... e (quase) ninguém deu por isso!
(Anteontem, fui sacudida pela notícia da morte da Júlia.
Nunca contamos com a morte, muito menos quando ela acontece em alguém da nossa geração, ou próxima.
Ainda tentei adiar e negar a sensação, colocando questões que ajudassem a identificar e que, neste caso, me trouxessem uma resposta negativa.
- A Júlia, que jogou no União de Coimbra, a médica? - que sim, essa mesmo.)
A Júlia Fernandes foi, a par da sua irmã Lurdes, uma das mulheres mais importantes do futebol feminino português. Juntas fundaram a equipa de futebol do União de Coimbra, nos meados dos anos 70, pioneira do futebol feminino, juntamente com o Boavista Futebol Clube.
Uma parte da História já começa a desaparecer e nada tem sido feito para a preservar e dar a conhecer.
Se hoje andamos a discutir quadros competitivos, escalões, selecções, foi porque mulheres como estas, desassombradas e de personalidade forte, ousaram bater à porta desse bastião masculino que era o futebol.
A maioria de vós, que se interessa pela modalidade nos tempos que correm, não saberá o que era Portugal nesse tempo, recém saído das trevas da ditadura. Mas era um país pobre e de mentalidade tacanha. Fazer vingar o futebol feminino foi um feito maior do que o apuramento para o Europeu, acreditem.
A Júlia Fernandes, uma das alma mater do futebol feminino português, já desapareceu. E a maioria das pessoas nem sabia que ela existia.
A Fátima Azevedo, um dos baluartes da história do Boavista, também já desapareceu. Quantos sabem da sua importância na História?
Poucos. E porquê?
Porque a História precisa de ser contada: por escrito, oralmente, em fotografias, em vídeos, palestras, programas de televisão, tudo e mais alguma coisa.
Porque é a memória que nos mantém vivos e humanos.
O futebol feminino está de luto e (quase) ninguém deu por isso!
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