terça-feira, 27 de março de 2018

Quo vadis seleção nacional feminina?

Foto: FPF
Já ando há uns dias a pensar um texto direccionado para a evolução evidente da nossa seleção nacional feminina quando, nem de propósito, é divulgada a atualização do ranking FIFA, com a subida de dois lugares (de 38º para 36º).


Esta coisa de rankings nem sempre refletem o que se passa no terreno de jogo (quem não se lembra do Portugal - Itália, em que esta última não saiu cilindrada do Estoril por manifesta falta de eficácia das nossas jogadoras) e nem tão pouco o crescimento sustentado das diferentes seleções.


Como aqui chegámos? Para tal precisamos de recuar um pouco no tempo para encontrar uma resposta que tenha alguma credibilidade e possa, efetivamente, contribuir para a explicação do que estamos atualmente a assistir com a nossa seleção feminina mais representativa.


Jornal "A Bola" 09/03/2015
Se bem se recordam, em 2015, foi apresentado no Algarve o Programa Estratégico para o Desenvolvimento do Futebol Feminino (PEDFF), onde constavam as linhas mestras do que era preciso desenvolver, no imediato, para que fosse possível dar o passo seguinte desta modalidade que nos apaixona. A ideia era avançar com a entrada direta de clubes que competiam à data na Liga masculina através de convite a remeter pela FPF. A questão não foi de fácil aceitação por parte dos clubes que estavam no Campeonato Nacional da 1ª divisão, competição que viria a ser sucedida pela Liga Allianz. Adicionalmente a esta medida (a mais polémica, sem dúvida) outras estavam plasmadas no referido documento e já são uma realidade (por exemplo, Campeonato Nacional de Juniores e a criação da Supertaça Feminina).

O aumento do número de jogadoras também era um dos pontos chave do PEDFF e, ao fim de 3 anos, também essa realidade já é bem visível e traduzida em números (na última época observa-se um crescimento em 35,2% no número de praticantes, como se pode observar na imagem abaixo e informação solicitada à FPF).
PrintScreen do sítio da FPF (http://indicadores.fpf.pt/)

Em 2016/2017 arranca a 1ª edição da Liga Allianz com a entrada direta do Sporting CP, SC Braga, o GD Estoril Praia e o CF "Os Belenenses" (clubes que aceitaram o repto da FPF), juntamente com os clubes que transitaram do Campeonato Nacional da 1ª divisão e os que subiram da divisão inferior.

Com a entrada, especialmente, do Sporting CP e o SC Braga, assiste-se a um fenómeno que consistiu no regresso de um conjunto de jogadoras que evoluíam em campeonatos bem mais competitivos que a nossa Liga Allianz. Ainda serão precisos mais uns anos para que esta seja competitiva o suficiente para termos mais que duas equipas a lutar pelo troféu e o desnível entre equipas não seja tão acentuado, como se verifica atualmente.

Mas, retomando rapidamente a tentativa de explicar como chegámos ao patamar em que nos encontramos atualmente, além das medidas institucionais por parte da FPF, é preciso salientar alguns aspetos:

