(Foto: Anabela Brito Mendes) |
Já se sabe que o desporto em geral e o
futebol em particular é um veiculo de excelência (a exemplo dos concertos
musicais) para chamar a atenção da população mundial para causas de diversos
âmbitos, que necessitam de ajuda urgente para que os danos não atinjam
proporções (ainda mais) assustadoras quando há vidas humanas envolvidas.
Mais do que o resultado do jogo em
questão (vitória do Sporting CP pela margem mínima), o que se assistiu na
bancada é de realçar e deixa-nos a esperança que há vida para além de clubismos
fanáticos.
Ao apelo da Federação Portuguesa de
Futebol (um exemplo sempre que se fala de solidariedade, quem não se lembra das
ações relacionadas com os incêndios de Pedrogão Grande?), em conjunto com o
Sindicato dos Jogadores, Associação de Futebol de Lisboa, a disponibilidade do
Clube Futebol “Os Belenenses” para ceder o estádio e os clubes envolvidos, os
portugueses responderam “presente”. Foram mais de 15 000 adeptos presentes do
Estádio do Restelo (que bela moldura humana com uma fantástica paisagem de
fundo), dos dois clubes, misturados entre si (embora tenha existido a
preocupação da separação física de adeptos) e que fizeram a festa. Os cânticos
de cada clube não se deixaram de ouvir, cada qual puxou pela sua equipa mas num
ambiente descontraído, saudável e de consciência pelo motivo que se tinham
deslocado ao Restelo.
Vi, como há muito não via, famílias
inteiras nas bancadas. Cada qual envergando as cores do seu clube. À minha
frente estava uma família declaradamente sportinguista mas imediatamente atrás
estava uma família em que cada um tinha a sua preferência e não foi por isso
que deixaram de estar e festejar em conjunto.
As jogadoras foram as maiores promotoras
do evento. A sua entrega ao jogo e o respeito mútuo foram notas dominantes e a
fotografia final na cerimónia de entrega do troféu “Vicente Lucas” é uma imagem
a reter e a promover.
O jogo, esse, deu a primeira amostra do
que podemos esperar na próxima época na Liga BPI e demais competições, caso se
encontrem. Foi um jogo bem disputado, com inúmeras oportunidades de golo de
ambas as equipas e não existindo a pressão de pontos ou eliminatórias,
facilitou os intervenientes a proporcionar um bom espetáculo a todos no
estádio e aos que assistiram via televisão.
Bem sei, infelizmente, que em situação
de competição, outros valores se levantam, o clubismo sobrepõem-se muitas vezes
ao bom senso e acabamos por assistir a cenas que em nada dignificam os clubes e
o futebol em geral. Felizmente, que no jogo de sábado nada disto ocorreu e o
salutar convivo pré, durante e após o jogo foi a nota dominante. Não tenho
utopia de pensar que este ambiente se possa repetir nas futuras competições mas
que seria bom, lá isso seria.
Que não seja necessária outra catástrofe
para assistirmos (e vivermos de perto) a outro dia para recordar na história do
futebol feminino nacional, onde foi alcançado um novo máximo de assistência num
jogo de futebol feminino em Portugal.
Deixo-vos uma questão… se o jogo
contasse para uma competição interna, com entradas pagas (cujo valor podia ser
o mesmo, 2,5€), teríamos ido todos ao Restelo?
Eu, seguramente, iria! Só assim se
cresce e evolui.