Nas últimas semanas decorreram vários jogos de relevo pelo mundo fora e que foram noticia não só pela importância das respetivas competições mas sim pelo número de espectadores que se deslocaram ao estádio para assistir ao vivo e a cores aos vários jogos.
Quem é que não se lembra da final do
Campeonato do Mundo de 1999, entre os Estados Unidos da América (EUA) e a
China, realizado nos EUA e que teve uma assistência de 90 185 espetadores?
Mas se a nível de selecções já havia
registos bastante animadores sobre o número de espectadores (basta recordar os
jogos da Holanda no seu país para o EURO 2017 e mais recentemente num dos jogos
de qualificação para o Mundial 2019), a nível de clubes não é frequente ter-se
informação tão detalhada. De forma que quando é divulgado que o jogo que iria atribuir
o título de campeão da Liga MX Femenil
(México) teve uma assistência de 51 211 espetadores no estádio, a surpresa é
enorme (pelo menos para mim foi). Mas não se ficou por aqui dado que a Final da
Taça de Inglaterra entre o Chelsea e o Manchester City levou ao Estádio de
Wembley 45 423 adeptos. É obra, há que reconhecer.
Internamente, não andamos longe do que se
vai vendo pela Europa fora. O aparecimento de equipas como o Sporting CP e o SC
Braga veio dar à modalidade um impulso (e destaque) nunca antes observado bem
como fez regressar a Portugal um conjunto de jogadoras que evoluíam em
equipas estrangeiras e, com elas uma melhoria significativa na qualidade dos
jogos. Aliás, os jogos do Sporting CP realizados em Alvalade representam as
maiores assistências registadas na Liga Allianz
e ambas as finais da Taça de Portugal, entre o Sporting CP e o SC Braga, as
maiores assistências no nosso futebol feminino (mais de 12 000 e 11 714
espetadores em 2016/2017 e 2017/2018, respetivamente). Pode parecer uma
tremenda injustiça para as equipas que andam há décadas a lutar pelo futebol
feminino nacional, mas a mercado funciona assim mesmo. Espero que consigam
crescer também com este destaque que agora se observa. Seria de elementar
justiça.
A juntar a esta assistência no estádio,
não podemos negligenciar os números fantásticos da assistência através da RTP 1, com mais de meio milhão de espetadores.
Para a próxima época teremos mais uma equipa a contribuir para esta dinâmica, o
SL Benfica, que mesmo entrando pelo Campeonato de Promoção vai apostar bem
forte para chegar à final da Taça de Portugal no ano de estreia.
Mas, como surgem estas assistências pouco
usuais no futebol feminino? Bom, isso pode ser explicado de várias perspectivas
mas a partir do momento em que a FIFA reconhece que o futebol feminino é o
futuro cria-se uma nova marca que, para ter sucesso, tem que ser apetecível
comercialmente. Tomando por exemplo Ligas tão competitivas como a alemã,
inglesa e francesa, regra geral, são equipas destas ligas que discutem o
apuramento para a Final da UEFA Women's Champions League (UWCL) até às últimas
eliminatórias (este ano estiveram nas meias-finais 2 equipas inglesas, Chelsea
e Mancherter City). A final deste ano, em Kiev, disputada entre o Lyon e o
Wolsburgo teve uma assistência acima dos 11 000 espetadores.
Quem se recorda da Final disputada, em
2014, em Lisboa? Foram 11 217 os espetadores que se deslocaram ao Estádio do
Restelo para assistir a três espectáculos num só... A vista fenomenal que o
estádio proporciona sobre Lisboa, a final entre o Wolsburgo e o Tyresö FF e no
final foram brindados com um concerto do Anselmo Ralph.
Mais recentemente, o
presidente da UEFA, Aleksander Čeferin, afirmou que a final da UEFA Women's Champions League irá tornar-se
num dos pontos altos do calendário por direito próprio. Tanto é que a edição de
2017/2018 foi a última em que ambas as finais desta competição se disputaram na
mesma cidade.
Se num dado momento a fórmula foi
importante para dar impulso à final feminina, atraindo mais comunicação social
e espetadores (uma vez que se disputavam com um dia de intervalo, feminina à
quinta-feira e a masculina ao sábado), atualmente torna-se cada vez mais
complicado conseguir logisticamente acomodar os milhares de adeptos que se
deslocam massivamente para as cidades onde se disputam as finais. Mas esta
separação permite, especialmente, promover cada vez mais a final feminina e
negociar direitos (televisivos, por exemplo) individualmente sem estar incluída
no pacote negociado para a final masculina.
É, sem dúvida, um avanço tremendo e uma
mudança na forma de pensar (e mesmo negociar). A cidade de Budapeste será o
palco para a final feminina de 2018/2019 enquanto a masculina será realizada em
Madrid.
Não só em Portugal se assiste à entrada
dos chamados clubes grandes no futebol feminino. Na vizinha Espanha apenas o
Real Madrid continua resistente mas os seus maiores rivais (Barcelona e
Atlético de Madrid) têm equipas que dão cartas pela Europa fora. Também de
Inglaterra chegam boas noticias, com a criação de equipa feminina no Manchester
United de forma a dar continuidade ao projeto de formação que tão boas
jogadoras têm formado para depois serem contratadas por outras equipas, que
agora serão adversárias. Mais recentemente, boas novas de Itália com o Milan a comunicar a intenção de criar uma
equipa feminina (através da aquisição dos direitos desportivos do Brescia) e,
com toda a certeza, discutir taco a taco as várias competições com a Juventus.
Sejamos honestos, são os clubes grandes
que movem multidões, que chamam espetadores aos estádios e "exigem"
mais atenção por parte das Instituições que regem o futebol feminino. A FIFA e
a UEFA viram e perceberam rapidamente que há um novo filão a explorar (e bem)
mas isso só ocorre porque o que se traduz dentro do terreno de jogo são
espetáculos de enorme qualidade técnico-táctica, através de jogadoras com
capacidades desportivas elevadas, capazes
de fazer maravilhas com a bola e assim captar e cativar os adeptos de futebol.
Se assim não fosse, o futebol feminino não se tornaria numa marca apetecível.
Sim, o futebol feminino vai ter destaque
por si só e vai mover multidões!
Porque fez por merecer esse destaque!
Porque a qualidade dos
jogos e as suas jogadoras assim o exigem!
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