  • desde 2015, que a seleção nacional tem uma base mais ou menos fixa de 15/16 jogadoras que estão sempre presente em todas as convocatórias (salvo motivo de lesão) e que têm crescido internacionalmente em conjunto (Patrícia Morais, Carole Costa, Matilde Fidalgo, Mónica Mendes, Sílvia Rebelo, Carolina Mendes, Cláudia Neto, Dolores Silva, Fátima Pinto, Vanessa Marques, Ana Borges, Diana Silva, Tatiana Pinto, Jéssica Silva, Laura Luís e Raquel Infante) e, ao mesmo tempo, vai integrando outras de forma a que o leque de escolha seja cada vez mais alargado. Além disso, algumas destas jogadoras já tinham participado no Europeu sub 19;
  • de todas as acima referidas, poucas são as que não jogaram nos campeonatos mais competitivos e, como tal, desenvolveram capacidades e competências adicionais para lidar com competições mais exigentes;
  • à medida que estas jogadoras foram crescendo e ganhando experiência internacional, a seleção nacional começou a ter mais argumentos para crescer;
  • o regresso de muitas jogadoras a Portugal para o Sporting CP e SC Braga fez com que a Liga Allianz tivesse um incremento na qualidade das praticantes. Obrigou, especialmente este dois clubes, a olhar para o futebol feminino de forma séria e profissional, dotando-as com as melhores condições existentes para que o seu desenvolvimento e crescimento não fosse interrompido. Poder jogar futebol (ou qualquer outra modalidade) profissionalmente é uma mais-valia enorme. Tomando, por exemplo, as convocatórias para a Algarve Cup dos anos 2015, 2016, 2017 e 2018 constatamos a diminuição do número de atletas que jogam no estrangeiro (11, 13, 10 e 6, respetivamente). As convocatórias nos dias que correm são dominadas por estes 2 clubes, que revela o trabalho de elevada qualidade que é desenvolvido por ambos. Manter as jogadoras motivadas e focadas numa competição com pouca competitividade não será tarefa fácil. Mas, a realidade é que na prestação individual de cada jogadora ao serviço da seleção nacional não se nota diferença (física e técnico-tática) entre as jogadoras convocadas oriundas de campeonatos mais competitivos;
  • entre 2015 e 2018 (até ao dia de publicação deste texto, além dos jogos oficiais e da Algarve Cup), Portugal realizou mais 16 jogos particulares tendo em vista as qualificações que decorriam nesses anos (2015: 6; 2016: 2; 2017: 6 e 2018: 2). Toda esta preparação e competição internacional contribuiu grandemente para o crescimento da seleção nacional, criando cada vez mais rotinas e melhorando estratégias competitivas, tornanando a equipa cada vez mais competente e com recursos variados. O compromisso da direção da FPF na promoção do futebol feminino começa a ter o retorno visível para bem de todos os atores envolvidos;
  • a participação na fase final do EURO2017 foi o culminar do crescimento que se vinha, ainda que timidamente, a assistir mas que já tinha deixado boa impressão na fulgurante fase final da qualificação e, posteriormente, nos jogos de playoff contra a Roménia, antevendo-se que o melhor estaria guardado para o futuro próximo;
  • quem estiver atento terá reparado também que a seleção nacional, desde 2015, foi sofrendo várias mudanças nos 11 titulares e na adaptação de jogadoras a lugares que não são os seus de origem. Fica sempre a questão de como seria se não fossem efetuadas estas adaptações. Mas, a realidade não deixa mentir, goste-se ou não (incluindo as próprias jogadoras), a prestação da seleção nacional começou a crescer quando estas mudanças foram sendo testadas e efetuadas gradualmente... pessoalmente, considero que estas alterações começaram a ver-se no jogo de qualificação Portugal 1 - 4 Espanha, disputado na Covilhã a 8 de abril de 2016. Se tiverem tempo e alguma paciência façam como eu e vão notar o que quero dizer.
Daí que, regressando ao titulo deste texto "Quo Vadis seleção nacional feminina", o caminho só pode ser em crescendo. A estratégia está montada e em afinação permanente. Cada vez mais cedo as mulheres e raparigas podem começar a praticar a modalidade de eleição que escolheram. Os quadros competitivos iniciam-se cada vez mais cedo. A possibilidade de jogarem entre e com rapazes só lhes traz vantagens, obrigando-as a desenvolver capacidades e competências para competirem de igual para igual como eles nas idades mais jovens.

As seleções nacionais jovens começam a proporcionar contacto internacional cada vez mais cedo, permitindo o crescimento competitivo das jogadoras mais precocemente (Portugal encontra-se na Holanda a disputar o Torneio de Elite Sub 17 e irá em abril discutir o mesmo torneio em Sub 19). A aquisição de competências técnico-táticas a nível do que melhor se pratica em Portugal começa em idades mais jovens (14-15 anos). Toda esta experiência acumulada é uma mais valia para quando alcançarem a seleção sénior. As diferenças entre as grandes seleções começam a esbater-se em ritmo acelerado.


