quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Em que medida a menor competitividade interna poderá levar a perda de competitividade externa, tanto a nível de clubes como de selecção?

O título do texto de hoje é resultado de um comentário que foi colocado na nossa página do facebook. A questão é, sem dúvida, pertinente. Na altura, a resposta dada foi muito objetiva, "no limite, a falta de competitividade interna poderá condicionar, no futuro, o desempenho dos clubes nas competições europeias (UWCL) e das seleções nas fases de qualificação para as grandes competições". Esta afirmação pode, efetivamente, tornar-se uma realidade, mas só mesmo no limite e se ocorrer alguma catástrofe com o futebol feminino nacional. Pelo menos no que às seleções diz respeito. Aos clubes a realidade pode ser outra.
 
Vamos por partes começando pelas competições externas de clubes. Atualmente, para equipas femininas apenas se disputa a UEFA Women's Champions League (UWCL). Portugal esteve representado desde a primeira edições (ainda designada de Taça UEFA), no longínquo ano de 2001/2002, pelo Gatões FC. De todas as participações, em apenas uma das ocasiões se logrou passar à fase a eliminar, através do Ouriense, na época 2014/2015. 

Na época passada, o representante nacional foi o Sporting CP e, no seu ano de estreia, também não conseguiu passar à fase a eliminar. Esteve a um ponto de o conseguir mas a derrota no primeiro jogo contra a equipa BIIK-Kazygurt, do Cazaquistão não permitiu uma estreia em pleno. O Sporting sofreu o golo da derrota de uma jogada de bola parada (aliás, como sofreria outro semelhante na final da Supertaça desta época, contra o SC Braga). 

Podemos tirar várias conclusões mas a mais imediata é que nos jogos internos, excluindo os jogos com o SC Braga, o Sporting CP (o mesmo se aplica ao SC Braga) não é colocado a este tipo de exigências. As equipas poucas situações de perigo conseguem criar em jogo corrido e mais dificilmente têm jogadas de bola parada. De forma que, o que se treina (e acredito que é ensaiado vezes sem conta) não é o mesmo que encontramos em situação de jogo real. Mesmo imaginando que qualquer destas equipas pode ter acesso facilitado a jogos treino com os escalões de formação (masculina) do clube.

A falta de competitividade da atual Liga Allianz não permite ao Sporting CP nem ao SC Braga terem situações de exigência elevada para solucionar em contexto de jogo, exceto quando jogam entre si. E nestes casos, o que falhar menos e estiver mais inspirado, será o vencedor. 

A nível de seleções, realisticamente, a seleção AA feminina começou a ter um incremento na sua capacidade competitiva e a ter resultados desportivos consistentes quando as jogadoras procuraram outros países para continuarem as suas carreiras desportivas (com maior expressão a partir da época 2010/2011). As exigências competitivas de qualquer outra liga (espanhola, francesa, alemã ou  inglesa) não são comparáveis com a nossa Liga pelo que as jogadoras foram "obrigadas" a melhorar as suas capacidades físicas, técnico-táticas  e com isto efetuaram um upgrade na qualidade e capacidade nos jogos das seleções. Adicionalmente, a própria FPF, a partir da entrada da Direção atual, presidida pelo Dr. Fernando Gomes, melhorou consideravelmente as condições para o crescimento das seleções sendo exemplo disso o maior número de estágios e jogos particulares por época, não só na seleção AA mas também nas seleções jovens. É do conjunto destas duas situações que se começa a observar a evolução sustentada da seleção AA que culminou no histórico apuramento para o EURO2017.

Não sei se têm ideia mas das 25 convocadas inicialmente para essa competição, apenas 3 não representaram as seleções jovens nacionais (Amanda da Costa, Ana Leite e Suzane Pires – todas luso descentes). Além desta participação, as seleções femininas dos escalões de formação já tinham alcançado fases finais. No EURO 2012, no escalão sub 19 participaram 8 atletas (Mónica Mendes, Matilde Fidalgo, Vanessa Marques, Tatiana Pinto, Fátima Pinto, Andreia Norton, Diana Silva e Jéssica Silva). No EURO 2013, escalão sub 17, esteve presente a Diana Gomes. A espinha dorsal que constitui a atual seleção nacional de futebol feminino AA de Portugal começou a construir-se no longínquo ano de 2003 quando as atuais internacionais começaram a integrar a seleção sub 19, por onde todas passaram (excluindo as 3 referidas anteriormente). Dez anos mais tarde (2013), começa a atividade da seleção sub 17 e sub 16. Já no corrente mês deu-se o pontapé de saída da seleção sub 15.

Das atletas que integravam a convocatória inicial somente 5 prosseguem a sua carreira além fronteiras e continuam a ser "expostas" a campeonatos competitivos e de exigência elevada: Cláudia Neto (Alemanha), Carolina Mendes e Mónica Mendes (Itália), Raquel Infante (França) e Jéssica Silva (Espanha). Outras regressaram a Portugal, invariavelmente para o Sporting CP (Tatiana Pinto, Fátima Pinto, Ana Borges, Patrícia Morais, Carole Costa e Ana Leite) ou para o SC Braga (Dolores Silva, Laura Luís e Andreia Norton).

O futuro da nossa seleção AA está assegurado. O número de jogadoras cresce ano após ano, cada vez mais equipas apostam na formação desde escalões mais baixos permitindo aumentar a margem de recrutamento das jogadoras com mais qualidade e capacidade para as seleções mais jovens. Mas a questão da pouca competitividade da Liga Allianz também se coloca nas competições de sub 17 e sub 19. Será, então, que está assegurado o nível da competitividade que agora observamos e que tão bons resultados têm alcançado? Teremos que aguardar para obter a resposta a esta questão.

Uma coisa é certa, os grandes clubes não vão conseguir absorver todas as jogadoras de qualidade que estão a aparecer pelo que se poderá antecipar uma melhoria da competitividade na Liga Allianz, com a incursão de algumas destas jogadoras em outras equipas que evoluem na referida competição. 

