quarta-feira, 25 de julho de 2018

Muda-se o "naming"... mantém-se tudo na mesma?

A propósito da celebração do contrato com novo patrocinador, Banco BPI e da redefinição do naming da Liga Feminina para Liga BPI levou-me a fazer algumas considerações se pensar que a UD Ferreirense teve que desistir da competição porque o clube fechou portas.

Aliás, este é o drama de todos os clubes "pequenos" que dependem da disponibilidade de um conjunto de pessoas, que por amor e dedicação ao clube não os deixam morrer. Mas, a determinada altura, independentemente dos motivos, essas mesmas pessoas desistem de lutar contra as adversidades, obstáculos e dificuldades e, por falta de alternativa, o clube encerra a sua atividade. Não serão tão poucos quanto isso mas quando se trata de um clube que tinha uma equipa a competir ao mais alto nível no futebol feminino nacional, as noticias correm depressa. Infelizmente, digo eu para as gentes de Ferreiros mas, especialmente, para as jogadoras e demais elementos que integravam esta equipa.

Retomando ao titulo do texto, a questão que levanto é se não se pode ponderar, nesta nova parceria, a possibilidade de serem facultados mais apoios aos clubes que disputam as competições femininas. Bem sei que a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) não tem (diretamente) essa responsabilidade mas, a exemplo do que ocorre na Taça de Portugal masculina, não será viável a atribuição de um valor de participação, desde a primeira eliminatória, às equipas participantes? Não tenho qualquer intenção de sugerir esse valor (desconheço os montantes negociados com o BPI e a percentagem que será alocada ao futebol feminino) mas creio que seria uma motivação adicional para todos os clubes. Numa época que tanto se fala e discute a igualdade de género será da mais elementar justiça que a FPF possa dar um passo em frente.

Não tenhamos ilusões. Excluindo os chamados clubes grandes, os restantes debatem-se com enormes dificuldades para poderem desenvolver a sua atividade. As fontes de receita são limitadas e os patrocínios escasseiam. Não obstante, assiste-se (felizmente) a que nenhuma adversidade e conhecimento desta realidade tem afastado os clubes de criarem equipas de futebol feminino, especialmente nos escalões de formação. O que não deixa de ser curioso pois daqui poderá surgir uma fonte de receita adicional devido ao valor que o clube poderá ser ressarcido (em caso de transferência) pelos anos de formação da atleta.

No limite, todas as melhorias nas condições dos clubes, irão beneficiar diretamente as seleções nacionais femininas pelo que a FPF irá obter, a um nível diferente, o retorno do investimento efetuado.

Mas esta é só a minha opinião pessoal. 
Todas são válidas e podem ser partilhadas.
Quem aceita o desafio?

(Texto de Maria João Xavier publicado originalmente no sítio do Sindicato dos Jogadores)

quinta-feira, 19 de julho de 2018

A lógica das escolhas femininas

O que leva uma jogadora trocar a Liga BPI pelo Campeonato Nacional da II Divisão (designação para 2018/2019 do Campeonato de Promoção), uma jogadora sub/18 preferir estar num clube de maior dimensão não jogando, do que estar num mais pequeno competindo todos os fins de semana (e assim trabalhar a sua evolução) ou ainda trocar a profissionalização num campeonato competitivo no estrangeiro, para ser profissional na equipa mais forte em Portugal, mas cuja competição não traz dificuldade digna de relevância e em que a única incógnita é saber a quantas jornadas do fim serão campeãs?
 
Nem sempre são lógicas e ambiciosas as escolhas das jogadoras portuguesas.
Num contexto ainda maioritariamente amador, razões como "gostarem do treinador, terem amigas na equipa" têm um peso maior na escolha da equipa do que objectivos competitivos. Ainda se opta muito pelo confortável e poucas são as que fazem uma inflexão e rumam para fora da zona de conforto.
Com a entrada de clubes como Sporting, Braga e Benfica surge uma nova opção. Poder trabalhar profissionalmente deixa de ser uma miragem em Portugal. Mas ainda assim, há quem faça escolhas mais com o coração do que com a razão. Doutra forma, como aceitar uma transferência quando se está num lote de terceiras escolhas para jogar?
Podemos argumentar que alguém tem de fazer essas opções e, de facto, assim é.  Mas quando ainda vivemos uma realidade em que as jogadoras de topo não são suficientes para preencher sequer metade das equipas da Liga Allianz, o desejável para a dinamização da competitividade seria que todas optassem por escolher a dificuldade, porque traz evolução, em vez do conforto.
Mas o desejável nem sempre é o que acontece e as escolhas das mulheres têm sempre uma forte componente emotiva.
Longe de ser uma crítica, até porque eu sou uma defensora das escolhas baseadas na felicidade a tout court, é mais uma constatação.
E que deve sempre ser tida em conta, quando se fazem grandes planos e projectos para o desenvolvimento do futebol feminino. Há uma variável bastante significativa que representa o espírito feminino, o seu estado de espírito mais propriamente, que não se compadece da previsibilidade necessária quando se projecta algo.
Isto não significa que as mulheres jogadoras não sejam confiáveis. São-no com uma determinação e entrega muito acima da média. Mas também se amofinam, ou se entusiasmam com maior frequência.
Com projectos profissionais as coisas tenderão a estabilizar? Talvez sim. Mas o futebol feminino em Portugal está longe de ter um panorama significativo de jogadoras profissionais. E, portanto, a maioria continuará a tornar a silly season do futebol, o chamado defeso, num vai e vem que entusiasma quem de fora observa.
E dá alguma vivacidade aos projectos.