A seu tempo, todas estas jogadoras vão querer o seu espaço ao mais alto nível... é aqui que os clubes nacionais vão ter que apostar! Na possibilidade de manter todas as jogadoras de topo a competir em Portugal. Para a edição 2019/2020 espera-se que já estejam 4 clubes da Liga Nos a competir de igual para igual na Liga Allianz. Desejo sinceramente que as restantes equipas consigam melhorar as suas condições e possam também manter as suas jogadoras.


A competição europeia de clubes vai ter que ter um representante que consiga passar a fase do mini torneio. Torna-se imperativo que também a este nível se consiga jogar contra as melhores das melhores. Acredito que qualquer dos responsáveis das equipas com mais possibilidade de lá chegarem têm esta ideia em pensamento. Não só no campo desportivo mas também pelo encaixe financeiro que daí advém.

O futuro avizinha-se risonho e capaz de nos proporcionar também muitas alegrias, a exemplo do que temos vivido e que nos estamos a habituar: a conquistar troféus mundiais e europeus. Podemos ter tido um período mais longo do que esperado mas antes tarde que nunca.

É um enorme orgulho ver o crescimento e consolidação da minha modalidade de eleição. O mérito é da direção da FPF, das equipas técnicas (e restante comitiva, nada se consegue sem o apoio incondicional de todos), mas permitam-me, é especialmente, das jogadoras que atualmente integram a seleção nacional, de todas aquelas que um dia esperam lá chegar e das que estão agora a começar a dar os primeiros pontapés na bola. O futuro pertence-lhes!

Foto: FPF

Eu acredito que vamos espalhar magia por todas as competições e estádios fora! Não sei se iremos estar no Mundial 2019, em França. Qualidade para lá estar não nos falta. Teremos que correr atrás do prejuízo de duas derrotas caseiras. Mas enquanto for possível matematicamente a esperança mantém-se inalterável.

Portugal sempre!

segunda-feira, 19 de março de 2018

O patinho feio entre os cisnes


Tem hoje lugar a Gala da FPF, Quinas de Ouro. 
Neste evento de organização hollywoodesca, onde tudo é feito com pormenor e glamour, atribui-se prémios de melhores do 2017 a todas as vertentes sob a égide da FPF.
No futebol feminino na categoria de melhores jogadoras estão nomeadas Ana Borges (Sporting Clube de Portugal - Internacional A, campeã nacional e vencedora da Taça de Portugal e Supertaça em 2017), Cláudia Neto (VFL Wolfsburg - Internacional A e campeã nacional da Suécia em 2017) e... Joana Vieira (Clube Futebol Benfica - melhor marcadora da Liga Allianz em 2017).
Muitos se questionarão, num ano em que tantas jogadoras se destacaram entre as competições nacionais e de selecções, o que faz uma jogadora que nem sequer é internacional no meio de dois monstros como a Ana Borges e a Cláudia Neto.
A questão será pertinente para os mais desatentos do futebol feminino. Ou aqueles que só começaram recentemente a acompanhar. Ou ainda aqueles que só conhecem as jogadoras internacionais.
Sem desprimor para um leque de grandes jogadoras que ficaram de fora destas escolhas, a nomeação da Joana Vieira só parecerá estranha porque no seu currículo não existe a palavra internacional.
Ser melhor marcadora da Liga Allianz, ou de qualquer competição é um título a todos os níveis muito cobiçado. Sê-lo num clube que não o Sporting ou o Braga, não é tarefa fácil. Alcançá-lo nos minutos finais do último jogo da Liga é a cereja no topo do bolo.
Estamos a falar de uma jogadora que chega ao futebol em 2013/2014, já com 23 anos, trazendo consigo grandes credenciais, em termos de títulos e internacionalizações, no... rugby.
O que me parece de realçar, nesta nomeação da Joana, é que vale a pena sonhar. Que no desporto, como na vida, a perseguição de objectivos e a luta permanente para alcançá-los, deve ser o que nos norteia.
Não sei, objectivamente, quais os critérios para as nomeações. Mas esta dá à estampa aquela jogadora que se faz por si própria, que mesmo tendo poucas hipóteses vai à luta, que leva os jogos até aos segundos finais, que respeita e é comprometida com o futebol feminino, predicados essenciais para que a modalidade continue a crescer.
E a provar que o motivo da nomeação não foi fortuito, com 18 jornadas feitas, a Joana está no top 3 das marcadoras com 17 golos (menos 4 que Diana Silva do Sporting e menos 3 de Laura Luís do Braga).
Em resumo, parece-me relevante que existam jogadoras nestes eventos que não são mainstream, de momento que o justifiquem, obviamente, porque o futebol feminino não sobrevive só com jogadoras internacionais. E todas as outras que não o são, porque o lote é naturalmente reduzido, não podem sentir que têm um papel menos importante nesta caminhada.
O futebol feminino precisa de todas as jogadoras, independentemente das suas qualidades, desde que gostem de trabalhar e procurem a superação em cada momento.

