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quarta-feira, 25 de julho de 2018

Muda-se o "naming"... mantém-se tudo na mesma?

A propósito da celebração do contrato com novo patrocinador, Banco BPI e da redefinição do naming da Liga Feminina para Liga BPI levou-me a fazer algumas considerações se pensar que a UD Ferreirense teve que desistir da competição porque o clube fechou portas.

Aliás, este é o drama de todos os clubes "pequenos" que dependem da disponibilidade de um conjunto de pessoas, que por amor e dedicação ao clube não os deixam morrer. Mas, a determinada altura, independentemente dos motivos, essas mesmas pessoas desistem de lutar contra as adversidades, obstáculos e dificuldades e, por falta de alternativa, o clube encerra a sua atividade. Não serão tão poucos quanto isso mas quando se trata de um clube que tinha uma equipa a competir ao mais alto nível no futebol feminino nacional, as noticias correm depressa. Infelizmente, digo eu para as gentes de Ferreiros mas, especialmente, para as jogadoras e demais elementos que integravam esta equipa.

Retomando ao titulo do texto, a questão que levanto é se não se pode ponderar, nesta nova parceria, a possibilidade de serem facultados mais apoios aos clubes que disputam as competições femininas. Bem sei que a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) não tem (diretamente) essa responsabilidade mas, a exemplo do que ocorre na Taça de Portugal masculina, não será viável a atribuição de um valor de participação, desde a primeira eliminatória, às equipas participantes? Não tenho qualquer intenção de sugerir esse valor (desconheço os montantes negociados com o BPI e a percentagem que será alocada ao futebol feminino) mas creio que seria uma motivação adicional para todos os clubes. Numa época que tanto se fala e discute a igualdade de género será da mais elementar justiça que a FPF possa dar um passo em frente.

Não tenhamos ilusões. Excluindo os chamados clubes grandes, os restantes debatem-se com enormes dificuldades para poderem desenvolver a sua atividade. As fontes de receita são limitadas e os patrocínios escasseiam. Não obstante, assiste-se (felizmente) a que nenhuma adversidade e conhecimento desta realidade tem afastado os clubes de criarem equipas de futebol feminino, especialmente nos escalões de formação. O que não deixa de ser curioso pois daqui poderá surgir uma fonte de receita adicional devido ao valor que o clube poderá ser ressarcido (em caso de transferência) pelos anos de formação da atleta.

No limite, todas as melhorias nas condições dos clubes, irão beneficiar diretamente as seleções nacionais femininas pelo que a FPF irá obter, a um nível diferente, o retorno do investimento efetuado.

Mas esta é só a minha opinião pessoal. 
Todas são válidas e podem ser partilhadas.
Quem aceita o desafio?

(Texto de Maria João Xavier publicado originalmente no sítio do Sindicato dos Jogadores)

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Era uma vez…


Todas as histórias começam assim e esta não será diferente. O que me proponho com este texto é descrever a minha visão do aparecimento e crescimento da seleção nacional feminina. Podem questionar-se o porquê de ter decidido agora dedicar umas linhas a este tema. Pensem neste texto como um tributo pessoal a todas as jogadoras que lutaram ano após ano por melhores condições que conduziram ao lugar onde se encontra a seleção nacional atualmente. Além disso, na minha humilde opinião todas as antigas jogadoras devem ver reconhecido o seu esforço. Adicionalmente, a minha decisão também se justifica por si só no facto de não ser um conto de fadas e os primeiros tempos terem sido difíceis com inúmeros obstáculos. Que possa servir de exemplo a não repetir por mais nenhuma instituição que queira promover o futebol feminino.

O primeiro jogo da seleção nacional disputou-se em França, a 24 de outubro de 1981 e o resultado final foi um empate sem golos. Não é uma história antiga mas revela que Portugal esperou 36 anos para se qualificar para uma grande competição (EURO 2017, na Holanda).

Nesta primeira década, a seleção nacional disputou 8 jogos (entre 1981 e 1983). O futebol feminino encontrava-se em franco desenvolvimento pela europa fora e os resultados alcançados demonstravam que Portugal estava no bom caminho para se tornar uma seleção forte na europa. Eu vi o meu primeiro jogo da seleção nacional em lisboa, a 4 de dezembro de 1982. Tinha 11 anos e já jogava futebol num clube de bairro. Recordo-me perfeitamente de ter pensado “um dia vou querer representar a seleção do meu país”.

Mas, sem qualquer aviso, a Direção da Federação Portuguesa de Futebol decidiu suspender a atividade da seleção nacional. Foi uma decisão catastrófica como veremos mais adiante. Mas, o mais estranho desta decisão foi que o Presidente da FPF à data era membro do Comité de Futebol Feminino da UEFA. A decisão não foi entendida por ninguém e por largos anos a evolução do futebol feminino nacional ficou adiada. O sonho das jogadoras foi ceifado, continuaram a jogar o seu desporto de eleição mas sem qualquer esperança de um dia representarem a seleção nacional.

As jogadoras portuguesas tiveram que esperar dez anos para que os seus sonhos se tornassem novamente realidade. Assim, em 1993, pela mão de Carlos Queiróz, assiste-se ao retomar da atividade da seleção feminina. O seleccionador nacional escolhido foi o magriço António Simões, um dos melhores jogadores portugueses de sempre, que integrou as fantásticas equipas do SL Benfica e da seleção nacional, que em 1966 participou no mundial de Inglaterra, onde alcançou um brilhante 3º lugar.

 "Record" setembro 1993
Para o primeiro estágio de observação, realizado em setembro de 1993, foram chamadas 66 atletas. Como se compreende, o seleccionador nacional e restante equipa técnica não tiveram oportunidade de ver as jogadoras a atuar nos seus clubes de forma que a responsabilidade de indicar quais as atletas a convocar foi delegada  nos treinadores dos respetivos clubes que competiam no Campeonato Nacional.

Neste primeiro estágio de observação as jogadoras foram separadas em várias equipas e jogaram todas umas contra as outras. Foi a forma encontrada pelas várias equipas técnicas da FPF para conseguirem observar todas as jogadoras em ação e, desta forma, reduzir o enorme grupo num mais pequeno.