Mas isto faz-me lembrar uma pescadinha de rabo na boca. As jogadoras vão começar (e bem) a exigir mais e melhores condições. As equipas, excluindo o Sporting CP e o SC Braga, podem não dispor da capacidade para proporcionar essas condições... que vão fazer? Deixam de jogar? Provavelmente irão tentar a sua sorte além fronteiras e voltaremos ao início... continuará a Liga a ser decidida a dois. Ou a três, à distância de 2 épocas, com o anúncio da entrada do SL Benfica já na próxima época no Campeonato de Promoção. Creio que uma das próxima estratégia para aumentar o sucesso e competitividade da Liga Allianz terá que passar, forçosamente, por dotar os clubes com mais e melhores condições de forma a que possam acomodar os pedidos das jogadoras e, desta forma, evitar a sua ida para o estrangeiro. É fácil de concretizar? Naturalmente que não, senão já estaria em prática! Mas, não se pode esperar que seja a FPF a resolver todos os problemas. Cabe aos clubes também apresentarem propostas e sugestões em sede própria.

Um exercício rápido para finalizar: quando começou a seleção AA masculina a conseguir obter resultados de elevado nível e classificações honrosas que terminou, para já, com a conquista do EURO2016? (nota: do EURO1996, apenas falhou a qualificação para o Mundial 1998, disputado em França. De então para cá marcou presença em todas as fases finais de Campeonatos da Europa e do Mundo). 

Perceberam onde quero chegar? Isso mesmo, quando os nossos melhores jogadores (a geração de ouro e as que lhes seguiram) começaram a ser contratados para clubes que disputam campeonatos bem mais competitivos que a Liga NOS, com outras exigências e múltiplas competições.

Que o futebol feminino nacional possa continuar a sua curva ascendente.
Continuação de Boas Festas!

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Liga Allianz 2017/2018: primeira volta concluída sem surpresas

Decorreu no passado domingo a última jornada da 1ª volta da Liga Allianz e, como antecipado anteriormente, não há surpresas a assinalar. A única surpresa é talvez a diferença pontual (5 pontos) do atual 1º (Sporting CP) para o 2º classificado (SC Braga).

A edição atual da Liga Allianz vai ser outra sem grande história para contar. Ainda que 5 pontos possa parecer recuperáveis, dificilmente o Sporting CP deixará fugir a conquista de mais esta competição, pela superioridade que tem demonstrado em todos os jogos disputados, com a construção de resultados convincentes, com maior ou menor dificuldade. As opções são variadíssimas e foram pensadas para consumo externo (algo que ficou aquém das expetativas) mas internamente é, seguramente, uma (boa) dor de cabeça para a equipa técnica a gestão de um plantel com tanta qualidade.

Relativamente à época passada, no final da 1ª volta, os dois lugares cimeiros estão invertidos. O líder era então o SC Braga com mais 2 pontos que o Sporting CP. Mas se nesta discussão mais nenhuma equipa se intromete, nas restantes posições observa-se que houve grandes alterações de uma época para a outra. Não iremos analisar pelos pontos conquistados porque como se recordam, a 1ª edição da Liga Allianz teve 14 equipas.

Por exemplo, na época passada, o 3º lugar era ocupado pelo Valadares Gaia e esta época trocou de posição com o Estoril Praia, que se encontrava no 7º lugar. O Clube Albergaria é o único que se encontra na mesma classificação, a 8ª posição. O Boavista, assim como o Ferreirense deram saltos significativos da época 2016/2017 para a atual, sendo atualmente o 4º e 6º classificados, respetivamente. O Vilaverdense saltou da 6ª posição da época passada para a 5ª na presente edição. Depois, assistimos à queda acentuada de duas equipas, que o ano passado estavam nos lugares cimeiros, CF Benfica (4º) e AD Francos (5º), que nesta altura lutam pela manutenção no escalão maior do futebol feminino nacional. O CF Benfica encontra-se no 9º lugar e o AD Francos imediatamente abaixo. Para terminar, na cauda da tabela encontram-se as equipas que subiram esta época à Liga Allianz, Cadima e Quintajense.

Posto isto, afirmo sem qualquer hesitação que a ambicionada competitividade da Liga Allianz só se vai observar na discussão das posições fora do pódio. Assumo que dito desta forma possa criar polémica mas conscientemente esta é a realidade. O que não deixa de ser um reconhecimento a todos os clubes que se encontram atualmente fora do pódio pois continuam insistentemente a defender o futebol feminino nacional com todas as dificuldades com que se deparam diariamente. São dois campeonatos à parte. 

Daí que não acredito que haja alguma equipa  (excluindo o SC Braga) que se possa intrometer na caminhada do Sporting CP para a conquista imaculada desta edição da Liga Allianz. Não significa esta afirmação que não enalteça o trabalho, o querer, a motivação e a determinação das restantes equipas mas as" armas" são muito desiguais. Nem mesmo a equipa que melhor se reforçou este ano, o Estoril Praia, terá argumentos para se meter na disputa a dois. Admito com relativa facilidade que o venha a conseguir, jogadoras com qualidade não lhe faltam mas não será, seguramente, esta época.

Não me canso de repetir que o regresso do Sporting CP e do SC Braga ao futebol feminino foi fundamental para assistirmos ao aumento significativo da visibilidade mas, em oposição, veio criar uma enorme clivagem entre as restantes equipas e no interesse que a própria competição possa despertar na comunicação social (veículo indispensável para a divulgação da modalidade).

Ainda vai demorar tempo até que possamos aspirar a ter a competição mais representativa do futebol feminino nacional com níveis de competitividade elevada e incerteza do vencedor até ao fim.

Imagino os argumentos/estratégias que os responsáveis técnicos das duas equipas no topo da classificação têm que definir individualmente para manter as suas atletas motivadas e focadas na competição. Qualquer deslize poderá ter consequências inesperadas.

Ainda que não acredite, de todo, que isso possa acontecer!

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Sensibilidade e bom senso

Neste árduo caminho de desenvolvimento do futebol feminino em Portugal, nem todas as coisas precisam de grande investimento para serem postas em prática. Uma das mais importantes, porque dá rosto ao que se faz, é a divulgação nas redes sociais das actividades das equipas.

Nesse aspecto já grande parte das equipas, de todos os escalões e competições, têm procurado corresponder ao que à era da comunicação se exige: se não se vê, não existe.
 
Claro que este trabalho de documentação fotográfica e arquivo online é feito, em mais de 90% dos casos, por pessoas que directa ou indirectamente estão ligadas às equipas e por alguns fotógrafos amadores que têm páginas próprias e aí publicam o seu trabalho.
 
