A Taça de Portugal é, muito provavelmente, a prova que toda a gente quer ganhar.
Não só porque é mais fácil de sonhar com a final, mesmo estando-se numa equipa mais modesta, mas porque acontece num espaço que é mítico. É mítico por todas as gerações que já subiram aquela escadaria e foram consagradas na tribuna de honra, mas também pela sua própria construção, que faz com que a nossa cultura visual nos remeta para o Olimpo.
Em boa hora a FPF trouxe a organização da final no feminino para o Estádio Nacional. Subir aquelas escadas é uma sensação única, seja como vencido ou como vencedor. Em ambas as circunstâncias vislumbramos caras conhecidas que nos sorriem, mãos amigas que nos tocam, palavras que nos incentivam e consolam. Até, mesmo, os desconhecidos nos são confortáveis. Pode-se dizer que é um lugar de emoções muito fortes, que nos deixam à beira das lágrimas seja de alegria ou de tristeza.
Qualquer pessoa facilmente imagina, mesmo que nunca tenha ido ver um jogo no Estádio, o que se sente quando se sobe as escadas em último lugar e se recebe a Taça na tribuna de honra, aos olhos de todos os que estão cá em baixo. Sim, é essa a sensação que se tem quando se está lá em cima, vitoriosa: os outros, estão lá em baixo. Não por sobranceria, mas porque a emoção e a alegria são contagiantes e só pensamos em nós e em festejar com os nossos.
Mas, lá em baixo, depois da bancada central, no relvado onde ainda há momentos se disputava arduamente cada lance, está a outra equipa. Refém do fair-play, resiste estoicamente aos festejos das vitoriosas, aguardando que elas desçam, para depois ir procurar conforto junto dos seus.
E, na grande maioria das vezes, no relvado a assistir à coroação das vencedoras, estão jogadoras tão ou mais talentosas do que estas. Que num golpe de sorte poderiam ter ganho o jogo e estarem, naquele momento, de papéis invertidos.
Vem tudo isto a propósito da final de domingo, que opôs Sporting e Braga e no qual o primeiro saiu vencedor.
É reconhecido o valor do Braga enquanto equipa e as suas jogadoras são das mais talentosas em Portugal, sendo algumas internacionais portuguesas da mais fina estampa.
E quer o destino, há mais de uma época seguida, que essas mesmas jogadoras não consigam ganhar a Taça de Portugal. Algumas há, que nunca tendo conquistado sequer uma Taça, a perdem há três épocas consecutivas. Para a qualidade que evidenciam, é um castigo muito severo. E deixa em aberto uma ideia, que nem sempre é percebida por quem não está 'dentro' do futebol: os títulos dão currículo, mas quando se procura talentos tem de se ver mais além do que isso.
Imagino que, para essas jogadoras, o acordar na segunda-feira não tenha sido simpático. E que todas as frases feitas que se dizem nessas circunstâncias, não tenham sido recebidas da melhor maneira.
Mas, a verdade é que a vida prossegue. E a vida de uma futebolista prossegue também, tenha lá o desgosto o tamanho que tiver!
Agora é tempo de férias para algumas, para outras compromissos da selecção. E todos esperamos que a nova época traga uma energia revigorada e uma vontade enorme de mudar o rumo da história por parte de todas elas. A bem da competitividade do nosso futebol feminino.
[Texto de Anabela Mendes, originalmente publicado no site do Sindicato dos Jogadores]
Qualquer pessoa facilmente imagina, mesmo que nunca tenha ido ver um jogo no Estádio, o que se sente quando se sobe as escadas em último lugar e se recebe a Taça na tribuna de honra, aos olhos de todos os que estão cá em baixo. Sim, é essa a sensação que se tem quando se está lá em cima, vitoriosa: os outros, estão lá em baixo. Não por sobranceria, mas porque a emoção e a alegria são contagiantes e só pensamos em nós e em festejar com os nossos.
Mas, lá em baixo, depois da bancada central, no relvado onde ainda há momentos se disputava arduamente cada lance, está a outra equipa. Refém do fair-play, resiste estoicamente aos festejos das vitoriosas, aguardando que elas desçam, para depois ir procurar conforto junto dos seus.
E, na grande maioria das vezes, no relvado a assistir à coroação das vencedoras, estão jogadoras tão ou mais talentosas do que estas. Que num golpe de sorte poderiam ter ganho o jogo e estarem, naquele momento, de papéis invertidos.
Vem tudo isto a propósito da final de domingo, que opôs Sporting e Braga e no qual o primeiro saiu vencedor.
É reconhecido o valor do Braga enquanto equipa e as suas jogadoras são das mais talentosas em Portugal, sendo algumas internacionais portuguesas da mais fina estampa.
E quer o destino, há mais de uma época seguida, que essas mesmas jogadoras não consigam ganhar a Taça de Portugal. Algumas há, que nunca tendo conquistado sequer uma Taça, a perdem há três épocas consecutivas. Para a qualidade que evidenciam, é um castigo muito severo. E deixa em aberto uma ideia, que nem sempre é percebida por quem não está 'dentro' do futebol: os títulos dão currículo, mas quando se procura talentos tem de se ver mais além do que isso.
Imagino que, para essas jogadoras, o acordar na segunda-feira não tenha sido simpático. E que todas as frases feitas que se dizem nessas circunstâncias, não tenham sido recebidas da melhor maneira.
Mas, a verdade é que a vida prossegue. E a vida de uma futebolista prossegue também, tenha lá o desgosto o tamanho que tiver!
Agora é tempo de férias para algumas, para outras compromissos da selecção. E todos esperamos que a nova época traga uma energia revigorada e uma vontade enorme de mudar o rumo da história por parte de todas elas. A bem da competitividade do nosso futebol feminino.
[Texto de Anabela Mendes, originalmente publicado no site do Sindicato dos Jogadores]
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