Na
sua terceira edição, a Supertaça Feminina Allianz, apresentou-se em estádio
grande, para fazer jus à dimensão dos clubes envolvidos – Sporting Clube de
Portugal e Sporting Clube de Braga.
Pensar-se-ia,
com isto, que a assistência seria ao nível da Taça de Portugal, mas já em
edições anteriores se percebera que a adesão não é, nem de longe nem de perto,
a mesma. Acredito que o efeito Jamor, e o seu historial nas finais da Taça,
tenha um efeito extra na massa adepta.
O
Estádio Cidade de Coimbra é simpático, apesar daquela pista de atletismo que
nos distancia do fulcral: o terreno de jogo.
A
organização teve um rol de problemas, que não foram condizentes com o
espectáculo e o recinto engalanado: desde seguranças indelicados, a casas de
banho sem luz (do género de ser preciso recorrer ao telemóvel para se ver
alguma coisa) e a cheirarem mal, e um bar que só funcionava por clubes (sendo
que como estava colocado mais perto da claque do Sporting de Braga, só esses
adeptos podiam utilizá-lo durante o intervalo, tendo os restantes adeptos que
esperar o jogo começar para o bar estar vazio).
Desde
a época passada, em que foi criada a Liga Allianz com a entrada de grandes
clubes nacionais, que existe um novo paradigma no futebol feminino em Portugal.
A competição tornou-se diferente, reduzida a dois clubes com hipóteses de
ganharem troféus, porque dotados de condições excepcionais e só ao alcance de
alguns. Não me vou debruçar sobre a parte desportiva deste novo paradigma.
O
que me desagrada é que tenha sido trazido para o futebol feminino o pior do
futebol masculino, em maior escala do que já havia. Claques a entoarem cânticos
ordinários, seguranças que ficam histéricos e não deixam que o público se misture
(vi uma senhora com a camisola da Rute Costa – guarda-redes do Braga – sentada
no meio dos adeptos do Sporting, tranquilamente e sem ninguém a incomodar),
estádios gigantes e que depois não têm condições para receber as pessoas,
principalmente as mulheres, essas mesmas de que tanto se fala serem o novo
público-alvo do futebol.
Em
relação ao comportamento dos adeptos, é certo que já havia campos com público
difícil, mas penso que esta é uma área em que se pode desenvolver trabalho.
Mudar o rosto do público no futebol feminino seria uma grande aposta. E essa
aposta tem de começar a ser feita a partir de baixo, desde os escalões de
formação.
Também
as condições de alguns campos não são as melhores. Volto a referir as
instalações sanitárias, por ser um assunto de maior importância quando se é
mulher. Trazer as mulheres para o futebol exige um novo olhar que seja
amplamente periférico. Tem de haver sensibilização junto dos clubes para
melhorarem as suas instalações, quiçá ajudá-los a pôr em prática ideias que já
têm.
Convém
não esquecer que, apesar de todo o brilho que se faz quando o Sporting e Braga
se encontram, a ampla maioria dos jogos da Liga Allianz são presenciados por
adeptos que são amigos e familiares das jogadoras. Tudo numa escala
proporcional à dimensão dos clubes. É aí que tem de começar o trabalho. Só
assim se estará a fazer um verdadeiro investimento na promoção do futebol
feminino.