Dizem os regulamentos que só quem tem colete do CNID pode estar dentro do recinto de jogo para fotografar. Logo, à partida a maioria das pessoas que fotografa os jogos está limitada à vista das bancadas ou, em melhor opção se a houver, junto ao varão que rodeia os campos. O que não permite um trabalho de grande qualidade.

Felizmente, as árbitras vão estando sensibilizadas para a importância da divulgação das imagens do jogo e vão permitindo, a quem solicita, a permanência dentro do campo, na zona restrita para os fotógrafos. De salientar que, quem vai fazer este trabalho, tem de estar consciente que tem de ter um comportamento correcto e adequado à circunstância.
 
A própria FPF, ciente da importância da divulgação e numa atitude de sensibilidade e bom senso, tem credenciado alguns fotógrafos amadores nas finais da Taça de Portugal e na Supertaça e ainda em alguns jogos das Selecções Nacionais.
 
Ora, se tudo está dentro dos parâmetros mínimos, qual a razão deste post?
 
É que, teimosamente, há uma árbitra que continua  a ser mais papista do que o papa, fazendo valer os regulamentos. Imagino que seja para se proteger. Mas quando todas as suas colegas o fazem, sem que ao que parece mal nenhuma tenha vindo ao mundo, um pouco de bom senso talvez ajudasse. Porque na verdade, todos precisamos uns dos outros. Certamente, a sua carreira não seria a mesma se não fosse o futebol feminino.
 
Talvez haja necessidade de se criar aqui uma figura legal, entre a FPF e as pessoas que querem desenvolver este tipo de trabalho, de forma a que toda a gente esteja devidamente identificada e não haja necessidade de contar com a boa vontade de quem dirige o jogo. Boa vontade essa que, volto a referir, na maioria dos casos existe.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

O mistério que se segue...

Depois do anúncio, no início da época aquando da Supertaça Cândido de Oliveira, da intenção de ter futebol feminino, esta semana o SLB tornou público que essa vai ser uma realidade já na próxima época - 2018/2019.
 
Apesar de iniciarem a sua participação no Campeonato de Promoção, em nada belisca a vontade da FPF em ter o maior número possível de grandes clubes a disputarem as provas femininas. Isso aliado ao crescimento do número de jogadoras federadas, nomeadamente nos campeonatos mistos, leva a crer que o projecto da FPF está vivo e para durar - e com todo o mediatismo que se impõe.
 
Depois da certeza da participação, uma dúvida paira no ar no universo do futebol feminino: quem será o treinador que vai liderar a empreitada?
 
Como é normal, já muitos nomes se vão lançando para o ar, alguns até para as páginas dos jornais. Nomes de gente que esteve, até há bem pouco tempo, ligada ao futebol feminino.
De entre esses nomes, há sempre um que é equacionado: o de Pedro Bouças, que passou pelo Futebol Benfica e deixou um palmarés digno dos melhores: 2 campeonatos, 2 Taças de Portugal e 1 Supertaça, a juntar duas prestações na Liga dos Campeões muito boas. Registe-se que nos mentideros do futebol feminino, ele foi dado com um pé no Belenenses e Sporting CP, tendo já algumas jogadoras contactadas. Portanto, da mais elementar justiça a lembrança do seu nome.
 
Infelizmente, quem faz as notícias opta pelo óbvio. Porque há, pelo menos, três nomes que estão disponíveis e deveriam ser recordados - independentemente da sua vontade em aceitar - pelo seu currículo e competência, mas que têm um senão: são mulheres. E as mulheres ainda são esquecidas sempre que se fala de futebol, mesmo que seja do feminino.
 
Falo de:
- Alfredina Silva - para além da sua experiência como jogadora, é treinadora há duas décadas, com provas dadas através de títulos conquistados e equipas a jogarem bom futebol
- Helena Costa - com experiências bem sucedidas em Portugal, com a conquista de títulos, e no estrangeiro em condições bastante difíceis como são os países árabes
- Susana Cova - uma larga experiência como treinadora das selecções jovens, tendo um vasto conhecimento da realidade portuguesa ao nível dos talentos
 
No futebol feminino é muito importante que o treinador/a tenha algum enquadramento com a realidade da modalidade. Não só ao nível da forma como se relaciona com as jogadoras, que queiramos ou não é diferente da dos jogadores, mas também, e mais importante, da qualidade média das outras equipas. É muito frequente um treinador que nunca treinou equipas femininas ficar deslumbrado com o que vê nas suas jogadoras, pensando que aquilo é o máximo, porque talvez inconscientemente esteja à espera de menos, e depois quando começa a ver as outras equipas é surpreendido.
Essa situação será menos frequente numa treinadora porque já foi jogadora - não conheço excepções - e conhece bem a realidade.
 
Independentemente da escolha do SLB, que só ao clube diz respeito, o que me fez escrever isto foi a vontade de ver reconhecido o trabalho que as mulheres treinadoras de futebol têm vindo a desenvolver. E fico à espera que essa seja uma mudança nestes novos tempos da modalidade em Portugal.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

SL Benfica - da promessa de agosto à realidade em 2018/2019

Ao fim de 4 meses do anúncio da possível aposta, pelo SL Benfica, no futebol feminino aquando da realização da Supertaça Cândido Oliveira surge agora a confirmação oficial que o projeto vai mesmo avançar.

Na perspetiva dos adeptos do futebol jogado pelas mulheres e raparigas é uma excelente notícia. Com a presença já do Sporting CP e do SC Braga, mais um nome de peso aposta no futebol feminino nacional e a expetativa é enorme. Naturalmente que não nos podemos esquecer do Boavista e do Estoril Praia, para referirmos somente os que evoluem na Liga NOS. Mas, ainda, mais importante é não nos esquecermos de todos os outros clubes que anos a fio têm mantido o futebol feminino e que não competem ao mais alto nível no futebol masculino. 

Naturalmente que estes esperados confrontos terão que aguardar, na melhor das hipóteses, pela época 2019-2020, uma vez que o SL Benfica irá começar pelo Campeonato de Promoção, algo que é de realçar e tirar o chapéu.

Se bem se recordam, quando se começou a falar da criação da Liga Allianz e de terem sido enviados convites a todos os clubes participantes na Liga NOS, ao contrário do Sporting CP e SC Braga, o SL Benfica declinou esse convite e a entrada direta para a competição. As razões são desconhecidas e para o caso não creio que sejam relevantes. 
 