No segundo estágio de observação já só foram convocadas 35 jogadoras. O objetivo era conseguir reduzir o grupo às 25 melhores jogadoras nacionais e, desta forma, iniciar a qualificação para o europeu de 1995, que se iria realizar na Alemanha.

Mas, antes de começar a qualificação para a competição referida, Portugal realizou um encontro particular contra a seleção da Suécia sub 20. Foi o primeiro jogo após 10 anos de interregno. As jogadoras estavam nervosas e sentiram o peso da camisola mas sentiram-se orgulhosas assim que o hino nacional começou a ecoar nos altifalantes do Estádio S. Luís, em Faro. Esse sentimento foi transversal aos espectadores presentes, muitos deles jogadoras e ex jogadoras. Eu era uma delas. Eu não fui seleccionada para o grupo final de 25 jogadoras e reconheço que estava bastante desanimada nesse dia mas nada disso era importante comparando com a emoção de ver a seleção nacional voltar novamente ao ativo. Finalmente, o sonho tinha-se tornado realidade e eu teria a oportunidade de poder representar o meu país. A responsabilidade de merecer uma oportunidade por parte da equipa técnica era minha. E iria fazer tudo que estivesse ao meu alcance para que ela aparecesse.

O resultado não foi o desejado (Portugal perdeu 0- 3) mas permitiu-nos perceber que os 10 anos de interregno de competição foi o pior inimigo para o crescimento.
"Correio da Manhã" novembro 1993


O primeiro jogo oficial após 10 anos de interregno foi realizado em Faro, a 11 de dezembro de 1993, contra a França e a contar para o apuramento para o campeonato da Europa de 1995. Mais uma vez, fiquei de fora das opções do seleccionador nacional mas desloquei-me ao Algarve para assistir ao jogo. Portugal perdeu mas fez um grande jogo, nunca se amedrontando contra uma equipa de nível superior, de tal forma que se não soubessem do nosso interregno ninguém diria que era o primeiro jogo ao fim de 10 anos.

A seleção nacional perdeu os 4 jogos seguintes. Estávamos em fase de construção de uma nova equipa, a diferença entre várias selecções europeias era enorme, especialmente as selecções nórdicas (Suécia, Dinamarca e Noruega), França e Alemanha. No entanto, as jogadoras portuguesas nunca desistiram e procuraram incessantemente a vitória. Nesta altura, os objetivos para a equipa eram definidos jogo a jogo. O primeiro era marcar um golo (que veio a ocorrer no jogo em Fiães, em março de 1994, contra a toda poderosa Itália).
"Record" março 1994

A primeira vitória ocorreu na 1ª edição da Algarve Cup (à data designada de Mundialito de Futebol Feminino), no longínquo ano de 1994, contra a Finlândia, após derrotas nos jogos de grupo contra os EUA e a Suécia.

Na qualificação para o EURO 1995 Portugal alcançou 3 vitórias, duas contra a Escócia (no jogo realizado em Sterling a falta de hino nacional foi o mote para a primeira vitória fora e no jogo em casa, em Almeirim, a primeira goleada infligida pela seleção nacional 8 -2) e contra a Itália, no jogo realizado em Carrara. Foi um escândalo mas a vitória foi inteiramente merecida. Por vezes a falta de humildade e o menosprezo por equipas de nível inferior proporciona este tipo de vitórias. Itália provou do seu próprio veneno). Razão tinha o seleccionador nacional…

"A Bola" junho 1994
A equipa continuava o seu processo de crescimento mas teve sempre que enfrentar inúmeras dificuldades. As mais evidentes eram a falta de estágios de observação ou a realização de jogos particulares. Era frequente a seleção não se juntar por mais de 6 meses o que condicionava o nosso crescimento sustentado. Não sei se alguém que nos lê alguma vez sentiu o querer fazer mais (e melhor) e o corpo não responde às nossas ordens. Infelizmente senti isso mais vezes do que desejaria em muitos jogos. A sensação de impotência foi algo que acompanhou nos períodos iniciais quando em confronto com as melhores jogadoras mundiais. Mas era com estas que podíamos crescer, com aquelas que nos causavam dificuldades e desafiavam todas as nossas qualidades. Não tenho qualquer vergonha em assumir que a seleção portuguesa, não tinha condição física para jogar 90 minutos. A nossa condição física era suficiente para a competição interna (campeonato distrital e campeonato nacional) mas era débil e longe do exigido para os jogos internacionais. Era frustrante mas o pensamento das jogadoras foi sempre “temos que melhorar, é imperioso que consigamos mostrar que temos qualidade para ganhar a algumas das melhores equipas”. Porque, no final o que conta e fica registado é o resultado. E não era muito agradável somar goleada atrás de goleada.

Até ao final da década 1990-1999, Portugal conseguiu, pela primeira vez, qualificar-se para os jogos de playoff tendo em vista o Europeu de 1997 (Noruega). Foi, sem dúvida, uma importante conquista para o futebol feminino nacional e acabou por o mote para continuarmos a crescer e melhorar o nosso desempenho. Não conseguimos a qualificação (o nosso adversário, a Dinamarca seguiu para a fase final da competição) e Portugal teve que esperar até 2017 para viver esse momento único, 20 anos depois. As sementes levaram 20 anos a crescer! Mas agora não há volta possível. O único caminho é seguir em frente e continuar a crescer!

Nesta década, a seleção nacional disputou 69 jogos (vitória 15; empate: 6; derrota: 48) e teve dois seleccionadores nacionais. O já referido António Simões (1993-1996) e Graça Simões (1996-2000). Ambos realizaram o seu trabalho o melhor que conseguiram com as poucas condições disponibilizadas pela FPF na altura. Mas, ainda assim, Portugal foi crescendo, ainda que timidamente. Não há qualquer hipótese de comparação para o que existia há 30 anos para o que é realidade nos dias de hoje. Por vezes penso até onde aquele grupo de jogadoras podia ter chegado se tivessem disposto das atuais condições. Mas é um exercício inglório pois as mudanças observadas ao longo dos últimos anos foram tantas que é utópico sequer pensar em comparações. O legado da Graça Simões foi conduzir Portugal, mais uma vez, aos jogos de playoff para o Europeu de 2001 (Alemanha). Mas, no final da época de 1999/2000 o seu contrato de trabalho não foi renovado e um novo seleccionador nacional foi apresentado e orientado a seleção portuguesa nesses dois jogos, Nuno Cristóvão. De igual modo, Portugal não conseguiu a qualificação mas melhoramos o registo anterior, ao alcançar uma vitória no jogo em casa, disputado em Portalegre, sob condições meteorológicas adversas e impróprias para a prática desportiva, fosse ela qual fosse.

