O momento que o futebol feminino atravessa em Portugal pode dizer-se que é de prosperidade e com futuro bastante auspicioso.
O aumento do número de jogadoras
inscritas na Federação Portuguesa de Futebol (FPF), ano após ano, demonstra que
o futebol começa a ser encarado como uma opção válida para as miúdas e
raparigas de praticar, de forma organizada e orientada, o seu desporto de
eleição (felizmente, cada vez em idades mais precoces). O chavão que o futebol
não tem género é cada vez mais atual.
A final da Festa do Futebol Feminino,
realizada a 26/05/2018, no Estádio Nacional, com mais de 900 miúdas e
raparigas, bem como as ações do mesmo evento organizado pela FPF em Braga,
Bragança e Porto (entre outras), a adesão foi um bom indicador do que podemos
esperar para os próximos anos. Não posso deixar de dizer que fiquei maravilhada
com a entrevista a uma jogadora que esteve no evento de Braga que à questão
“quando os meninos não te passam a bola, o que fazes?” dá uma resposta
deliciosa “tiro-lhes a bola”. São estas miúdas e
raparigas que agora começam que vão ser as nossas craques daqui a uns anos.
Assim tenham oportunidade para tal.
O apuramento histórico para o EURO 2017,
o primeiro no escalão sénior, permitiu um enorme impulso na perspetiva de
incrementar cada vez mais o número de praticantes. Não obstante o apuramento reconheço que
ainda levamos uns anos de atraso face a outras realidades europeias mas estamos
rapidamente a encurtar caminho. A criação da Liga Allianz, com a entrada do Sporting CP e do SC Braga (sem esquecer o
Estoril Praia e o Belenenses) enquanto clubes que evoluem na Liga NOS (e que
tendencialmente podem proporcionar condições não ao alcance de outros que há
décadas desfiam as dificuldades em manter uma equipa de futebol feminino) abriu
novos horizontes para todas as jogadoras assim como aquando do anúncio da
criação de equipa no SL Benfica, a partir da próxima época.
Dizia acima, “assim tenham oportunidade
para tal” será o grande desafio. Não só dos clubes mas especialmente das
jogadoras. Os clubes porque têm que tentar todos os meios para gradualmente
proporcionar mais e melhores condições para que as jogadoras possam evoluir de
forma sustentada. Mas, se porventura os clubes conseguirem essas condições a
responsabilidade de saber tirar partido dessas mesmas condições será
exclusivamente das jogadoras.
É verdade que em
Portugal há jogadoras profissionais mas é ainda mais verdade que grande maioria não
o é. E, duvido, que num curto espaço de tempo este cenário se inverta. Não
porque as jogadoras não o desejem mas os clubes da Liga Allianz (já nem me atrevo a falar das restantes competições
seniores) dispõe de orçamentos muito limitados e não terão capacidade para
acomodar a rubrica “remunerações”. A realidade é assustadoramente oposta entre
clubes como o Sporting CP e o SC Braga (antecipo que seja semelhante no SL
Benfica) e os restantes clubes, a todos os níveis.
Obviamente, nem todas chegarão a
profissionais mas o comprometimento com a modalidade não pode depender somente
de uma eventual conjunto de compensações pelo esforço e dedicação. É que não
adianta "exigir" mais condições aos clubes, nem dizer que é preciso
mais treinos (ou outro tipo de apoio, e orientação) se as
jogadoras não derem o seu máximo e se empenharem seriamente.
E não me atirem já pedras nem me ofendam
porque sei bem que quem trabalha/estuda das 8h às 18h muitas vezes não tem
vontade sequer para ir treinar quanto mais empenhar-se a fundo. E quem trabalha
por turnos, com os ritmos biológicos todos alterados? Ou que tem que trabalhar
na véspera de um jogo (ou até mesmo na manhã do dia do jogo), não tendo o
descanso necessário para estar nas melhores condições no dia seguinte? Ou que
tem que viajar mais de 400 km no dia do jogo, com hora de início para as 15h? Sim,
todos estes cenários são a realidade da quase totalidade dos clubes que
competem na Liga Allianz mas algumas
variáveis dependem unicamente das
jogadoras: o empenho, orgulho e muita paixão pelo futebol. O caminho rumo ao
sucesso ficará invariavelmente mais curto. Ninguém diz que é um caminho fácil,
longe disso. Há que abdicar de um conjunto de coisas próprias da idade durante
o crescimento para se chegar ao topo. Mas quem define um objetivo e luta por
ele terá a recompensa no final. Até porque um outro fenómeno pode emergir de
forma galopante: a contratação de jogadoras estrangeiras para dar resposta
imediata aos objectivos delineados pelos clubes (esta reflexão fica para nova
oportunidade).
As seleções nacionais estão em franca
ascensão mas esse caminho só continuará com a cooperação dos clubes e de como
estes conseguirem cativar as suas jogadoras a manter o seu compromisso diário,
sejam elas amadoras ou profissionais (provavelmente estas terão
responsabilidade acrescida pois são o exemplo para as que um dia aspiram lá
chegar).
O futuro do futebol feminino nacional é
já amanhã, o sucesso vai depender da vontade e determinação das jogadoras em
ultrapassar obstáculos mas só será escrito de acordo com a capacidade de
sacrifico e superação desta nova geração.
Ou o futebol (como qualquer outro
desporto, colectivo ou individual), não dependesse dos seus atores principais:
os atletas.
(nota final: na próxima época a Liga feminina será designada
de Liga
BPI)
Texto publicado originalmente no sítio do Sindicato dos Jogadores.
Texto publicado originalmente no sítio do Sindicato dos Jogadores.
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