A polémica na altura criada com estas entradas diretas (o Belenenses na altura também aceitou o convite e, entretanto, já extinguiu a sua equipa...) foi algo que não foi (obviamente) bem entendido e aceite pelos restantes clubes. Pessoalmente sempre afirmei que não concordava com esta entrada direta mesmo entendendo quais os motivos subjacentes à mesma (maior visibilidade para a modalidade, possibilitar melhores condições de trabalho para treinadores e atletas com vista ao crescimento do futebol feminino nacional).

A verdade é que nesta época e meia de mudança assistimos a muitos acontecimentos inimagináveis há meia dúzia de anos: a final da Taça de Portugal Allianz 2017/2018, registou a maior assistência de sempre de um jogo feminino (acima das 12 000 pessoas) com direito a transmissão no canal publico; o jogo (Sporting CP - SC Braga), que decidiu a Liga Allianz na época transacta foi jogado em Alvalade, com mais de 9000 pessoas a assistir e transmissão em canal por cabo; Portugal teve a sua primeira participação numa fase final sénior - Campeonato da Europa 2017, na Holanda.

Os desafios que se colocam para o futuro são imensos e o SL Benfica percebeu isso claramente. Pelo comunicado percebe-se que a decisão de avançar foi bem ponderada e as linhas mestras do projeto assim o demonstram.

Ao começar pelo Campeonato de Promoção, pessoalmente interpreto como tendo uma época para analisar e avaliar a implementação do projeto e poder aspirar a outros vôos quando alcançar a Liga Allianz, com etapas bem calculadas.

timing do anúncio oficial revela uma enorme perspicácia e vai implicar que os clubes atualmente dominantes (com ou sem atletas profissionais) tenham que rapidamente acautelar o seu futuro, na perspetiva de que nenhuma venha a ser reforço da recém criada equipa do SL Benfica. Mas, também para as restantes equipas é mais um motivo de preocupação com a possibilidade das suas melhores atletas poderem sair, mesmo que seja para jogar no Campeonato de Promoção.

Hoje já começou o destaque online. Aquiaquiaquiaquiaquiaqui e não procurei mais!

Irei ter atenção amanhã à imprensa escrita.

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Portugal - Itália: um resultado injusto (28/11/ 2017, Estoril)

Há 17 anos, em Portalegre, no dia 22/11/2000, Portugal também jogou contra a Itália, num jogo de playoff para o Campeonato da Europa de 2001. Curiosamente, também teve transmissão televisiva.

Começo este texto recordando esta memória porque nesse dia as condições atmosféricas foram em tudo semelhantes às ontem verificadas no Estoril, um dia de chuva intensa e que transformaram o campo de jogo em Portalegre numa autêntica piscina. Os delegados da UEFA ponderaram seriamente o adiamento do jogo dadas as condições de impraticabilidade do terreno de jogo (a bola boiava sobre a relva e a bomba de água não dava conta do recado para escoar a mesma). A delegação italiana estava decidida a resolver o playoff nesse dia e opôs-se à mudança do dia do jogo, conforme o regulamento estipulava à data. Acredito que esta posição só foi assim assumida dado que tinham uma confortável vantagem de 3-0 do jogo da 1ª mão.

O jogo esse mais pareceu polo aquático uma vez que o campo nunca chegou a ter as condições mínimas para a realização de um jogo de futebol. O resultado foi favorável às nossas cores, 1-0, ainda assim insuficiente para qualquer outra coisa que não somar uma saborosa vitória em condições adversas. Não referi, propositadamente, que a diferença de nível entre a seleção portuguesa e a italiana, em 2000, era notória e significativa mas num campo naquelas condições era impossível observar a superioridade italiana.

Ontem, no Estoril, o terreno de jogo não estava sequer perto do ocorrido em 2000 e a diferença de nível, determinado pelo ranking europeu, não se viu. O que se viu foi a seleção nacional a controlar a seleção italiana, a tapar todos os caminhos para a sua baliza e a desperdiçar oportunidade atrás de oportunidade, que se viriam a revelar fatais para o resultado final. Tinha afirmado no dia anterior, que o jogo seria resolvido nos detalhes, como se veio a verificar. A Itália teve 2 oportunidades de golo flagrantes. Marcou uma e a Patrícia Morais defendeu a outra.

Mais do que as opções assumidas pela equipa técnica nacional na disposição das jogadoras no sistema de jogo adotado, deslocando algumas para posições que não são as suas habitualmente nos clubes (ficaremos sempre na dúvida se nas suas posições habituais o rendimento individual em prol do coletivo seria ou não superior), o que é mais preocupante são as oportunidades flagrantes  (eu contei 7) que a nossa seleção não conseguiu concretizar. A Itália teria sido vergada à sua qualidade atual, longe dos tempos áureos em que foi uma das seleções europeias mais temíveis. É certo que a árbitra espanhola viu uma falta no golo anulado à Raquel Infante que só ela conseguiu ver. Que não teria tido a importância que veio a ter no resultado se Portugal conseguisse concretizar, pelo menos, 50% das oportunidades claras que criou, seja em bola corrida seja em bolas paradas.

O resultado é injusto dado o caudal ofensivo, com jogadas de elevada qualidade e muita personalidade da equipa, nunca mostrando inferioridade e sem temer a diferença de ranking mas uma equipa que quer lutar pelo apuramento não pode desperdiçar tantas oportunidades flagrantes de golo, nomeadamente contra os adversários diretos.

E assim se desperdiçam 6 pontos (derrota em Penafiel com a Bélgica, a 24/10/2017), que nos colocaria no topo do grupo 6, a par da Itália (que lidera o grupo mas já tem 4 jogos disputados) e a discutir o apuramento de igual para igual.

É possível reverter o cenário? Sim, sem qualquer hesitação, mas a tarefa que se avizinha não vai ser fácil.

Se acredito? Até ser matematicamente impossível, sempre!

E desejo que todos os portugueses acreditem. Só assim lá chegaremos!

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

A radiografia às equipas da Liga Allianz - considerações finais (IV)

Depois de termos partilhado a informação disponibilizada por 11 equipas que competem na Liga Allianz, é chegada a altura de tecer alguns comentários.