A década seguinte deveria mostrar o crescimento da seleção nacional mas na verdade não foi o que aconteceu. Em julho de 2003 foi elaborado o primeiro ranking para selecções femininas pela FIFA. Portugal ficou colocado na 34ª posição. O trabalho desenvolvido pelo seleccionador nacional Nuno Cristóvão foi de enorme qualidade e foi sob proposta sua (e aceite pela FPF) que surgiu pela primeira vez uma seleção de formação, na altura sub 18, que daria lugar posteriormente origem à de sub 19. Esta foi outra enorme conquista para o futebol feminino nacional e permitiu à nova geração de jogadoras (grande parte integra atualmente a seleção feminina que tão boa conta tem dado de si) a oportunidade de iniciar o crescimento internacional mais precocemente. Mas, mais uma vez, quando as selecções começavam a dar mostras do seu crescimento e outras medidas iam sendo desenvolvidas, o seleccionador Nuno Cristóvão cessa funções na FPF, no final da época 2003/2004. O período mais negro, de sempre, da selecção nacional estava para chegar.
PrintScreen sítio internet FIFA


O novo seleccionador nacional, José Augusto (2004-2007), que foi colega de equipa do António Simões no SL Benfica e na seleção nacional foi o escolhido. E, durante o período que esteve em funções, a seleção nacional caiu da 34ª para a 47ª posição. Foram tempos complicados em que a insatisfação e desilusão das jogadoras era difícil de esconder. Os 3 anos que o Sr. José Augusto comandou a seleção nacional causaram os mesmos estragos que os 10 anos sem competição. Era necessário, mais uma vez, renascer a seleção nacional. Se não acreditam no que digo (que é legítimo), olhem novamente para a figura do ranking. Foram precisos mais 10 anos para subirmos até ao 36º lugar, onde nos encontramos atualmente. E pouco mais há a acrescentar, a não ser que foi uma péssima decisão (na altura) da direcção da FPF interromper o trabalho que estava a ser desenvolvido pelo anterior seleccionador.

No período compreendido entre 2000 e 2009, a seleção nacional disputou 94 jogos (vitória: 19; empate: 13; derrota: 62).

De 2007 ate 2011, foi apresentada a nova seleccionadora nacional, Mónica Jorge, que até então fora treinadora adjunta e que tinha entre mãos a delicada (e enorme) tarefa de reverter todos os estragos causados pelo anterior seleccionador nacional. Mónica Jorge manteve-se no cargo ate ao final de 2011, altura em que integrou uma das listas que concorreu e venceu as eleições para a direcção da FPF. Atualmente, é Diretora da FPF para o futebol feminino. No período de transição, a seleção nacional foi orientada por outros treinadores nacionais (Susana Cova, Pedro Roma,..), tendo num curto período regressado António Violante, que tinha sido adjunto de António Simões, no regresso da seleção em 1993. Finalmente, em fevereiro de 2014, é apresentado o atual seleccionador nacional, Francisco Neto, que já antes tinha colaborado com a FPF na qualidade de treinador de guarda-redes.

E, concorde-se ou não, foi com a Mónica Jorge na direcção da FPF que se alcançaram os melhores resultados desportivos e o crescimento foi sendo consolidado:
  • Qualificação para a fase final do EURO sub 19, 2012 (Turquia);
  • Qualificação para a fase final do EURO sub 17, 2013 (Inglaterra);
  • Qualificação para a fase final do EURO 2017 (Holanda);
  • 3º Lugar na Algarve Cup 2018 (Portugal);
  • Início de atividade de selecções de formação: sub 16 (2014) e sub 15 (2017);
  • Desenvolvimento das competições nacionais;
  • Aumento do número de praticantes em todos os escalões etários;
  • Envolvimento das associações regionais para a importância e relevância do futebol feminino nacional no panorama desportivo;
  • Criação de uma nova competição, Supertaça Allianz;
  • Reorganização de competições nacionais sub 19 e sub 17.
Podia continuar a enumerar mais algumas medidas desenvolvidas desde que a Mónica Jorge assumiu o cargo na direcção mas creio que o mais importante é salientar que ela enfrentou as mesmas dificuldades e barreiras que todos os anteriores seleccionadores de forma que ela sabia o que era preciso fazer para inverter o cenário. Naturalmente que não fez tudo isoladamente. Toda a direcção da FPF está comprometida com o crescimento e desenvolvimento do futebol feminino nacional e apoiaram as mudanças necessárias. E os resultados estão a aparecer, não só na seleção sénior mas também nas selecções de formação.

MJX - dados retirados do sítio da internet FPF
Mas, a questão que se impõe: estamos efectivamente a crescer ou será apenas mais um período bom? Não, a seleção nacional está efetivamente a crescer! Se analisarem o gráfico rapidamente perceberão que estamos a reduzir a percentagem de derrotas e a aumentar a percentagem de vitórias. Não menos importante é observar o aumento do número de jogos disputados de uma década para a outra. Na minha opinião, juntamente com a melhoria altamente significativa das condições de treino e apoio da FPF, é o aumento dos confrontos internacionais que está a permitir a seleção portuguesa de crescer com consistência. De 2000-2009 (94 jogos) para 2010-2019 (121), a selecção nacional já jogou mais 27 jogos que na década anterior. E este valor vai, obviamente, aumentar. Podem ainda relembrar o que já foi escrito neste blogue sobre este tema e rever uma versão condensada desta história.