Parabéns, à Ana Borges e Cláudia Neto pelo seu gigante talento e por nos fazerem delirar sempre que desencantam uma jogada que ninguém espera, e parabéns à Joana Vieira por esse enorme talento que é a entrega ao jogo sem limites.
Parabéns à FPF pela dignidade dos prémios.


quinta-feira, 15 de março de 2018

As bodas de prata da Algarve Cup

Inicia-se no próximo dia 28 de fevereiro a 25ª edição da Algarve Cup. Como já tínhamos dito anteriormente, março é o mês do futebol feminino e é de inteira justiça dizer que este torneio é o terceiro mais relevante depois do Mundial e dos Jogos Olímpicos. Nem a "fuga" dos EUA, da Alemanha e da França lhe retira a reconhecida  importância na preparação das 12 seleções que competem a sul do país.

Posso fazer-vos um retrato do que foram os últimos 25 anos da minha vida neste periodo que decorre a Algarve Cup - foi sempre passado a sul do país (só falhei a edição de 2016). 

Qualquer semelhança da primeira edição para a que está prestes a começar é pura coincidênca. A todos níveis o torneio cresceu e amadureceu. No longínquo ano de 1994 deu-se o pontapé de saída da 1ª Algarve Cup (inicialmente designado de Mundialito de futebol feminino) e para as atletas da altura foi o evento onde mais puderam crescer desportivamente e desenvolver as suas capacidades e competências individuais. Nesse tempo não havia redes sociais, destaque na comunicação social era dado às equipas que vinham de fora (o que se entendia) e era impensável ter a transmissão em direto dos jogos. Eram tempos diferentes então mas que tiveram a sua importância no desbravar caminho para o que se começa a concretizar nos dias de hoje. Por vezes penso que as jogadoras não têm noção da sorte de dispor das condições atuais e muito menos dos obstáculos que foram precisos ultrapassar para chegarem aos dias de hoje. 

Tenho, como se depreende, muitas histórias que guardo com muito carinho e que me enchem de orgulho. Guardo muitas e boas recordações das minhas 10 presenças enquanto atleta. Foi o período em que defrontei das melhores jogadoras de todos os tempos, que percebi que "não jogava nada" quando em confronto direto. Decidi que tinha  que fazer mais para poder diminuir a distância entre mim e elas (e consegui, digo-o sem qualquer falsa modéstia). Eu não gosto de perder e nessa altura era o resultado mais usual (mas ao qual nunca nos acomodamos ou resignarmos mas as outras seleções estavam num patamar demasiado elevado para uma seleção que teve um interregno de 10 anos conseguisse dar luta). Todos os jogos eram uma aprendizagem a reter. 

Fiz (vou fazer nesta edição das bodas de prata), a minha 14ª participação enquanto TLO  (Team  Liasion Officer) e a aprendizagem não para. Acompanhei seleções de quase todos os continentes e tive o raro privilégio de "trabalhar" com a seleção do Japão, em 2012, quando regressa à Algarve Cup como campeã mundial em título. Posso dizer-vos que esta foi a edição mais recheada de surpresas. A chegada do Japão ao aeroporto de Lisboa foi transmitida em direto para o Japão. Nesse ano, o Japão tinha mais de 100 jornalistas acreditados e que não arredavam pé de treinos/jogos sem antes falar com jogadoras e treinador.

Os jogos do Japão sempre foram transmitidos, em direto, independentemente da diferença horária (mais 9h no Japão) que obrigou a organização do torneio a marcar o início dos jogos para horas pouco usuais (12h10, por exemplo) e assim entrar no horário nobre de qualquer estação televisiva! Foi toda uma nova experiência.