É nossa convicção que conseguimos responder ao desafio que nos propusemos e, concomitantemente, cumprimos a nossa promessa de não revelar nominalmente as equipas que se inserem em cada um dos relatos apresentados.

Teria sido bastante facilitada a nossa tarefa se tivéssemos colocado a tabela que construímos com a informação que os clubes nos cederam e organizássemos a escrita através dos dados compilados. Não obstante, do manancial de informação que recolhemos podemos afirmar seguramente que divulgamos cerca de 90% do total da informação recolhida. Acreditamos que as equipas irão reconhecer as suas realidades sem ser necessário identificá-las.

Podíamos ter ido mais longe? Sem dúvida, mas para "inicio de conversa", o que conseguimos já dará oportunidade para outras abordagens e perspetivas futuras.

O nosso lamento vai para a impossibilidade de termos a informação das 12 equipas que competem na Liga Allianz. Não foi por falta de insistência e de pedidos. Provavelmente não encontraríamos nenhuma informação diferente das que obtivemos, mas fica a dúvida.

Não tendo fórmula mágica ou alguma ideia brilhante de como será possível que os clubes proporcionem melhores condições (aos que se aplica, naturalmente), talvez essa fórmula ou ideia brilhante necessite de um empurrão da FPF mas também o comprometimento dos clubes com as suas equipas.

Um exemplo, não será viável, com a intermediação/chancela da FPF negociar com alguma cadeia de hotéis e contratualizar um pacote de preços que, pelo menos, permita às equipas ponderar a possibilidade de efetuarem alguma das suas viagens mais longas, na véspera? Talvez seja utopia da minha parte mas creio que compete aos clubes envolver a FPF na procura de soluções para poderem evoluir. Só desta forma a Liga Allianz crescerá e tornar-se-á cada vez mais competitiva. E, sendo a Liga Allianz mais competitiva, em melhores condições físicas chegarão as atletas convocadas aos estágios para as várias seleções nacionais. Não são estes os objetivos?

Não haverá parceiros de negócios no ramo automóvel com capacidade para disponibilizar uma viatura para auxiliar o transporte das equipas nas suas regiões? 

Ou mesmo uma empresa do ramo da hotelaria, não tem capacidade para oferecer o almoço à equipa da terra? A recomendação de "boca-em-boca" ainda é a que mais clientes cativa. Se a equipa estiver satisfeita, imaginem o quantidade de pessoas que podem ser futuros clientes. Há um sem número de oportunidades de ver o retorno da oferta à equipa.  

Como disse, não tenho nenhuma fórmula nem ideia que já não tenham pensado, mas sei que todas estas propostas só podem ser apresentadas a quem decide se forem traduzidas em números.

Terminamos como começámos a endereçar, mais uma, vez os nossos sinceros agradecimentos aos clubes pela sua colaboração:

- Sporting Clube Portugal;
- Sporting Clube de Braga;
- Clube Futebol Benfica;
- Boavista Futebol Clube;
- Valadares Gaia;
- Clube Albergaria;
- Estoril Praia;
- Vilaverdense;
- U. Ferreirense;
- Quintajense;
- UR Cadima.

Desejamos que tenham dado por bem empregue o tempo que dispensaram para responder às nossas solicitações.

Tenho a certeza que vos voltaremos a incomodar.

Sucessos desportivos e muita sorte.


sexta-feira, 24 de novembro de 2017

A radiografia às equipas da Liga Allianz - alimentação, viagem de véspera e patrocinador (III)

Hoje iremos abordar as três variáveis em falta, da informação que solicitamos às equipas. Começamos pelas questões da alimentação (o almoço em particular) nos dias de jogos.

Poderíamos assumir (erradamente) que quando as equipas são visitantes o almoço estaria incluído nas condições proporcionadas às atletas (e demais comitiva). Mas não, essa realidade não se observa em 4 equipas, quando as deslocações são  mais curtas, as atletas almoçam em casa e deslocam-se posteriormente para o jogo.



Em distâncias maiores, o almoço é disponibilizado pelo clube em 9 das 10 equipas. A realidade de uma equipa é que o almoço enquanto visitante, em deslocações longas, é parcialmente suportado pelo clube.

Se os cenários descritos acima se verificam enquanto visitante, os mesmos ocorrem enquanto visitados. As mesmas 4 equipas que enquanto visitante em deslocação mais curtas, também almoçam em casa nesta circunstância. Uma equipa, excepcionalmente, reúne-se para o almoço enquanto visitado. Nas restantes 6 equipas, as atletas reúnem-se para o período de almoço mesmo na posição de visitado. Em três equipas, o almoço decorre em instalações próprias dos clubes.



Os recursos dos clubes são limitados sabendo que em alguns esse limite não será tão curto como em outros tantos. A possibilidade de reunir a equipa previamente ao jogo à hora de almoço é sempre importante, seja na situação de visitado ou visitante. São momentos de partilha e união da equipa em torno do objetivo imediato (o jogo desse dia) mas que criam laços entre as atletas que muito podem contribuir para um ambiente saudável no seio da equipa, seja ela qual for. 

Se na variável "alimentação" nos deparámos com os cenários acima descritos é quase uma relação causa-efeito que as equipas não viajam de véspera, como se veio a confirmar. Apenas uma equipa assume que nos jogos com deslocações mais longas viaja sempre de véspera, uma outra equipa diz que essa decisão é tomada caso a caso e entra em consideração com a distância e as restantes 9 equipas viajam sempre no dia do jogo, independentemente da distância.

Que dizer? Não é a situação ideal, mas não existindo outra alternativa, não há mais que fazer que levantar muito cedo (especialmente quando os jogos são às 15h), percorrer os quilómetros  e desejar chegar nas melhores condições possíveis.

Para terminar as variáveis que solicitamos falta abordar a questão da existência ou não de patrocinador oficial. Nunca nossa preocupação saber os valores envolvidos nos patrocínios das equipas. 

Todavia, é relativamente simples ligar os pontos e perceber o motivo de algumas equipas não terem ajudas de custo para combustível ou terem que ser as atletas e comitiva responsáveis pelo transporte da equipa para os jogos e, ainda, não existir a possibilidade de se reunirem sempre para o almoço. Atualmente, das 11 equipas que nos disponibilizaram a informação 8 dispõe de patrocinador oficial, uma aguarda patrocinador e 2 não têm patrocinador oficial.