De qualquer forma, a FPF terá que dar um passo seguinte: envolver e auxiliar os clubes para que estes possam oferecer melhores condições às jogadoras. Pode parecer que não é responsabilidade direta da FPF assumir este papel, mas se assim não for, dificilmente se pode dar o salto qualitativo seguinte. Bem sei que temos dois clubes da Liga NOS (Sporting CP e SC Braga), em que as jogadoras são profissionais e dispõe de condições de excelência para desenvolverem o seu trabalho. Mas não é nem será suficiente. A tendência, se nada for entretanto executado, é para piorar. Estas duas equipas não vão conseguir absorver todas as jogadoras que começam agora a despontar levando a que estas tenham que procurar outros clubes (nem mesmo que criem equipas B, algo que o SC Braga já dispõe). Basta pensar nestas gerações que integram as atuais selecções jovens. Se estivesse no lugar delas iria procurar e exigir melhores condições no meu clube. Eu iria querer continuar a desenvolver as minhas capacidades e competências. Mas sei que para isso, não posso treinar somente 3 vezes por semana e em alguns dos casos, terei que repartir o campo com outra equipa do clube. Além que precisaria de outro tipo de aconselhamento uma vez que todos os detalhes são importantes e irão diferenciar-me entre ser uma boa jogadora ou uma jogadora de excelência.

Estou em crer que este será o próximo desafio para a FPF, para as associações regionais e para os clubes: como podemos potenciar a qualidade e competitividade das nossas competições internas (Liga, Taça de Portugal e Supertaça, bem como as competições de formação) e com isto permitir que as nossas selecções nacionais alcancem melhores resultados ano após ano!

Ambas estão relacionadas!

Acredito que estamos no caminho correto. Acredito, também, que não há retorno possível que nos faça cair, mais uma vez!

End of story!

terça-feira, 27 de março de 2018

Quo vadis seleção nacional feminina?

Foto: FPF
Já ando há uns dias a pensar um texto direccionado para a evolução evidente da nossa seleção nacional feminina quando, nem de propósito, é divulgada a atualização do ranking FIFA, com a subida de dois lugares (de 38º para 36º).


Esta coisa de rankings nem sempre refletem o que se passa no terreno de jogo (quem não se lembra do Portugal - Itália, em que esta última não saiu cilindrada do Estoril por manifesta falta de eficácia das nossas jogadoras) e nem tão pouco o crescimento sustentado das diferentes seleções.


Como aqui chegámos? Para tal precisamos de recuar um pouco no tempo para encontrar uma resposta que tenha alguma credibilidade e possa, efetivamente, contribuir para a explicação do que estamos atualmente a assistir com a nossa seleção feminina mais representativa.


Jornal "A Bola" 09/03/2015
Se bem se recordam, em 2015, foi apresentado no Algarve o Programa Estratégico para o Desenvolvimento do Futebol Feminino (PEDFF), onde constavam as linhas mestras do que era preciso desenvolver, no imediato, para que fosse possível dar o passo seguinte desta modalidade que nos apaixona. A ideia era avançar com a entrada direta de clubes que competiam à data na Liga masculina através de convite a remeter pela FPF. A questão não foi de fácil aceitação por parte dos clubes que estavam no Campeonato Nacional da 1ª divisão, competição que viria a ser sucedida pela Liga Allianz. Adicionalmente a esta medida (a mais polémica, sem dúvida) outras estavam plasmadas no referido documento e já são uma realidade (por exemplo, Campeonato Nacional de Juniores e a criação da Supertaça Feminina).

O aumento do número de jogadoras também era um dos pontos chave do PEDFF e, ao fim de 3 anos, também essa realidade já é bem visível e traduzida em números (na última época observa-se um crescimento em 35,2% no número de praticantes, como se pode observar na imagem abaixo e informação solicitada à FPF).
PrintScreen do sítio da FPF (http://indicadores.fpf.pt/)

Em 2016/2017 arranca a 1ª edição da Liga Allianz com a entrada direta do Sporting CP, SC Braga, o GD Estoril Praia e o CF "Os Belenenses" (clubes que aceitaram o repto da FPF), juntamente com os clubes que transitaram do Campeonato Nacional da 1ª divisão e os que subiram da divisão inferior.

Com a entrada, especialmente, do Sporting CP e o SC Braga, assiste-se a um fenómeno que consistiu no regresso de um conjunto de jogadoras que evoluíam em campeonatos bem mais competitivos que a nossa Liga Allianz. Ainda serão precisos mais uns anos para que esta seja competitiva o suficiente para termos mais que duas equipas a lutar pelo troféu e o desnível entre equipas não seja tão acentuado, como se verifica atualmente.

Mas, retomando rapidamente a tentativa de explicar como chegámos ao patamar em que nos encontramos atualmente, além das medidas institucionais por parte da FPF, é preciso salientar alguns aspetos:

