norma chegavam a Portugal com a família e não vinham exclusivamente para jogar futebol.
As exigências e os objetivos traçados por estas equipas (no imediato não se aplica ao SL Benfica, mas para lá caminha na época 2019/2020), não se limitam às competições internas, mas sim à sua projeção por essa Europa fora. E, para tal, há que encontrar as melhores jogadoras para fazer face aos desafios.
Ora, por muito que nos custe admitir, Portugal ainda não dispõe de um leque alargado de jogadoras com elevada qualidade para se poder construir 3/4 equipas com o mesmo nível de competitividade. Caminha-se a passos largos para essa realidade, as gerações mais novas estão em franco crescimento e já com outras exigências competitivas a nível internacional. Para se poder construir uma equipa competitiva há que recorrer à contratação de jogadoras estrangeiras. O Sporting CP tem três, o SC Braga tem um conjunto considerável de jogadoras provenientes dos quatro cantos do mundo e o SL Benfica construiu a sua equipa base com recurso a jogadoras brasileiras, quase todas com provas dadas a nível de seleção (principal ou de formação).
Uma coisa é certa: o aporte de jogadoras que evoluíam em campeonatos mais competitivos que a nossa Liga BPI só pode ser visto com agrado e com a perspetiva de tornar esta cada vez mais interessante.
Pessoalmente só tenho um senão. Nada me move contra que a Liga BPI possa ter jogadoras estrangeiras de qualidade e que estas possam, efetivamente, ser uma mais-valia para a competitividade. Não obstante, defendo incondicionalmente que todas as que sejam contratadas tenham que ser melhores do que as jogadoras portuguesas que disputam as várias competições femininas. Contratar e depois ter que rentabilizar o investimento em detrimento da opção na jogadora portuguesa em nada contribui para o crescimento e valorização da jogadora nacional. Será um lugar tapado (ou vários) e que uma jogadora portuguesa não vai poder disputar de igual para igual.
E não, não é uma utopia o que afirmei acima. Vivemos essa realidade na Liga NOS e nas demais competições masculinas profissionais, onde muitos lugares estão ocupados por jogadores estrangeiros que em nada acrescentam qualidade ou competitividade e que não são melhores que os nossos jogadores. Outros valores se elevam sem que isso beneficie o espetáculo desportivo propriamente dito.
Que o exemplo não se repita na versão feminina.
Maria João Xavier (texto publicado originalmente no sítio do Sindicato dos Jogadores)