O que acontece quando, a um lote de raparigas que querem
jogar futebol e não têm competição própria, se juntam treinadores e dirigentes
ousados e interessados em fazer com que essas jogadoras cresçam? Aguardam que
chegue a idade própria para competirem entre pares, sujeitando-se a que,
entretanto, algumas delas desistam do futebol e se virem para outro desporto?
Já foi assim, infelizmente.
Agora, aproveitando a onda de vitalidade que o futebol
feminino tem, os clubes inscrevem essas equipas nas competições onde
habitualmente só há equipas de rapazes.
Do que nos foi dado apurar, são cerca de uma dezena e
evoluem um pouco por todo o país, distribuídas por sete associações.
Competindo no escalão sub/13, consoante as regras que as
associações estabelecem para ajudar a encaixar na competição, as raparigas têm
entre 13 e 15 anos. Fantástica esta abertura e elasticidade por parte dos
órgãos associativos, demonstrando uma grande vontade em promover e fazer
crescer o futebol feminino. Poderia dizer-se, somente, que é a sua obrigação,
mas reconhecer o que está bem feito, para além de ser uma questão de justiça, é
uma forma de cumprimentar quem se esforça por fazer com que as coisas
funcionem. E, na verdade, todos nós gostamos de ser reconhecidos – é saudável
esse sentimento.
Mea culpa, mas o
primeiro contacto que tive com jogadoras deste escalão, e tipo de competição,
foi no Torneio de Albergaria em Junho passado. E logo tive a sensação de que
tinha andado a perder uma coisa fabulosa. Para quem, como eu, começou a jogar
com 17 anos, apesar de jogar na rua com amigos desde a escola primária, ver a
forma como estas miúdas evoluem em conjunto é fascinante.
Não se trata só da sua qualidade individual, que sim muitas
têm-na em abundância, mas da forma como já se comportam tacticamente. E a isso
não é alheia a qualidade de quem as orienta: tanto ao nível dos conteúdos de
jogo, mas também, e talvez mais importante ainda, a forma como se relacionam
com essas raparigas em formação. Como as chamam a atenção de forma quase
privada, em contraponto com gritos desmedidos para dentro de campo, como
explicam o que é para se fazer por ideias simples e de fácil entendimento, em
contraponto com os clichés do futebol que só servem para os treinadores se exibirem,
como exercem a sua autoridade com firmeza, mas sem hostilidade.
Todas estas qualidades são extremamente importantes num
treinador/a de equipas de raparigas/mulheres, mas quando elas estão em idade de
formação tornam-se fundamentais. É também chegada a hora dos dirigentes terem
estas coisas em atenção quando contratam treinadores ou treinadoras para as
suas equipas femininas. Vale a pena o esforço, porque os resultados serão
visíveis no crescimento das jogadoras e da equipa.
Voltando ao assunto inicial, vale muito a pena seguir o
trajecto de algumas destas miúdas que competem neste escalão. A dureza de jogar
contra equipas masculinas dá-lhes uma maior capacidade de abordagem aos lances,
e a todo o jogo em geral, e acredito que este será um caminho a ser seguido por
mais clubes.
Até porque, a médio prazo, se estas jogadoras vierem a celebrar contratos profissionais, darão o devido retorno ao investimento que os clubes fizeram nelas.
Até porque, a médio prazo, se estas jogadoras vierem a celebrar contratos profissionais, darão o devido retorno ao investimento que os clubes fizeram nelas.
[texto originalmente publicado no site do SJPF]
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