  • desde 2015, que a seleção nacional tem uma base mais ou menos fixa de 15/16 jogadoras que estão sempre presente em todas as convocatórias (salvo motivo de lesão) e que têm crescido internacionalmente em conjunto (Patrícia Morais, Carole Costa, Matilde Fidalgo, Mónica Mendes, Sílvia Rebelo, Carolina Mendes, Cláudia Neto, Dolores Silva, Fátima Pinto, Vanessa Marques, Ana Borges, Diana Silva, Tatiana Pinto, Jéssica Silva, Laura Luís e Raquel Infante) e, ao mesmo tempo, vai integrando outras de forma a que o leque de escolha seja cada vez mais alargado. Além disso, algumas destas jogadoras já tinham participado no Europeu sub 19;
  • de todas as acima referidas, poucas são as que não jogaram nos campeonatos mais competitivos e, como tal, desenvolveram capacidades e competências adicionais para lidar com competições mais exigentes;
  • à medida que estas jogadoras foram crescendo e ganhando experiência internacional, a seleção nacional começou a ter mais argumentos para crescer;
  • o regresso de muitas jogadoras a Portugal para o Sporting CP e SC Braga fez com que a Liga Allianz tivesse um incremento na qualidade das praticantes. Obrigou, especialmente este dois clubes, a olhar para o futebol feminino de forma séria e profissional, dotando-as com as melhores condições existentes para que o seu desenvolvimento e crescimento não fosse interrompido. Poder jogar futebol (ou qualquer outra modalidade) profissionalmente é uma mais-valia enorme. Tomando, por exemplo, as convocatórias para a Algarve Cup dos anos 2015, 2016, 2017 e 2018 constatamos a diminuição do número de atletas que jogam no estrangeiro (11, 13, 10 e 6, respetivamente). As convocatórias nos dias que correm são dominadas por estes 2 clubes, que revela o trabalho de elevada qualidade que é desenvolvido por ambos. Manter as jogadoras motivadas e focadas numa competição com pouca competitividade não será tarefa fácil. Mas, a realidade é que na prestação individual de cada jogadora ao serviço da seleção nacional não se nota diferença (física e técnico-tática) entre as jogadoras convocadas oriundas de campeonatos mais competitivos;
  • entre 2015 e 2018 (até ao dia de publicação deste texto, além dos jogos oficiais e da Algarve Cup), Portugal realizou mais 16 jogos particulares tendo em vista as qualificações que decorriam nesses anos (2015: 6; 2016: 2; 2017: 6 e 2018: 2). Toda esta preparação e competição internacional contribuiu grandemente para o crescimento da seleção nacional, criando cada vez mais rotinas e melhorando estratégias competitivas, tornanando a equipa cada vez mais competente e com recursos variados. O compromisso da direção da FPF na promoção do futebol feminino começa a ter o retorno visível para bem de todos os atores envolvidos;
  • a participação na fase final do EURO2017 foi o culminar do crescimento que se vinha, ainda que timidamente, a assistir mas que já tinha deixado boa impressão na fulgurante fase final da qualificação e, posteriormente, nos jogos de playoff contra a Roménia, antevendo-se que o melhor estaria guardado para o futuro próximo;
  • quem estiver atento terá reparado também que a seleção nacional, desde 2015, foi sofrendo várias mudanças nos 11 titulares e na adaptação de jogadoras a lugares que não são os seus de origem. Fica sempre a questão de como seria se não fossem efetuadas estas adaptações. Mas, a realidade não deixa mentir, goste-se ou não (incluindo as próprias jogadoras), a prestação da seleção nacional começou a crescer quando estas mudanças foram sendo testadas e efetuadas gradualmente... pessoalmente, considero que estas alterações começaram a ver-se no jogo de qualificação Portugal 1 - 4 Espanha, disputado na Covilhã a 8 de abril de 2016. Se tiverem tempo e alguma paciência façam como eu e vão notar o que quero dizer.
Daí que, regressando ao titulo deste texto "Quo Vadis seleção nacional feminina", o caminho só pode ser em crescendo. A estratégia está montada e em afinação permanente. Cada vez mais cedo as mulheres e raparigas podem começar a praticar a modalidade de eleição que escolheram. Os quadros competitivos iniciam-se cada vez mais cedo. A possibilidade de jogarem entre e com rapazes só lhes traz vantagens, obrigando-as a desenvolver capacidades e competências para competirem de igual para igual como eles nas idades mais jovens.

As seleções nacionais jovens começam a proporcionar contacto internacional cada vez mais cedo, permitindo o crescimento competitivo das jogadoras mais precocemente (Portugal encontra-se na Holanda a disputar o Torneio de Elite Sub 17 e irá em abril discutir o mesmo torneio em Sub 19). A aquisição de competências técnico-táticas a nível do que melhor se pratica em Portugal começa em idades mais jovens (14-15 anos). Toda esta experiência acumulada é uma mais valia para quando alcançarem a seleção sénior. As diferenças entre as grandes seleções começam a esbater-se em ritmo acelerado.


A seu tempo, todas estas jogadoras vão querer o seu espaço ao mais alto nível... é aqui que os clubes nacionais vão ter que apostar! Na possibilidade de manter todas as jogadoras de topo a competir em Portugal. Para a edição 2019/2020 espera-se que já estejam 4 clubes da Liga Nos a competir de igual para igual na Liga Allianz. Desejo sinceramente que as restantes equipas consigam melhorar as suas condições e possam também manter as suas jogadoras.


A competição europeia de clubes vai ter que ter um representante que consiga passar a fase do mini torneio. Torna-se imperativo que também a este nível se consiga jogar contra as melhores das melhores. Acredito que qualquer dos responsáveis das equipas com mais possibilidade de lá chegarem têm esta ideia em pensamento. Não só no campo desportivo mas também pelo encaixe financeiro que daí advém.

O futuro avizinha-se risonho e capaz de nos proporcionar também muitas alegrias, a exemplo do que temos vivido e que nos estamos a habituar: a conquistar troféus mundiais e europeus. Podemos ter tido um período mais longo do que esperado mas antes tarde que nunca.

É um enorme orgulho ver o crescimento e consolidação da minha modalidade de eleição. O mérito é da direção da FPF, das equipas técnicas (e restante comitiva, nada se consegue sem o apoio incondicional de todos), mas permitam-me, é especialmente, das jogadoras que atualmente integram a seleção nacional, de todas aquelas que um dia esperam lá chegar e das que estão agora a começar a dar os primeiros pontapés na bola. O futuro pertence-lhes!

Foto: FPF

Eu acredito que vamos espalhar magia por todas as competições e estádios fora! Não sei se iremos estar no Mundial 2019, em França. Qualidade para lá estar não nos falta. Teremos que correr atrás do prejuízo de duas derrotas caseiras. Mas enquanto for possível matematicamente a esperança mantém-se inalterável.

Portugal sempre!

quarta-feira, 7 de março de 2018

Algarve Cup 2018: Portugal aos olhos de outros

Por altura que vos escrevo aguardo serenamente a hora de saída da equipa que acompanho (Japão) para o estádio da Bela Vista, no Parchal. 

É, possivelmente, o período mais calmo dos últimos dias. Tudo está organizado para que nada falhe no último jogo. 

Mas não é sobre a equipa do Japão que vou escrever umas linhas. É mesmo sobre a nossa seleção nacional que me tem enchido de orgulho. E digo isso com enorme felicidade pois o feedback que tenho tido, quer da equipa técnica do Japão quer dos colaboradores da unidade hoteleira onde estamos alojados, é de que estamos, efetivamente, melhores que em anos anteriores e que nos três jogos já disputados demonstramos isso inequivocamente. Enfrentamos os jogos de igual para igual, não nos amedrontamos em momento algum e a qualidade de jogo demonstrado é enorme. Foi, talvez, de há alguns anos a esta parte que a rotação das jogadoras no onze inicial foi mais visível e, ao contrário do que podíamos esperar, a equipa manteve sempre o mesmo registo, de elevada competência e capacidade competitiva. O futuro desta geração avizinha-se de brilhante e vai, com toda a certeza, ser acompanhada pelas jogadoras mais novas que evoluem agora nas seleções jovens. Eu não tenho dúvida disso! 