A 25ª Algarve Cup também ficará guardada com muito carinho na minha cabeça. A convocatória para integrar o jogo das  Estrelas permitiu-me, passado quase 15 anos que pendurei as chuteiras, voltar a vestir a camisola de Portugal ainda que de forma simbólica. Foram umas horas repletas de alegria e boa disposição para comemorar o quarto de século da Algarve Cup.

Se bem que as únicas estrelas maiores são o próprio torneio e a aposta da FPF em nunca deixar cair o mesmo além de permitir o seu crescimento ano após ano.

Muita sorte e sucesso para todas as seleções mas em particular para a seleção portuguesa.

Que comecem os jogos!

quinta-feira, 8 de março de 2018

Um presente para o Dia da Mulher

A Selecção AA feminina alcançou ontem, após um triunfo de 1-2 sobre a Austrália, um inédito terceiro lugar na Algarve Cup. 
Nesta 25ª edição Portugal teve um desempenho acima de todas as expectativas, tendo ainda apresentado um futebol muitíssimo consistente e maduro. 
Quase que apetece dizer que demorámos um quarto de século (dito assim parece uma enormidade) para conseguirmos ter uma selecção adulta - na verdade, foi um pouco mais, visto que a primeira selecção surge nos anos oitenta. 
Este feito representa muito mais do que mera estatística. Para história será isso mesmo, números que ficarão gravados. Mas para quem acompanha o futebol feminino português, quem viu os jogos ou deles teve relatos, sentiu que o que aconteceu vai muito além dos resultados. 
O que aconteceu aqui foi um grito de independência da jogadora portuguesa, representada por uma selecção. Foi o dizer “estamos aqui, contem connosco” porque o futebol português tem, cada vez mais, de se conjugar no feminino! 
Porque sempre que a selecção joga, é como se milhares de jogadoras estivessem ali a pontapear a bola. Já nada poderá parar este movimento. 
Os clubes que não têm futebol feminino que se preparem para ter. Porque irão aparecer cada vez mais miúdas para jogar futebol. E tudo passa por uma questão de igualdade. Igualdade essa a que todas as mulheres têm direito e é obrigação dos clubes promovê-la. Porque a desculpa de que as mulheres não têm jeito para jogar futebol já não cola. 
Foi isto, basicamente, que a selecção feminina nos ofereceu para este Dia Internacional da Mulher: um novo estatuto para a mulher futebolista portuguesa. Aquela que sabe sofrer, que acredita, que olha nos olhos das adversárias mais fortes e as intimida. E, que por fim, consegue vencê-las! Ou seja, a emancipação dos preconceitos.
Se isto não é um belo presente para este dia, não sei qual será! 

quarta-feira, 7 de março de 2018

Algarve Cup 2018: Portugal aos olhos de outros

Por altura que vos escrevo aguardo serenamente a hora de saída da equipa que acompanho (Japão) para o estádio da Bela Vista, no Parchal. 

É, possivelmente, o período mais calmo dos últimos dias. Tudo está organizado para que nada falhe no último jogo. 

Mas não é sobre a equipa do Japão que vou escrever umas linhas. É mesmo sobre a nossa seleção nacional que me tem enchido de orgulho. E digo isso com enorme felicidade pois o feedback que tenho tido, quer da equipa técnica do Japão quer dos colaboradores da unidade hoteleira onde estamos alojados, é de que estamos, efetivamente, melhores que em anos anteriores e que nos três jogos já disputados demonstramos isso inequivocamente. Enfrentamos os jogos de igual para igual, não nos amedrontamos em momento algum e a qualidade de jogo demonstrado é enorme. Foi, talvez, de há alguns anos a esta parte que a rotação das jogadoras no onze inicial foi mais visível e, ao contrário do que podíamos esperar, a equipa manteve sempre o mesmo registo, de elevada competência e capacidade competitiva. O futuro desta geração avizinha-se de brilhante e vai, com toda a certeza, ser acompanhada pelas jogadoras mais novas que evoluem agora nas seleções jovens. Eu não tenho dúvida disso! 