Este assunto de patrocinadores é sempre um assunto delicado. Não é de agora que o futebol feminino (ou melhor, o desporto feminino em geral) tem enormes dificuldades em encontrar um parceiro interessado em investir numa equipa. O retorno não é (nem será a curto prazo) minimamente rentável. Ainda assim, com a entrada dos ditos clubes grandes na Liga Allianz, verificou-se um aumento da visibilidade da competição mas que não é repartida de igual modo por todas as equipas (o que também não é novidade). As transmissões televisivas são uma realidade, os diretos através das redes sociais também são prática comum e a imprensa escrita começa a estar mais alerta para o futebol feminino.

Não obstante, o aumento de visibilidade (ainda) não se traduziu em melhores condições que os cubes (ou grande parte deles) como estes desejariam.

Com a descrição e análise destas três variáveis, terminamos a partilha da informação que nos foi disponibilizada pelas equipas. Teremos ainda um texto de considerações finais onde procuraremos deixar algumas reflexões sobre este nosso desafio.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

A radiografia às equipas da Liga Allianz - transportes (II)

Neste segundo texto vamos abordar a questão que maior dificuldade nos colocou quando recebemos a informação por parte das equipas. A informação entretanto recebida pelo Valadares Gaia já foi tipificada e incluída neste texto.

A disparidade entre o que cada equipa disponibiliza às suas atletas é abissal. A começar pelos treinos, encontramos clubes que são totalmente responsáveis pelo transporte das suas atletas para os treinos, através de carrinhas ou autocarros com locais próprios para a entrada das atletas.

Outra realidade descrita é o pagamento de ajudas de custo a atletas que utilizam os seus recursos próprios para se deslocarem para os treinos (e jogos enquanto clube visitado). Há, também, atletas quem se deslocam para os treinos de transportes públicos.

Encontramos várias equipas em que o transporte para os treinos é efetuado, através dos dirigentes e treinadores em conjunto com carrinhas dos clubes. 

Mas, encontramos, ainda, equipas cuja responsabilidade de chegar aos treinos é exclusivamente das atletas e treinadores, sem que haja qualquer comparticipação do clube nessas deslocações. E aqui, parece-me que será importante os clubes reverem as suas prioridades na atribuição de subsídios, ajudas de custo ou o que lhe quiserem chamar. 

Deveria ser regra as atletas não terem que pagar para ir treinar (ou jogar, já lá vamos). Até porque como se sabe os combustíveis não são propriamente baratos e é mais um encargo suportado pelas atletas/treinadores para praticarem o desporto que as apaixona. 

No que se refere aos jogos, aqui a questão divide-se dependendo da distância enquanto visitante. Para deslocações iguais ou superiores a 100 km, uma equipa desloca-se em autocarro próprio, outra recorre a autocarro próprio caso haja disponibilidade e as restantes socorrem-se (e bem) do protocolo estabelecido pela FPF e uma empresa de transportes.


Se a distância é inferior a 100 km, bom aqui também são evidentes as diferenças. Nos mesmos clubes onde as atletas e treinadores são responsáveis pelas suas deslocações (sem ajuda dos clubes), passa-se o mesmo quando os jogos são próximos das suas localidades.

Nas restantes situações, os clubes utilizam recursos próprios (carrinhas/autocarros) ou ainda outras alternativas (disponibilizados pelas autarquias) para transporte das atletas. Ou seja, podemos afirmar que 80% das equipas assegura o transporte das suas atletas enquanto visitante com distâncias mais curtas, independente da forma como o efetuam. 

E ainda bem que o fazem, especialmente por uma questões de segurança mas também por questão de rendimento desportivo das atletas que vão a conduzir antes do jogo. Não poderão ter, por muito que queiram, o mesmo rendimento que teriam se pudessem não ter essa preocupação.

Em jeito de conclusão será sempre preferível assegurar o transporte (quer para treinos quer para jogos) das atletas sem o recurso aos seus veículos. Especialmente no pós treino se a distância ainda for considerável, uma vez  que permitirá às atletas regressarem a casa mais descansadas do que ter que enfrentar uma viagem onde a concentração é exigência.

Também sei que se não for recorrendo a esta solução, as equipas a que me refiro possivelmente não teriam possibilidade de competir, o que é impensável quando conquistaram esse direito com todo o mérito. 

Daí que vos deixo uma reflexão (é minha e vale o que vale) sobre esta questão de utilização de veículos pessoais das atletas, treinadores e dirigentes por parte de algumas equipas, especialmente quando não há qualquer tipo de contrapartida pelos clubes. São vários os cenários que podemos traçar e perceber que é uma enorme risco as atletas, treinadores e dirigentes recorrerem às suas viaturas. Em caso de acidente, por mais ligeiro que seja, coloca-se de imediato a questão da responsabilidade. Em caso de agravamento do prémio do seguro por ativação deste, será quaisquer uma das pessoas referidas acima a suportar o custo acrescido.

Desejo sinceramente que os clubes com maiores dificuldades neste âmbito consigam alternativas para melhorar as condições oferecidas às atletas.

Ainda se joga por “amor à camisola” mas cada vez mais convém fazê-lo em segurança!

terça-feira, 21 de novembro de 2017

A radiografia às equipas da Liga Allianz - treinos, logística e apoio clínico (I) - Adenda

Na noite de ontem, após a publicação do primeiro texto recebemos a informação do Valadares Gaia, a qual agradecemos.

Uma vez que não é possível reescrever o texto de forma a manter os pressupostos previamente definidos mas podemos afirmar que a informação que nos foi gentilmente cedido pelo Valadares Gaia, nestas três variáveis, é muito idêntica ao que encontramos e relatámos no texto de ontem. Não observámos uma nova realidade pelo que toda a informação partilhada está atualizada.

Voltaremos amanhã com um novo texto e já com as informações do Valadares Gaia incorporadas.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

A radiografia às equipas da Liga Allianz - treinos, logística e apoio clínico (I)

Vamos hoje dar o pontapé de saída na apresentação e partilha da informação que as equipas nos disponibilizaram para este nosso desafio radiológico da Liga Allianz.

Propomo-nos realizar alguns passes em profundidade, a começar pelas questões associadas aos treinos, à logística e ao apoio clínico disponibilizado às equipas em contexto de treino e jogo. Desde logo o que nos chama a atenção, mais que o número de treinos semanais que as equipas realizam são as limitações para treinar, seja no campo onde jogam enquanto equipa visitada, seja na necessidade de partilhar o campo com outras equipas de formação do clube.