O facto de ser ex atleta tem as suas vantagens na maior proximidade com os treinadores e com a troca de ideias. E é isso que tenho feito com alguma frequência com a selecionadora  nacional do Japão. Dizia-me após o jogo de segunda-feira que teria sido fantástico poder defrontar Portugal no jogo final, seria um desafio interessante para as suas jogadoras. 

E não, não é por educação ou delicadeza (coisas em que os japonesas são campeões) que o diz. A este nível todas as seleções são estudadas até ao ínfimo pormenor e Portugal jogou com dois possíveis adversários (Austrália e China) das nipónicas na próxima competição em que irão estar envolvidas, a Asian Cup (abril) que irá ditar o apuramento das equipas da região asiática  para o próximo campeonato do mundo, em 2019. Por isso, esses dois jogos foram vistos com todo o detalhe e cuidado. 

Assim, seja lá qual for o resultado do jogo Portugal, novamente contra a Austrália, a participação da nossa seleção na 25.ª edição da Algarve Cup já é um sucesso mesmo antes de saber qual é a classificação final. Será, de longe, a melhor de sempre! E com ela vai trazer mais responsabilidade para as nossas jogadoras, equipa técnica e própria estrutura federativa. 

Que o jogo de hoje, independentemente do resultado final, seja mais uma demonstração da evolução sustentado da qualidade da nossa seleção nacional AA!

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Março - o mês do futebol feminino

Pode-se dizer que março (este ano final de fevereiro) é o mês, ano após ano, em que mais seleções femininas entram em competição, nos três torneios mais relevantes e reconhecidos como de grande importância na promoção e divulgação do futebol feminino (28 seleções no total).

O mais antigo de todos é a "nossa" Algarve Cup, cujo pontapé de saída ocorreu em 1994, numa organização conjunta da FPF com as federações nórdicas da Suécia, Noruega e Dinamarca. Escolheram o Algarve como destino, pelas suas potencialidades de alojamento e infraestruturas desportivas mas (atrevo-me a dizer), especialmente pelas condições atmosféricas favoráveis que é costume encontrar-se a sul do pais por essa altura do ano permitindo aos  nórdicos fugirem do frio que se faz sentir nos seus países. Num formato inicial de 6 equipas, passando para 8 (fórmula que foi repetida em 2016 quando neste período se realizaram os torneios de qualificação - zonas asiática e europeia - para os Jogos Olímpicos desse ano, no Brasil) e, finalmente, para as 12 seleções que se verifica atualmente.

Em 2008, aproveitando o facto de não ser possível dar resposta a todas as solicitações para a participação na Algarve Cup (que já tinha 14 anos de experiência, sempre em crescendo), surge a Women´s Cyprus Cup, disputada no mesmo período que o "nosso" torneio. Curiosamente, a seleção do Chipre nunca participou neste torneio.

Finalmente, em 2016, após a conquista do campeonato do mundo de 2015, os Estados Unidos da América divulgam a "She Belives Cup", que é uma extensão da campanha com o mesmo nome, concebida e desenvolvida pelas atletas da seleção feminina dos EUA, que se traduz num movimento para inspirar e encorajar as raparigas e mulheres na prossecução dos seus objetivos e sonhos, sejam eles desportivos ou de outro âmbito.

Uma coisa é certa, bons espetáculos estão garantidos em todos os torneios, uma vez que das 30 seleções melhor classificadas, somente 9 não estarão presentes nestes torneios. 

Vamos por partes.

Algarve Cup 2018:
O grande nome que surge, depois da nossa seleção (Portugal sempre), é a presença das duas seleções finalistas do EURO2017, Holanda (campeã) e Dinamarca (finalista vencida), numa final memorável com muitos golos e futebol de ataque (afinal não é disto que o povo gosta?). O ranking das seleções presentes neste torneio começa na Austrália (4), Canadá (5), Holanda (7), Japão (9), Suécia (10), Dinamarca (12), Coreia do Sul e Noruega (14), China (16), Islândia (20), Rússia (25) e termina com Portugal (38).

A Algarve Cup tem sido, ano após ano, o torneio de excelência na preparação da seleção nacional para os desafios futuros. Este ano não será exceção tendo em vista a recuperação para a qualificação do Campeonato do Mundo de 2019, em França. 

Foi, também, durante as edições iniciais o torneio que possibilitou às atletas de então defrontar seleções com um nível competitivo bem superior e permitir que estas crescessem. A competição internacional não tinha a dimensão atual e os momentos competitivos eram escassos para potenciar uma seleção que tinha estado em banho maria durante 10 anos. Se alguém tiver curiosidade, basta consultar o sítio da FPF e ver os resultados alcançados após a participação na Algarve Cup. Fica o desafio.

Os jogos da seleção nacional desta edição vão ser jogos contra seleções que habitualmente não ocorreriam se não fosse neste torneio, em especial contra a Austrália e China. A Noruega já é um velho conhecido e parceiro desta aventura no Algarve desde a primeira edição. Esperam-se bons espetáculos e que a nossa seleção ganhe sempre. Mas se isso não for possível, que permita e possibilite preparar e afinar estratégias para a qualificação que decorre. 

Women´s Cyprus Cup 2018
Este ano, a federação organizadora será a República Checa. O aparecimento desta competição permitiu que mais seleções estivessem em competição e serve, a exemplo da Algarve Cup, de preparação intensiva das seleções para as competições futuras. Os moldes da competição são iguais aos do "nosso" torneio e as seleções deste ano começam na Espanha (13, vencedora da edição passada da Algarve Cup, na sua primeira participação), Suíça e Itália (17), Áustria (21), Bélgica (22), Finlândia (28), República Checa (34), País de Gales (35), Hungria (43), Eslováquia (47), Trinidad e Tobago (48) e encerram-se com a África do Sul (54). 

Algumas das seleções que participaram inicialmente neste torneio "saltaram" para a Algarve Cup, casos da Holanda e do Canadá.

She Belives Cup 2018
Desde 2016,primeira edição desta competição que se realiza nos Estados Unidos da América, que as equipas que o disputam são sempre as mesmas: EUA (1), Alemanha (2), Inglaterra (3) e França (6), ou seja, as primeiras três do ranking FIFA. Excluindo a Inglaterra (participante assíduo da Women's Cyprus Cup), as selções dos EUA e da Alemanha "fugiram" da Algarve Cup, tendo qualquer uma destas seleções vencido várias edições, com os EUA à cabeça (10 triunfos). A Alemanha conquistou o troféu por 3 ocasiões.