O facto de ser ex atleta tem as suas vantagens na maior proximidade com os treinadores e com a troca de ideias. E é isso que tenho feito com alguma frequência com a selecionadora  nacional do Japão. Dizia-me após o jogo de segunda-feira que teria sido fantástico poder defrontar Portugal no jogo final, seria um desafio interessante para as suas jogadoras. 

E não, não é por educação ou delicadeza (coisas em que os japonesas são campeões) que o diz. A este nível todas as seleções são estudadas até ao ínfimo pormenor e Portugal jogou com dois possíveis adversários (Austrália e China) das nipónicas na próxima competição em que irão estar envolvidas, a Asian Cup (abril) que irá ditar o apuramento das equipas da região asiática  para o próximo campeonato do mundo, em 2019. Por isso, esses dois jogos foram vistos com todo o detalhe e cuidado. 

Assim, seja lá qual for o resultado do jogo Portugal, novamente contra a Austrália, a participação da nossa seleção na 25.ª edição da Algarve Cup já é um sucesso mesmo antes de saber qual é a classificação final. Será, de longe, a melhor de sempre! E com ela vai trazer mais responsabilidade para as nossas jogadoras, equipa técnica e própria estrutura federativa. 

Que o jogo de hoje, independentemente do resultado final, seja mais uma demonstração da evolução sustentado da qualidade da nossa seleção nacional AA!

quinta-feira, 1 de março de 2018

De se lhe tirar o chapéu

Portugal abriu a Algarve Cup com uma vitória inédita sobre a China por 2-1.
Este resultado terá, certamente, deixado os responsáveis chineses de olhos em bico. Não deveria estar no programa perder pontos com uma selecção que está o dobro dos lugares abaixo no ranking.
Mas, como soi dizer-se frequentemente, o futebol é um desporto fascinante por isto mesmo: a imprevisibilidade do resultado, mesmo quando tudo parece muito óbvio.
Não se pode, sequer, dizer que foi uma vitória fortuita. Apesar de alguma felicidade no segundo golo, Portugal teve outras ocasiões para marcar e ainda levou duas bolas à trave: na primeira parte pela Diana Silva (que belíssima jogadora ela se tornou) e na segunda pela Vanessa Marques. 
Aquilo que transpirou, do pequeno ecran do telemóvel em que vi o jogo, foi uma consistência e maturidade da parte da equipa portuguesa que me deixou sempre na expectativa de que iríamos dar a volta ao resultado.
E de fora ficaram dois monstros sagrados, que só não jogam se não puderem, mesmo que seja em lugares que não são habitualmente os seus: Dolores e Ana Borges.
Ou seja, a selecção portuguesa deu ontem uma imagem de quem respira saúde e alternativas.
Muito se falou de que, com o regresso de grande parte das internacionais para jogarem a Liga Allianz, o nível competitivo da selecção se ressentiria. Ontem, por exemplo, só jogaram de início duas jogadoras emigrantes: Mónica Mendes e Cláudia Neto. 
Até agora isso não tem sido muito notório. Talvez porque as jogadoras tenham regressado para dois clubes onde trabalham diariamente ao mais alto nível.
A liga portuguesa não é de facto amiga da alta competitividade; pelo menos, não aquela que é necessária para que a nossa selecção tenha o ritmo elevado, para almejar estar novamente numa fase final de uma competição. Tem de haver, seguramente, um empenho maior da parte das internacionais nos jogos em que, sabendo de antemão que vão ganhar, ainda assim não retirarem intensidade à sua prestação.
Talvez ajude o facto de saberem que estão a viver o sonho da profissionalização no seu país e, para muitas, no seu clube do coração. Uma oportunidade que não se pode desperdiçar e que, até agora, do que é dado observar de fora, todas têm levado muito a sério. 
Claro que nem tudo serão rosas, como sabe quem já por lá andou, mas o segredo está em vender o sonho da equipa unida e feliz.
Para nós, espectadores externos, o que interessa é o resultado posto em campo no dia do jogo.
Porque é só disso que se trata o futebol: um jogo fantástico de noventa minutos, em que uma equipa Portuguesa de vermelho deixa uma China amarela!