Há que convir que treinar 2/3 vezes por semana em meio campo (ou mesmo num campo de futebol 7, realidade de uma das equipas) não vai permitir que o treino tenha o mesmo resultado que dispor do campo inteiro. E essa é a realidade de outras 4 equipas que participam na Liga Allianz (duas partilham o campo com as suas equipas juniores femininas e outras duas com outras equipas de formação do clube).

Ou seja, ao todo, 5 equipas (50% do total das equipas que nos disponibilizaram informação) não dispõem de campo inteiro para realizar os seus treinos semanais e, desta forma, acreditamos que as suas estratégias podem ficar condicionadas para os jogos ao fim-de-semana.

Ora, com estas limitações de espaço para treinar, é natural que o número de treinos também seja adaptado à disponibilidade existente em cada clube. 

Das 4 equipas que partilham o campo de treino e a outra equipa que treina em campo de futebol 7, 4 treinam três vezes por semana, com horários a começar entre as 20h30 (3 equipas) e as 21h30 (1 equipa). A equipa restante do grupo que partilha o campo treina 4 vezes por semana (hora de início às 20h30).

Uma equipa treina 5 vezes por semana e encontramos ainda mais 3 equipas que efetuam 4 treinos por semana, com horários de início às 9h30, 16h30 e 21h15.

Há, no entanto, a salientar que das 6 equipas que treinam 3 vezes por semana, em duas delas há a preocupação de realizar um treino adicional sempre que não há jornada no fim-de-semana seguinte.

De uma forma geral, os clubes disponibilizam à equipa material desportivo para a realização dos treinos com a qualidade que se exige para quem compete ao mais alto nível nacional, sendo que em 2 clubes há a disponibilidade de utilização de ginásio às atletas.

O apoio clínico revela uma enorme evolução face ao que se observava há uma década quando tínhamos curiosos a tomar conta da "saúde" das atletas. Não pretendo melindrar ninguém mas a realidade é que muitas situações se prolongavam por falta de um diagnóstico correto e respetivo encaminhamento para o tratamento adequado. Mas, é a esses curiosos se deve (e muito) a recuperação de um sem número de atletas mas a exigência mudou. São cada vez mais os profissionais diferenciados que dão apoio às equipas, seja na presença nos treinos seja no acompanhamento aos jogos. Algumas equipas celebraram acordos com clínicas privadas para dar seguimento à recuperação das suas atletas dentro do que se exige para o retorno à competição sem limitações.

Sustentado nas informações transmitidas pelos clubes, considero que as limitações não se resumem à duração ou quantidade de treinos, mas também há que considerar a limitação das próprias atletas, que por questões académicas ou profissionais podem não estar presente em todos os treinos e, eventualmente, em alguns jogos, dependendo se é visitado ou visitante. Serão poucas as equipas em que esta realidade é inexistente e conseguem, semana após semana ter todas as atletas disponíveis.

Daí que, por vezes, o mais importante é recuperar as atletas invés de estar a alargar o número de treinos por semana. Não se pode exigir que atletas que trabalham um dia inteiro tenham a mesma disponibilidade física (e mental) para abordar um treino que não começa antes das 20h face a atletas que só têm a preocupação de treinar e jogar, semana após semana e que a essa hora já estão despachadas dos seus treinos. São cenários completamente desiguais e que tem reflexos no outcome das equipas.

A abordagem das atletas deve ser sempre a mais profissional possível (só assim se pode aspirar a evoluir) mesmo sabendo da enorme desigualdade de oportunidades. Os clubes fazem o que podem (às vezes o impossível) para proporcionar condições mínimas às suas atletas mas não é tarefa fácil. Alegra-me e dá-me alguma esperança ter conhecimento que algumas autarquias têm o cuidado de apoiar as suas equipas mais representativas e dotar as equipas de condições próximas das ideais para a prática desportiva. Era bom que fosse extensível a mais clubes/equipas.

Por vezes coloco-me a questão de qual seria a evolução de todas as atletas que competem na Liga Allianz se todas tivessem a mesma igualdade de oportunidades. Acredito que, a médio prazo, esta igualdade de oportunidades será uma exigência das atletas.

Um exercício simples: pensemos em todas as seleções de formação que Portugal tem e na qualidade das suas atletas (cuja responsabilidade na formação é dos clubes). É certo que nem todas chegarão a atletas de elite. É, também, certo que algumas ficarão pelo caminho. É, ainda, certo que outras irão continuar a carreira no estrangeiro conciliando a vida académica ou abraçando o profissionalismo. Mas é, ainda, mais certo que os clubes que atualmente mais e melhores condições oferecem não irão conseguir absorver todas essas atletas.

É um enorme desafio que se coloca aos clubes que estão na Liga Allianz e aos que aspiram lá chegar.

sábado, 18 de novembro de 2017

A radiografia às equipas da Liga Allianz - adenda

Contrariamente ao divulgado anteriormente (post de 09NOV2017), decidimos antecipar a publicação dos vários textos que integram o desafio a que nos propusemos. 

O motivo subjacente a esta decisão prende-se com o facto de se até ao dia de hoje não recebemos as informações das equipas que nos faltam, depois de várias insistências e pedidos, antecipamos que já não obteremos resposta. É um risco (calculado) que assumimos e se entretanto recebermos as respostas logo as enquadraremos nos textos. 

Assim, começaremos na próxima segunda-feira, dia 20 de novembro, com a publicação do primeiro de quatro textos relativos ao assunto em questão. 
Esperamos conseguir o vosso interesse até ao fim e agradecemos, desde já, a todos que possam partilhar e contribuir para a divulgação da informação gentilmente cedida pelos clubes já identificados.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

A radiografia às equipas da Liga Allianz - introdução

Quando nos propusemos escrever sobre a realidade das equipas que competem na Liga Allianz tínhamos a noção que iríamos dar os primeiros passos no levantar o véu das condições que os clubes oferecem às respetivas equipas.

Afirmamos, aliás, prometemos às equipas (nas pessoas que tiveram a gentileza de nos ajudar nesta tarefa) que não divulgaríamos a informação nominalmente (não é essa a ideia) e assim o iremos fazer. 