Excluindo o quadrangular que se disputa no outro lado do Atlântico, podemos afirmar sem qualquer hesitação, se olharmos apenas para o ranking das seleções, que os jogos da Algarve Cup terão muitos mais motivos de interesse por parte dos adeptos do futebol feminino. No Chipre estarão duas seleções que disputam o apuramento para o Mundial com Portugal, Itália e Bélgica e contra quais Portugal terá que inverter os resultados alcançados para poder aspirar à qualificação.

Estes torneios, especialmente os que se disputam em solo europeu, despertam, ainda, a curiosidade de muitos agentes e representantes de jogadoras bem como movem observadores dos quatro cantos do mundo.

Que seja um período de excelência de preparação para a nossa seleção rumo aos objetivos futuros.

Se puderem, não deixem de se deslocar até ao Algarve e ver em ação algumas das melhores jogadoras e seleções mundiais. 

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Em que medida a menor competitividade interna poderá levar a perda de competitividade externa, tanto a nível de clubes como de selecção?

O título do texto de hoje é resultado de um comentário que foi colocado na nossa página do facebook. A questão é, sem dúvida, pertinente. Na altura, a resposta dada foi muito objetiva, "no limite, a falta de competitividade interna poderá condicionar, no futuro, o desempenho dos clubes nas competições europeias (UWCL) e das seleções nas fases de qualificação para as grandes competições". Esta afirmação pode, efetivamente, tornar-se uma realidade, mas só mesmo no limite e se ocorrer alguma catástrofe com o futebol feminino nacional. Pelo menos no que às seleções diz respeito. Aos clubes a realidade pode ser outra.
 
Vamos por partes começando pelas competições externas de clubes. Atualmente, para equipas femininas apenas se disputa a UEFA Women's Champions League (UWCL). Portugal esteve representado desde a primeira edições (ainda designada de Taça UEFA), no longínquo ano de 2001/2002, pelo Gatões FC. De todas as participações, em apenas uma das ocasiões se logrou passar à fase a eliminar, através do Ouriense, na época 2014/2015. 

Na época passada, o representante nacional foi o Sporting CP e, no seu ano de estreia, também não conseguiu passar à fase a eliminar. Esteve a um ponto de o conseguir mas a derrota no primeiro jogo contra a equipa BIIK-Kazygurt, do Cazaquistão não permitiu uma estreia em pleno. O Sporting sofreu o golo da derrota de uma jogada de bola parada (aliás, como sofreria outro semelhante na final da Supertaça desta época, contra o SC Braga). 

Podemos tirar várias conclusões mas a mais imediata é que nos jogos internos, excluindo os jogos com o SC Braga, o Sporting CP (o mesmo se aplica ao SC Braga) não é colocado a este tipo de exigências. As equipas poucas situações de perigo conseguem criar em jogo corrido e mais dificilmente têm jogadas de bola parada. De forma que, o que se treina (e acredito que é ensaiado vezes sem conta) não é o mesmo que encontramos em situação de jogo real. Mesmo imaginando que qualquer destas equipas pode ter acesso facilitado a jogos treino com os escalões de formação (masculina) do clube.

A falta de competitividade da atual Liga Allianz não permite ao Sporting CP nem ao SC Braga terem situações de exigência elevada para solucionar em contexto de jogo, exceto quando jogam entre si. E nestes casos, o que falhar menos e estiver mais inspirado, será o vencedor. 

A nível de seleções, realisticamente, a seleção AA feminina começou a ter um incremento na sua capacidade competitiva e a ter resultados desportivos consistentes quando as jogadoras procuraram outros países para continuarem as suas carreiras desportivas (com maior expressão a partir da época 2010/2011). As exigências competitivas de qualquer outra liga (espanhola, francesa, alemã ou  inglesa) não são comparáveis com a nossa Liga pelo que as jogadoras foram "obrigadas" a melhorar as suas capacidades físicas, técnico-táticas  e com isto efetuaram um upgrade na qualidade e capacidade nos jogos das seleções. Adicionalmente, a própria FPF, a partir da entrada da Direção atual, presidida pelo Dr. Fernando Gomes, melhorou consideravelmente as condições para o crescimento das seleções sendo exemplo disso o maior número de estágios e jogos particulares por época, não só na seleção AA mas também nas seleções jovens. É do conjunto destas duas situações que se começa a observar a evolução sustentada da seleção AA que culminou no histórico apuramento para o EURO2017.

Não sei se têm ideia mas das 25 convocadas inicialmente para essa competição, apenas 3 não representaram as seleções jovens nacionais (Amanda da Costa, Ana Leite e Suzane Pires – todas luso descentes). Além desta participação, as seleções femininas dos escalões de formação já tinham alcançado fases finais. No EURO 2012, no escalão sub 19 participaram 8 atletas (Mónica Mendes, Matilde Fidalgo, Vanessa Marques, Tatiana Pinto, Fátima Pinto, Andreia Norton, Diana Silva e Jéssica Silva). No EURO 2013, escalão sub 17, esteve presente a Diana Gomes. A espinha dorsal que constitui a atual seleção nacional de futebol feminino AA de Portugal começou a construir-se no longínquo ano de 2003 quando as atuais internacionais começaram a integrar a seleção sub 19, por onde todas passaram (excluindo as 3 referidas anteriormente). Dez anos mais tarde (2013), começa a atividade da seleção sub 17 e sub 16. Já no corrente mês deu-se o pontapé de saída da seleção sub 15.

Das atletas que integravam a convocatória inicial somente 5 prosseguem a sua carreira além fronteiras e continuam a ser "expostas" a campeonatos competitivos e de exigência elevada: Cláudia Neto (Alemanha), Carolina Mendes e Mónica Mendes (Itália), Raquel Infante (França) e Jéssica Silva (Espanha). Outras regressaram a Portugal, invariavelmente para o Sporting CP (Tatiana Pinto, Fátima Pinto, Ana Borges, Patrícia Morais, Carole Costa e Ana Leite) ou para o SC Braga (Dolores Silva, Laura Luís e Andreia Norton).