Por defeito profissional, assim que foram chegando as informações solicitadas deparei-me de imediato com uma limitação ao que nos propomos fazer. Um pequeno questionário de respostas de escolha múltipla teria sido o mais adequado para sistematizar a informação. Mas, em oposição, perdíamos a riqueza dos relatos e das descrições que nos remeteram. Acreditem, para nós, autoras deste blogue é um privilégio ter relatos tão sinceros e francos do que as equipas vivem, as facilidades de uns e as dificuldades de outros. No entanto, nas 10 respostas que recebemos consegue-se "sentir" a paixão por esta causa que é o futebol feminino.

Sem querer entrar em detalhes que podem tornar-se maçadores para quem lê é importante apresentar algumas informações básicas que sustentem este nosso texto e tenham algum fundamento que não seja o debitar o que conseguimos apurar.

Em primeiro lugar, apresentar os nossos sinceros agradecimentos aos clubes uma vez que sem a sua preciosa colaboração nada do que vamos apresentar nos próximos dias teria sido possível:
- Sporting Clube Portugal;
- Sporting Clube de Braga;
- Clube Futebol Benfica;
- Boavista Futebol Clube;
- Clube Albergaria;
- Estoril Praia;
- Vilaverdense;
- U. Ferreirense;
- Quintajense;
- UR Cadima.

Do ponto de vista cronológico, lançamos os primeiros alicerces a 20/09/2017. E continuámos:
- 21/09/2017 - pedido de colaboração ao Portal Futebol Feminino para remeter o email para os endereços eletrónicos dos clubes dado que não dispúnhamos de todos;
- 25-29/09/2017 - envio do pedido para os clubes que não tinhas conseguido alcançar no primeiro envio;
- 09/10/2017 - reforço do pedido para as equipas que ainda não tinham conseguido enviar as respostas;
- 05/11/2017 - pedido de colaboração à Carla Couto para solicitar a informação dado a sua rede de contactos diretos ser alargada devido às suas responsabilidades no SJPF  (obrigada Carla, foste nomeada desbloqueadora oficial do PeP);
- 24/11/2017 - data limite para receção da informação solicitada.

Depois de uma primeira análise de conteúdo das resposta (a sistematização sem perder a riqueza de informação é um dever para com as equipas), uma segunda análise permitiu tipificar as respostas e poder trabalhar a informação quer do ponto de vista qualitativo quer do ponto de vista quantitativo (quase parece um trabalho de investigação  - que não é - mas é o nosso comprometimento para com as equipas).

Com o manancial de informação que temos em mãos, decidimos apresentar a radiografia às equipas da Liga Allianz por capítulos. Esta opção foi assumida porque ao fim de meia dúzia de parágrafos já o interesse pelo tema e pela leitura teria desaparecido se o fizéssemos em texto corrido.

Temos 7 grandes pontos para abordar: treinos, apoio clínico, logística da equipa, refeições em dia de jogos, transportes (treinos e jogos), viagem de véspera e patrocinador oficial. Outras variáveis podíamos ter definido mas para o efeito estas são aquelas que a nossa experiência desportiva (quer como atletas quer como dirigentes) considerou mais relevantes .

E como estamos a falar de um espaço de partilha, como desejamos que o Passes em Profundidade seja reconhecido, todos os textos têm sempre a nossa opinião pessoal sobre o que escrevemos.
Obrigada pela vossa leitura. E se tiverem a amabilidade de partilhar, o futebol feminino poderá ficar ainda mais enriquecido.

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

O melhor onze: mérito ou rotatividade

Ter um plantel homogéneo, com duas alternativas para cada posição, é o desejo de todo o treinador. Pelo menos sê-lo-á em teoria. Na prática pode revelar-se um exercício duro de gestão e liderança.
Se por um lado, ter jogadoras à altura de substituir com a mesma qualidade, facilita as escolhas do treinador em casos de lesão e/ou castigos, por outro obriga-o a decidir por que tipo de gestão e liderança ele quer optar:
a) jogarem sempre as que ele considera estarem melhores
b) fazer um sistema de rotatividade
 
Em qualquer das opções, há consequências para lidar.  
 
Na primeira, a), jogando a maioria das vezes com as jogadoras que se apresentem melhor (seja física seja tacticamente), as menos utilizadas têm tendência a desmotivarem-se.
Na segunda, b), parecendo a mais consensual e a de mais fácil gestão dos egos das jogadoras, quem é melhor não sente recompensado o seu trabalho e qualidade.
 
Quando se trata de futebol feminino, estas circunstâncias são particularmente difíceis, porque as mulheres têm dificuldade em aceitar uma coisa só porque ela é assim. Têm necessidade de uma explicação lógica para a sua aceitação.
Portanto, um treinador com um plantel ideal vê-se perante a evidência de ser preso por ter cão e por não ter.
 
Para mim, apesar de nunca sequer ter tido a ideia de ser treinadora, é mais do que evidente que optaria sempre por aquelas que fossem as melhores. Ter coragem para fazer essa opção, nem sempre é fácil quando se gere um grupo de vinte e tal jogadoras, mas é o que é mais justo para todos.
Quem faz um desporto de competição tem de estar preparada para duas situações: jogar e não jogar. Claro que é difícil para quem joga menos, mas cabe ao treinador não ter receio de se explicar e manter a motivação constante mesmo nessas jogadoras.

Na longínqua época 1992/93, na equipa feminina do Sporting havia duas guarda-redes de nível idêntico: a Carla Cristina (que viria a ser a melhor guarda-redes nacional de sempre) e a Luísa Castro. O treinador, face ao dilema de ter de escolher, optava pela rotatividade. Perante a situação de saberem antecipadamente quando jogavam, e não jogavam, independentemente do que trabalhavam nos treinos, tiveram uma conversa com o treinador e disseram que ele tinha de escolher. Tinha de assumir a sua opção e elas aceitariam e trabalhariam a partir daí. E ele assim fez. Diga-se em abono de ambas que isto só aconteceu porque, para além de serem duas grandes guarda-redes, eram duas jogadoras de excepção, com grande sentido do dever, que jamais aceitariam estar a jogar em situação de favor. Esta rivalidade não impediu que desenvolvessem uma forte amizade, o que diz bem da personalidade de ambas e da sua postura em defesa dos interesses da equipa.