O futuro da nossa seleção AA está assegurado. O número de jogadoras cresce ano após ano, cada vez mais equipas apostam na formação desde escalões mais baixos permitindo aumentar a margem de recrutamento das jogadoras com mais qualidade e capacidade para as seleções mais jovens. Mas a questão da pouca competitividade da Liga Allianz também se coloca nas competições de sub 17 e sub 19. Será, então, que está assegurado o nível da competitividade que agora observamos e que tão bons resultados têm alcançado? Teremos que aguardar para obter a resposta a esta questão.

Uma coisa é certa, os grandes clubes não vão conseguir absorver todas as jogadoras de qualidade que estão a aparecer pelo que se poderá antecipar uma melhoria da competitividade na Liga Allianz, com a incursão de algumas destas jogadoras em outras equipas que evoluem na referida competição. 

Mas isto faz-me lembrar uma pescadinha de rabo na boca. As jogadoras vão começar (e bem) a exigir mais e melhores condições. As equipas, excluindo o Sporting CP e o SC Braga, podem não dispor da capacidade para proporcionar essas condições... que vão fazer? Deixam de jogar? Provavelmente irão tentar a sua sorte além fronteiras e voltaremos ao início... continuará a Liga a ser decidida a dois. Ou a três, à distância de 2 épocas, com o anúncio da entrada do SL Benfica já na próxima época no Campeonato de Promoção. Creio que uma das próxima estratégia para aumentar o sucesso e competitividade da Liga Allianz terá que passar, forçosamente, por dotar os clubes com mais e melhores condições de forma a que possam acomodar os pedidos das jogadoras e, desta forma, evitar a sua ida para o estrangeiro. É fácil de concretizar? Naturalmente que não, senão já estaria em prática! Mas, não se pode esperar que seja a FPF a resolver todos os problemas. Cabe aos clubes também apresentarem propostas e sugestões em sede própria.

Um exercício rápido para finalizar: quando começou a seleção AA masculina a conseguir obter resultados de elevado nível e classificações honrosas que terminou, para já, com a conquista do EURO2016? (nota: do EURO1996, apenas falhou a qualificação para o Mundial 1998, disputado em França. De então para cá marcou presença em todas as fases finais de Campeonatos da Europa e do Mundo). 

Perceberam onde quero chegar? Isso mesmo, quando os nossos melhores jogadores (a geração de ouro e as que lhes seguiram) começaram a ser contratados para clubes que disputam campeonatos bem mais competitivos que a Liga NOS, com outras exigências e múltiplas competições.

Que o futebol feminino nacional possa continuar a sua curva ascendente.
Continuação de Boas Festas!

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Portugal - Itália: um resultado injusto (28/11/ 2017, Estoril)

Há 17 anos, em Portalegre, no dia 22/11/2000, Portugal também jogou contra a Itália, num jogo de playoff para o Campeonato da Europa de 2001. Curiosamente, também teve transmissão televisiva.

Começo este texto recordando esta memória porque nesse dia as condições atmosféricas foram em tudo semelhantes às ontem verificadas no Estoril, um dia de chuva intensa e que transformaram o campo de jogo em Portalegre numa autêntica piscina. Os delegados da UEFA ponderaram seriamente o adiamento do jogo dadas as condições de impraticabilidade do terreno de jogo (a bola boiava sobre a relva e a bomba de água não dava conta do recado para escoar a mesma). A delegação italiana estava decidida a resolver o playoff nesse dia e opôs-se à mudança do dia do jogo, conforme o regulamento estipulava à data. Acredito que esta posição só foi assim assumida dado que tinham uma confortável vantagem de 3-0 do jogo da 1ª mão.

O jogo esse mais pareceu polo aquático uma vez que o campo nunca chegou a ter as condições mínimas para a realização de um jogo de futebol. O resultado foi favorável às nossas cores, 1-0, ainda assim insuficiente para qualquer outra coisa que não somar uma saborosa vitória em condições adversas. Não referi, propositadamente, que a diferença de nível entre a seleção portuguesa e a italiana, em 2000, era notória e significativa mas num campo naquelas condições era impossível observar a superioridade italiana.

Ontem, no Estoril, o terreno de jogo não estava sequer perto do ocorrido em 2000 e a diferença de nível, determinado pelo ranking europeu, não se viu. O que se viu foi a seleção nacional a controlar a seleção italiana, a tapar todos os caminhos para a sua baliza e a desperdiçar oportunidade atrás de oportunidade, que se viriam a revelar fatais para o resultado final. Tinha afirmado no dia anterior, que o jogo seria resolvido nos detalhes, como se veio a verificar. A Itália teve 2 oportunidades de golo flagrantes. Marcou uma e a Patrícia Morais defendeu a outra.

Mais do que as opções assumidas pela equipa técnica nacional na disposição das jogadoras no sistema de jogo adotado, deslocando algumas para posições que não são as suas habitualmente nos clubes (ficaremos sempre na dúvida se nas suas posições habituais o rendimento individual em prol do coletivo seria ou não superior), o que é mais preocupante são as oportunidades flagrantes  (eu contei 7) que a nossa seleção não conseguiu concretizar. A Itália teria sido vergada à sua qualidade atual, longe dos tempos áureos em que foi uma das seleções europeias mais temíveis. É certo que a árbitra espanhola viu uma falta no golo anulado à Raquel Infante que só ela conseguiu ver. Que não teria tido a importância que veio a ter no resultado se Portugal conseguisse concretizar, pelo menos, 50% das oportunidades claras que criou, seja em bola corrida seja em bolas paradas.

O resultado é injusto dado o caudal ofensivo, com jogadas de elevada qualidade e muita personalidade da equipa, nunca mostrando inferioridade e sem temer a diferença de ranking mas uma equipa que quer lutar pelo apuramento não pode desperdiçar tantas oportunidades flagrantes de golo, nomeadamente contra os adversários diretos.

E assim se desperdiçam 6 pontos (derrota em Penafiel com a Bélgica, a 24/10/2017), que nos colocaria no topo do grupo 6, a par da Itália (que lidera o grupo mas já tem 4 jogos disputados) e a discutir o apuramento de igual para igual.

É possível reverter o cenário? Sim, sem qualquer hesitação, mas a tarefa que se avizinha não vai ser fácil.

Se acredito? Até ser matematicamente impossível, sempre!

E desejo que todos os portugueses acreditem. Só assim lá chegaremos!